domingo, 30 de outubro de 2016

AS LIÇÕES DO MITO


E são muitas. À medida que se passa o tempo de seu falecimento, os momentos e lembranças mais adormecidos vêm à cabeça daqueles que o conheceram pessoalmente, que foram seus fãs, que viram o jogador Carlos Alberto, o homem Carlos Alberto.

Pessoalmente tive a oportunidade de conhecê-lo em um centro de futebol com o seu nome, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Lá também conheci parte de sua família, que tocava esse projeto do Capitão. Naquela tarde que passei ali deu pra perceber que não havia lugar pra invenção e teorias exóticas na formação e peneira dos craques e aspirantes a craques de futebol. Um ambiente muito simples, um campo de dimensões oficiais muito bem tratado e todos trabalhando com profissionalismo, simplicidade e respeitando as raízes do nosso futebol, como Carlos Alberto sempre respeitou.

Carlos Alberto tinha um biotipo até atípico para a posição que começou. Alto, forte, mas sem perder a agilidade, o jogo de cintura e a velocidade, que sabia usar quando necessário. Mas estes atributos físicos só ajudavam seu dom de nascença. Perfeito em todos os fundamentos. Os desarmes do Capitão não o obrigavam a sujar o calção. Eram cirúrgicos. Seguidos de uma condução de bola sempre na vertical. Uma colocação estupenda, uma antevisão das jogadas que só os grandes craques têm. Passes precisos, milimétricos e oportunos e finalizações que muitos atacantes do presente sequer conseguem enxergar. Não foi só pelo gol antológico que fechou a Copa de 70. O gol não se deu só pela violência do chute e porque Carlos Alberto pegou bem na bola. Aquilo aconteceu porque ele sabia como posicionar o corpo, sabia a distância correta da bola e a inclinação do tronco. Sabia tudo, como sempre soube.

Sinto pena e desprezo, ao mesmo tempo, pelas gerações do futebol atual que sequer se interessaram em saber mais sobre ele ou nem se manifestaram em homenagens a sua partida. A maioria dos clubes é que tomou a iniciativa. Eu conheço bem, porque treinei muitos jogadores, e ainda treino, a mentalidade de várias gerações pra cá. Muitos foram condicionados pelo mundo dos empresários e dos negócios. E deram entrada no mundo da bola através de estagiários de preparação física, apadrinhados ou mesmo preparadores físicos, entre outros. O boleiro, natural, é visto como dotado de pouca inteligência e desatualizado, por não falar bonito e não andar de terno, na maioria das vezes.

Há um padrão a ser seguido pra que o treinador ou quem ensina futebol no Brasil seja respeitado e entre na vitrine. Linguagem rebuscada e profundos estudos, além de um relacionamento extracampo que o façam respeitá-lo mesmo que não tenha alcançado glórias e feitos em seu currículo. Estas são algumas das razões, meu caro, do futebol brasileiro está revelando cada vez menos bons jogadores. Ou dizem que os descobrem quem nunca tocou numa bola de verdade. Quem não entende muito dela ou sequer jogou. Você contrataria um professor de piano para ensinar seu filho que não soubesse tocar piano? Pois é. No futebol não é diferente. Trata-se de um dom. Você descobre e aperfeiçoa um bom jogador. Mas você não cria e não inventa um bom jogador ou um craque. Jamais.

O maior dilema do futebol brasileiro atualmente ainda é este: a vergonha de assumir suas próprias características técnicas. Já disse aqui e repito (e Carlos Alberto várias vezes disse isso em programas na TV ou em conversas informais com os amigos): a técnica, a categoria, o drible, a ginga e a catimba, magias que nascem nos pés do jogador brasileiro, nascem nos pés de um Carlos Alberto, que veio da humilde Vila da Penha, não impedem que você monte um time competitivo e dinâmico. Jamais.

Carlos Alberto nos deixou também uma lição de comando. Comando sem arrogância, mas com muita autoridade, sem perder a humildade. Um comando que hoje ninguém quer assumir por vergonha de ser taxado de dono do time ou de corneteiro e logo em seguida passar a ser mal visto pelo grupo. Falta de personalidade que custa caro a esse jogador e ao elenco que ele participa. O trabalho da comissão técnica vai até certo ponto. E a partir daí, quem resolve, quem tem que ter a iniciativa de mudar ou não, é quem está dentro de campo. E essa iniciativa aflora normalmente no jogador, que hoje preferem chamar de atleta. Nomenclatura que eu abomino, porque um jogador é bem mais do que um atleta. E a palavra jogador não é pejorativa. Um pivô de basquete americano não é chamado de atleta. E entre jogador de futebol e jogador de pôquer não existe semelhança alguma.

Portanto, como Carlos Alberto nos deixou de exemplo: precisamos jogar o verdadeiro futebol brasileiro. Precisamos usar as nossas raízes. O futebol requer mudanças ao longo dos anos. Mas o talento jamais pode ficar em segundo plano. Senão você só vai ficar com atletas. 

terça-feira, 25 de outubro de 2016

O CAPITÃO ACIMA DA GLÓRIA


É muito difícil escrever nesse momento. É muito triste... O Capitão do Tri, Carlos Alberto Torres, assim como outros gênios e mitos do futebol, parecem que não morrem. Ou que nunca irão morrer.

Penso no último Domingo, no primeiro comentário no programa “Troca de Passes”, após a rodada do Brasileirão. O apresentador quase não abriu a resenha, repassando imediatamente a Carlos Alberto, que já começou sorrindo, um pouco diferente das expressões dos programas anteriores, que me chamavam atenção pela seriedade e aparente tristeza. Como conheci um pouco dele de perto e da arquibancada, talvez fosse por aborrecimento com mais uma rodada medíocre e a contragosto comentar o óbvio, como ele sempre dizia.  O fato me levou a dizer aos meus filhos naquele momento: “Está feliz hoje, Capitão? Que que houve?”, num tom meu de surpresa e brincadeira. Foi taxativo, preciso e não fugiu da bola dividida quando comentou sobre a pancadaria absurda de Flamengo x Corinthians, reclamou do pouco número de policiais, quando seu companheiro cronista interviu dizendo uma tolice: “Mas aí ficará mais caro, são mais gastos”. “Tira da renda, ué. Tira da renda do jogo. Vai deixar acontecer porque não sabem de onde vão tirar o dinheiro? Tirem da renda.”, disse o Capitão.

Carlos Alberto não era muito tolerante com tudo que fugisse ao bom futebol. Como ele dizia em off: “Não tenho saco”. E já dizia isso habitualmente, quando o destino me colocou algumas vezes, quando juvenil, treinando entre os goleiros do Fluminense, de todas as categorias, com os profissionais, como acontecia uma vez ou outra, em finalizações corriqueiras de final de treino, para ter contato com os jogadores principais. Nessa ocasião, já como zagueiro e não lateral do Fluminense, time de seu coração, o Capitão não participava muito das finalizações a gol porque já fazia dupla de zaga com Miguel e o lateral improvisado Rubens Galaxe. O treino coletivo acabava e ele normalmente ia embora. Consagrado, já era um professor e trocava correr atrás de pontas ariscos por uma zaga central, destilando jogadas e aulas primorosas de futebol, que depois repetiu no Flamengo antes de ir para os Estados Unidos e depois virar treinador. Para o capitão tudo tinha que ser simples no futebol. Ele era pura “anti-teoria”. Eu o vi dar o bicampeonato carioca desse modo, em 1984, ao Fluminense, já como treinador, diante do Flamengo de Zagallo.

O grande Capitão do Tri, que fez um dos gols mais antológicos da história, fechando a Copa de 70, começou a carreira no próprio Fluminense, indo depois atuar no Santos de Pelé, de onde seguiu para o Botafogo, retornou ao Santos, para, ao final de 75, voltar ao clube que o revelou. Assim como Nilton Santos, foi outra enciclopédia do Futebol Brasileiro. Há muito, mais muito o quê falar de Carlos Alberto e o que fez no futebol e fora dele. Acho que como comentarista, um dos seus últimos momentos de alegria foi na Copa de 2014, mas uma alegria por apresentar ao lado de Lothar Matthaüs, Passarella e Cannavaro, o especial da Copa do Mundo no Brasil. Alegria como esportista por estar ao lado de outras feras da bola, de outros países. Mas por dentro, com certeza, ele estava destroçado. Não parecia por causa de seu jeito “Xerifão”, porém Carlos Alberto se continha muito. Mas, tá uma barra. Tá difícil. Eu não estou conseguindo mais...


Vai, Capitão...Vai lá! Obrigado por alguns dos dias mais felizes da minha vida, como o 21 de Junho de 1970. 

domingo, 23 de outubro de 2016

... E DOMINGO AINDA TEM MARACANÃ


Ainda. O “New Maracanã” está de volta. Mutilado, inadequado às necessidades do torcedor brasileiro e principalmente carioca, contrariando tradições positivas, folclóricas e de raros momentos de felicidade dos que o frequentaram no passado, mas está aí, de volta.

O espetáculo em cartaz, pelo nome, tinha tudo pra ser dos melhores. Flamengo X Corinthians. Um lutando pelo título e outro renovado, de técnico novo, almejando a Libertadores. Um público que só não foi maior por causa das novas características do estádio que infringiram a lei. Se um patrimônio é tombado, não pode ser modificado. Mas, o Maracanã fica no Brasil, não podemos esquecer. País onde a justiça finge que existe, em sua maior parte.

Tudo começou mal antes da partida, com confusão fora do estádio e dentro, entre duas torcidas, que anos atrás se relacionavam em parceria, se atracando como animais irracionais. Ajudando aqueles que não querem ver mais um Maracanã cheio e a festa que se via. Afastando famílias e gente que quer se divertir e curtir futebol e não briga de gangues. O problema é antigo e embora complicado, eu sei, mais ainda envolvendo duas torcidas de massa, nunca teve atenção e competência necessárias das autoridades em todos esses anos para terem um planejamento e uma solução que dê segurança, proteção e respeite os direitos do torcedor.

O jogo em si foi carregado de emoções, sim. Mais pelos erros que as proporcionavam do que pelo talento e criatividade das equipes. Logo que rolou a bola se viu um Corinthians mais disposto e solto do que temos visto e um Flamengo com um sistema defensivo mal posicionado e com a primeira linha de marcação absolutamente tonta e dando botes no tempo errado. O Corinthians não demorou a se aproveitar disso num chute colocado de fora da área, que embora muito difícil de ser defendido, foi ajudado pelo erro de Muralha, não tão bem colocado no lance.

Pouco depois veio o gol de empate do Flamengo. Na jogada que desenhei aqui semana passada e expliquei o máximo possível. Só que o bandeirinha não viu ou não quis ver o claro impedimento de vários atacantes do Flamengo. Incluindo o do autor do gol, Guerrero. Com 1 X 1 e a torcida se animando, esperava-se uma virada.

Mas, o panorama do início do jogo não mudou. Marcio Araujo, William Arão e Rafael Vaz continuavam correndo atrás do toque rápido e envolvente de três, às vezes quatro jogadores do Corinthians, em velocidade no contra-ataque. O espaço era tanto, a desorganização defensiva e a afobação do Flamengo também, que o desempate não tardou, em uma jogada nesse estilo, bem trabalhada e veloz de Rodriguinho, com o passe de Romero e a conclusão tranquila do próprio Rodriguinho, colocando o Corinthians em vantagem novamente.

O Flamengo voltou ao segundo tempo com a boa substituição de Mancuello, perdido no jogo, por Fernandinho e começou com mais posse de bola e presença, embora esbarrasse em um cerco eficiente do sistema defensivo do Corinthians. Enquanto isso, Zé Ricardo custava a pensar na possibilidade de lançar Chiquinho no lado esquerdo, porque o garoto Jorge já não ia bem, sentindo cansaço e uma pancada. Mas, parecia que o Flamengo começava a dominar seus nervos.

A necessidade de, diante de sua torcida inflamada e fanática, corresponde-la já foi e é também responsável por muitas derrotas do Flamengo. O time se atira sem controle e sem planejamento ao ataque. Mas, Osvaldo de Oliveira contribuiu com a melhoria de posicionamento e lucidez do Flamengo no segundo tempo ao recuar um time que a toda hora levava pânico à perdida defesa rubro-negra. É incompreensível. Se Osvaldo montou o Corinthians daquele modo, qual a razão de puxá-lo demasiadamente pra trás no segundo tempo? Parafraseando o poeta Vinicius de Moraes: “Se foi pra desfazer, por que é que fez?”.

Não tardou, em um escanteio, a defesa do Corinthians ficar olhando e Rever se antecipar, para a finalização também de cabeça de Guerrero. Daí em diante o Flamengo acendeu e o Corinthians não chegava mais. Preso num sistema defensivo sem lógica, só dava Flamengo e por pouco o gol não saiu. Mesmo depois da bobagem da expulsão infantil de Guilherme, o Corinthians também teve duas ou três chances com seus atacantes sozinhos, que por absoluta mediocridade, não deram a vitória ao Corinthians.

Talvez o resultado tenha sido justo por duas razões: a um time pareceu faltar ousadia de vencer e ao outro tentar vencer de qualquer modo.

É isso aí!

domingo, 16 de outubro de 2016

NEUTRALIZANDO A “JOGADA FATAL”


As aspas, pessoal, na frase do título é uma ironia que faço. Não pensei que tivesse de resumir o futebol a uma jogada apenas. Paciência. É a realidade. Grandes times como Barcelona, Bayern, Real Madrid, raramente fazem uso dela. É a jogada pra chamada “hora do sufoco”, comum no passado, mas jamais de tão longe e feita com o pé relativo à posição da cobrança.

Fiz duas ilustrações mostrando uma forma usual e quase sempre errada por parte do sistema defensivo e uma forma que chamo de “mais complicada” para o cobrador da infração no caso. Lembro mais uma vez que é triste que um time de futebol que treina todos os dias não tenha variantes de penetração e setor criativo ofensivo, pois não há de faltar na história do futebol, nem hoje, nem amanhã, imaginação, talento e novas jogadas de penetração que levem um time às redes adversárias. Porém, estão escolhendo esse caminho de mão única, restrito e medíocre, que acaba ficando perigoso pelo erro ao neutralizá-lo.

Na Figura 1 mostro o posicionamento atual mais usado e repetido várias vezes durante os jogos, redundando ou não em gols. O erro consiste em colocar um marcador, que de tão mal posicionado não precisava estar ali, fora da curva da bola, o que serve de referência e ajuda o batedor, em ambos os lados do campo. Na figura 2, se houvesse um bom treinador e conjunto e sincronia, vez por outra a defesa poderia sair em bloco e com o impedimento neutralizar a jogada. Mas a qualidade que temos dentro e fora de campo não está permitindo isso na maioria das vezes.


Portanto, você tem que entender como bater numa bola. Tem que conhece-la na intimidade. E ter na mente a posição, o desenho e o modo treinado de bater na bola dos escolhidos para esse cruzamento. Usando como exemplo Scarpa, do Fluminense e Jean, do Palmeiras, dá pra você entender. Scarpa pega de lado, por dentro do pé, colocando efeito na bola com certa força. Justo pra ela morrer no ponto que ele quer e que os atacantes e zagueiros do seu time já conhecem.

Marcar essa bola depois de saída dos pés é ruim porque no “arranca rabo” de amontoado de jogadores acontece de tudo e você não pode deixar um zagueiro de sobra, senão trás a jogada mais pra dentro do seu arco. Aí, cobrar precisão de posicionamento da sua zaga é difícil, devido ao empurra e empurra, que lembra vagamente jogada de futebol americano.

Portanto, quanto por um lado, quanto pelo outro, ou você tira um ou dois jogadores que às vezes coloca para servir como barreira, mas na realidade ajudam na noção de força e curva do cobrador, ou você, de forma correta nas duas exposições que fiz, trás a sua barreira, pode ser um jogador, como fiz na figura do lado esquerdo, fora da diagonal da bola, como se o cobrador fosse dar um passe reto. Isso vai obriga-lo a mexer na força e no efeito que dará ao bater na bola, obrigando ela a morrer antes ou depois do ponto que deseja. Ou seja, vai complicar a curva e a trajetória da cobrança. Tira a referência do batedor.


No caso do lado direito, coloquei ainda outra hipótese, em caso até do time adversário colocar dois jogadores, um cobrando com a perna direita e outro com a esquerda, na bola. Se isso acontecer, mesmo um jogador com o mínimo de percepção sabe quem vai bater, pois o batedor precisa de alguns passos de distância para executar a curva que deseja. E usando dois na barreira, você fecha a cobrança com a trajetória por fora, como vê na linha pontilhada, também obrigando o cobrador a mudar seu modo de bater na bola e deixa, tranquilamente, essa brecha entre mais um, a pelo menos dois corpos de distância, que evita com que ele feche mais o cruzamento, pra não perder o perigo do caimento da bola. Ele vai ter que colocar mais efeito pra fazer a bola subir. E mais efeito, menos força. Menos força nessa jogada, menos perigo de gol no arremate. E se ele alterar a força, a bola vai ter que sair mais baixa, com menos efeito, dificultando a conclusão e facilitando a zaga adversária.

Sei que para muitos pode parecer complicado. Mas não é, é simples. E se não foi feito até hoje, creio ser por falta de observação dos treinadores, dos próprios jogadores e da perda de tempo com excesso de treinos teóricos, cheios de cones e mais cones, como num pátio do DETRAN.

Observação: sobre essa última rodada do Brasileiro e as confusões de arbitragem, prejudica daqui, rouba de lá, fica a pergunta: qual time não foi prejudicado ainda em algum jogo? Que tipo de arbitragem vocês queriam num campeonato tecnicamente fraco, ilusoriamente emocionante pela colocação e pelos esforços de alguns times, e dirigido por dirigentes que só podem acompanhar o Brasil dentro do país. Se ousarem por os pés fora do território nacional, vão em cana. Então, pergunto novamente: que tipo de arbitragem vocês queriam partindo dessa gente?

Abraços!

terça-feira, 11 de outubro de 2016

QUEM É LUIZITO SUÁREZ?


Um baita jogador. Técnico, veloz, excelente finalizador e muito inteligente. Não cabe julgá-lo por aquele lance inusitado e hilário contra a Itália, na Copa de 2014. E que não foi inédito em sua carreira. Ninguém sabe por que ele fez aquilo. Eu apenas suponho que seja um modo de extravasar a raiva, estranho e pessoal, quando algo lhe sai do controle. 

Mas, vale a pena prestar atenção e apreciar seu futebol. Passes precisos, participações ofensivas eficientes, movimentação constantes, um atacante contra o qual não desejaria que minha equipe enfrentasse. É complicado marca-lo. No mano a mano, não é aconselhável. Diante de tão poucas revelações e jogadores de primeira qualidade no mundo, é uma alegria ver o Uruguai dar ao mundo um jogador a altura de um Cubilla, de um Pedro Rocha, de um Forlán e tantos outros que esse pequeno país da América do Sul revelou.

Muita gente me perguntou por que a seleção brasileira melhorou tanto de uma hora pra outra e se isso se deve, de fato, a entrada de Tite. Prezados leitores, hoje o líder Brasil joga com vontade e com seriedade. E me parece que ouve e obedece ao seu técnico, criando um ambiente profissional e tentando valorizar a camisa da seleção.

Não creio que a questão fosse só uma arrumação tática, um novo esquema, um novo sistema de jogo, não. Tite não faz milagres e ninguém faz. Os adversários diretos caíram e, como disse, a seleção parece estar obedecendo a seu técnico e respeitando sua camisa. Por que não faziam isso antes? Porque jogavam mal, com displicência, desinteresse e às vezes pouco caso, o tempo dirá. A verdade chegará à tona um dia.

De qualquer forma, pra encerrar, nós não temos mais aqueles “Brasis” absolutos em campo e os adversários que nós temos enfrentado ainda não são de grande qualidade e não estão em seus melhores momentos. Eu citei antes de Tite entrar, em uma crônica, que ele parecia ser o próximo a ser chamado. E que se isso acontecesse, de início haveria uma boa melhoria. Mas, por enquanto, contenha-se. Parece apenas uma melhoria. Há muito a ser feito e corrigido. A começar pelo alto comando do futebol brasileiro num todo.

Aquele abraço!

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

ELIMINATÓRIAS EM CARTAZ NO MUNDO


De início, um recado a IFAB (International Football Association Board), órgão ligado a FIFA, pela infeliz iniciativa de legalizar a saída de bola do jogo com toque inicial livre, permitindo que seja para trás. Para quem se preocupa em tornar o futebol cada vez mais ofensivo, é um retrocesso de mais de 100 anos, mesmo que você, torcedor, pense que isso não tornará o jogo travado e defensivo, já é algo que convém ao anti-jogo.

Após muitos anos, está mais do que provado que a melhor defesa é o ataque. Portanto, lamento a decisão da IFAB em mais uma bola fora da FIFA, que, aliás, para quem não sabe, tem como presidente Gianni Infatino, sem nenhuma ligação com o esporte e com o futebol. É um advogado. Boa coisa não vem por aí.

Começando por Itália 1 x 1 Espanha, assistimos um jogo entre duas seleções tradicionais bem diferente das atuais características das duas escolas. A Itália, dona da casa, pecando pela falta de qualidade individual. Em alguns momentos ainda lembrava o seu jogo aguerrido e de força. Mas com muito pouca inspiração. Pouca coisa de positivo para acrescentar. Vale o registro da falha de Buffon, que com certeza não foi pelo peso da idade. Há erros que só o goleiro mesmo pode explicar. Simplesmente aconteceu.

A maior surpresa do empate ficou por conta de um pênalti muito mal marcado, inexistente, que deu o empate a Itália. Chamou atenção na partida o que eu chamo de uma nova Espanha. A Espanha do novo treinador Julen Lopetegui, retornou ao seu estilo de jogo de 15 anos atrás. De correria e força. Lembrando o da própria Itália. O estilo Del Bosque, de toque de bola, foi abandonado. Isso preocupa.

Apesar de precisar de uma renovação, não era o sistema tático espanhol que mais necessitava e sim a troca de alguns jogadores. Prova é que o estilo de toque de bola da Espanha, desde meados de 2010, vem encantando o mundo. E ela pode pagar um preço muito caro nessa readaptação que dificulta mais a qualidade do jogo que ainda exibia.

Na América do Sul, a liderança inquestionável do Uruguai, que continua um adversário difícil de ser batido. Mesmo não tendo feito boa partida contra a Venezuela. De qualquer forma, com a vitória, assumiu a liderança isolada das Eliminatórias. Com destaque especial para Suárez. Não reparem só na boa técnica e na raça que sempre exibiu. A inteligência e percepção de jogo não permitem um erro sequer da zaga adversária.

Indo a Brasil x Bolívia, em que pese a fragilidade do adversário, a eficiência  de jogo e seriedade da maioria dos jogadores já surte visível efeito. Na gíria, digamos, Tite está levando o elenco no papo. Com moral e se impondo como treinador, está tirando seriedade e passando tranquilidade como vocês viram hoje diante da fraca Bolívia.

Apesar de falhas bisonhas de marcação da Bolívia, o Brasil fez algumas jogadas de alto nível técnico que em alguns momentos lembraram seleções vitoriosas. Mas apenas lembravam. Eu frisei que esperava isso nos primeiros jogos. E que a mentalidade do comando maior do futebol brasileiro, aliada a alguns erros de concepção de Tite, principalmente em relação à armação do meio campo (não cabem jogadores do nível de Renato Augusto jogarem tão recuados e de Lucas Lima ficar de fora), trarão problemas diante de adversários mais experientes e bem posicionados.

Em jogos onde houver times de maior expressão com padrão de marcação eficiente e forte, não teremos esses espaços e essa facilidade de saída de bola para construir jogadas com Neymar e Jesus. Por certo eles serão bem marcados.

Portanto, é bom e bonito ver o Brasil jogar melhor e um Neymar se comportar com maior profissionalismo, tendo inclusive levado uma agressão que merecia a expulsão do adversário. Mas, no futuro, não esperem sempre campos floridos. É bom contar com os espinhos que virão e só com eles poderemos confirmar nosso retorno ao hall dos favoritos. 

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

ELES ESTÃO JOGANDO FUTEBOL


Numa rodada atípica, com início no sábado e apenas um jogo hoje, Santa Cruz X Palmeiras, devido às eleições municipais que, embora marcadas, num sistema eleitoral esdrúxulo há muitos anos, se deram diante de um país sem leis e credibilidade. Tanto dentro, quanto fora do Brasil. E o futebol não é exceção.  

Até porque, a maioria dos que sobraram da CBF são golpistas natos e outros, até procurados pela Justiça no exterior. Mas, falemos do assunto que comecei a abordar, porque certas pessoas no Brasil, diante do sistema atual, que é uma velada ditadura, não são acusadas e não vão para a prisão.

Devido as tais eleições que mencionei, tivemos vários jogos no sábado. Ainda tentando copiar um modelo europeu que não se encaixa ao nosso, com jogos de manhã, de tarde e de noite. Quero aproveitar para destacar nesta rodada, dois jogadores que já vem se destacando há várias. Gustavo Scarpa, do Fluminense, e Robinho, do Santos. Começando por Robinho, que como disse semana passada, não entendo porque Tite não o convoca. Jamais aceitarei que o peso da idade restringiu seu futebol. Porque inclusive isso não está sendo demonstrado com suas atuações no Atlético MG.

É até uma pena que o Atlético não tenha um sistema defensivo muito bom. Embora tenha um técnico bem razoável, que é o Marcelo Oliveira. Porque, do meio para frente, o Galo tem feito jogadas trabalhadas, de grande ofensividade e contando com a qualidade de finalização de Fred e Robinho, por exemplo. Robinho dá gosto ver jogar. Joga com alegria, objetividade e talento. Levando ao desespero várias zagas adversárias. É uma alegria poder vê-lo em campo.

O mesmo posso dizer de Gustavo Scarpa no Fluminense. Que embora jogando em outra posição e sendo bem novo ainda, com 22 anos, já ajudou a dar ao Fluminense, pelo menos, uns 12 pontos na tabela de classificação. E a esta altura, a um passo de uma vaga na Libertadores. Tanto em bolas paradas, no caso dos cruzamentos, ainda não neutralizadas pela falta de percepção dos treinadores adversários e que geram gols como aquele contra o Corinthians nos acréscimos, como nas cobranças de falta diretas, no desarme, na armação ofensiva e na finalização, como fez nesse sábado, marcando um belíssimo gol na vitória sobre o Sport por 3 x 1. Gol de categoria, de confiança, de quem sabe jogar.

Vale registrar que o embora o Fluminense não desenvolva um futebol do nível do Atlético MG, quem escolheu Levir Culpi para o Fluminense, acertou em cheio. E mais ainda quem o manteve quando decidiu deixar o clube após um mau resultado. Não sei o que trataram, o que foi dito e informado nessa reunião, mas sei que a sua manutenção é hoje responsável por muitas vitórias do Fluminense.

Aproveitando a juventude e os reforços que chegaram, Levir arma o Fluminense da única forma que pode ser armado, tornando-o um time difícil de ser marcado nos contra-ataques e usando uma marcação que mesmo com falhas bisonhas vez por outra, acaba se superando pela luta e disposição com que encara cada partida. Não será surpresa alguma se o time do Fluminense figurar entre os classificados para Libertadores.

Fechando à crônica, já que citei a Libertadores, meu lamento a mais uma notícia triste a respeito dela. A exemplo da Liga dos Campeões na Europa querem estendê-la paralela aos campeonatos regionais e nacionais até o final do ano. Com certeza é uma medida comercial, seguida de mais um golpe fatal no famoso esporte chamado futebol. Deus permita que os gênios que comandam a Libertadores não tenham sucesso em mais um atentado a bola e ao torcedor.

Uma boa semana!