Amigos,
Abro espaço nesta coluna para uma homenagem e uma análise do
que considero ter sido o maior jogo da história. E sem maiores exageros. Não é
porque tive a felicidade de vê-lo ao vivo, aos meus 13 anos de idade. Mas, por ser
uma constatação minha, de 41 anos e que, para minha felicidade, o Esporte
Espetacular com Léo Batista, apresentou neste domingo, com muita competência e
praticamente assinando embaixo do que eu sempre disse, que aliás, os que me
conhecem sabem, pois já postei aqui algumas vezes e tive oportunidade de dizer
em programas de rádio e de televisão, dos quais participei.
O belo e quente domingo de sol não era só em Guadalajara,
era no Rio de Janeiro também, no bairro da Tijuca, junto ao Salgueiro, onde eu
morava. Aos domingos, sob intenso foguetório, àquela hora do almoço era sagrada
e às quartas, a do jantar. Belos dias, assim como o da final. Embora na final,
na Cidade do México tenha chovido na véspera da decisão e obrigado a seleção a
entrar de travas altas, o que os jogadores não gostavam, e Félix de luvas, que
sempre foi avesso.
Em 7 de Junho de 70 a briga era pra lá de cachorro grande. A
campeã Inglaterra tinha ainda mais conjunto e amadurecimento do que na
conquista em Wembley. Jogavam fino, com um futebol estratégico e craques do
quilate de Bob Moore, Bob Charlton, Francis Lee e Gordon Banks. A nossa seleção
todos já sabem.
Apesar da pouca idade, meu coração esteve disparado do
primeiro ao último minuto daquele jogo. E a história é esta mesmo, contada hoje
no programa que citei e que posto a seguir o link, naturalmente, para vocês
reverem. Vale demais à pena.
Emociona-me muito o depoimento do Ventura (nome que chamo
carinhosamente a Jairzinho, pois se chama Jair Ventura Filho). Lembro que há
cerca de 2 anos comentei com ele num restaurante do Leme-RJ, que o gol contra a
Inglaterra fora o gol mais lindo que vi na minha vida e que aquela bola só
poderia entrar exatamente da maneira que ele bateu. Lembro da sua alegria e
concordância imediata. “Era o único jeito de bater naquela bola e vencer aquele
monstro”, disse ele. Não acho que o gol mais lindo tenha de ser o golpe final,
até porque alguns são maravilhosos, mas caprichosamente a bola se recusa a
entrar, como foi o caso de Pelé naquele lance contra o Uruguai. O momento do
jogo, a jogada toda que começou com Paulo César tocando a Tostão, que com uma
genialidade fora do comum dribla com corpo e bola vários zagueiros ingleses,
incluindo Bob Moore, considerado o maior defensor do mundo, cruza de pé trocado
num giro que não existe em compasso ou transferidor e a bola cai no pé, ou
melhor, embaixo das travas do pé direito do deus do futebol, que com a tranquilidade
de um mito ainda atrai, com uma ginga de corpo, três beques ingleses para que o
passe chegasse no tempo e na dosagem de força certa a Jairzinho, que como um
furacão de técnica, força e habilidade, domina para bater exatamente no único
espaço que poderia, como disse acima. Um gol para lavar a alma. Um gol fora do
comum. E uma jogada que incorpora a este gol, a meu ver, a maravilha de todos
os tempos, pois é bom saber aqueles que pensam que o futebol começou há 10
minutos, que não vão ver mais um Pelé, dificilmente um Banks e com muita sorte
um Tostão, um Jairzinho, um Paulo César... E é bom deixar claro aos idiotas da
objetividade, como dizia Nelson Rodrigues, que por inveja dizem que era mais
fácil jogar antigamente, que havia nada mais nada menos, que 7 campeões
ingleses dentro da sua grande área e 3 na meia lua. Futebol antiquado, né? Mas
o paredão não resistiu ao talento, objetividade e genialidade daqueles pés que
dançaram naquele pequeno pedaço de tapete verde dos senhores empinados das
libras esterlinas.
Com certeza veremos belíssimos gols, como temos visto
através de Neymar e Messi, e como vimos de Ronaldo, Romário, Maradona, Zidane
etc. Mas foram gols individuais. Com a construção da jogada e finalização dela,
meu amigo, num trabalho de alto nível coletivo como aquele, creio que, sem
chance.
Ah, e eu ia me esquecendo, além do maior jogo e do gol mais
bonito que vi, foi o da maior defesa também. Gordon Banks desviou uma cabeçada
de Pelé, evitando o gol numa jogada veloz e extraordinária com uma conclusão de
estilo majestoso e fatal.
Para encerrar, que fique bem claro aos mais radicais, que misturavam
e misturam as coisas daqueles anos de chumbo, politicamente falando. Aquela
seleção, não era a seleção do Médici, não, gente. Era a Seleção Brasileira. A
seleção brasileira tricampeã do mundo, que jogava a serviço do esporte, do
futebol brasileiro. A maior seleção de todos os tempos.
Fui!
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