terça-feira, 27 de março de 2018

ALEMANHA 0 x 1 BRASIL: O DRIBLE MOSTRA O CAMINHO


Ainda que tardiamente, ao meu ver, o Brasil começa a enfrentar adversários que são testes mais abrangentes. Defendi aqui que havia uma grande quantidade de experiências contra time sul-americanos e raras contra outras escolas do mundo. Já passamos pela Rússia e hoje uma Alemanha bem diferente da última que enfrentamos e que nos impôs o maior castigo da história. No entanto, uma Alemanha que mesmo em evidente renovação, mesclada por reservas já ambientados, começava o amistoso com aquela rígida e estratégica distribuição tática, abafando com a marcação os espaços da saída de bola brasileira. Forçando erro, como fez a de 2014. Porém, cada jogo é um jogo. A saída de bola hoje era melhor e o ataque Alemão não tinha entrosamento e qualidade como aquele. Justo por isso, as finalizações não aconteciam. Por parte do Brasil muito menos, que tinha Gabriel Jesus isolado e Philippe Coutinho mais ou menos que fazendo a função de Neymar. Até os 12 minutos do primeiro tempo, a Alemanha era melhor e até os 27, já tinha tido 3 oportunidades claras de gol. Até que numa bola despretensiosa, Coutinho fez uma boa jogada individual deixando um pouco assustados os alemães. Pouco depois, William faz a mesma coisa pelo lado direito. Os alemães sentiram que havia algo que eles não podiam deter, a magia da arte do drible, que logo a seguir veio dos pés de Gabriel Jesus, deixando sentado dois zagueiros alemães e finalizando com infelicidade uma bola que teve calma para concluir. Logo foi premiado, 1 minuto depois, com um cruzamento aberto pela clareira que o drible abre e sempre abriu em defesas fechadas no futebol. A cabeçada só não foi mais certeira porque não é seu ponto forte, mas foi suficiente para colocar o Brasil na frente.

Daí até o final do jogo, O Brasil continuou fazendo uma boa partida, com seriedade e algumas tímidas jogadas individuais, mas fazendo-as, como fez Douglas Costa, acertadamente escolhido por Tite, que quase leva ao segundo gol em velocidade. Nosso time marcava bem, com exceção da permissão inexplicável de cruzamentos perigosos que podiam ter mudado o rumo do placar. Se a zaga se comportava bem pelo alto, os cruzamentos não podiam partir com essa facilidade. E a Alemanha de Joachim Löw já havia deixado claro que partiria para essa tentativa do antigo futebol pelo alto. Mas mesmo ganhando uma jogada ou outra, perdeu na cabeça quase todas, mostrando uma defesa muito bem treinada pelo alto e um goleiro excepcionalmente bem treinado, mostrando colocação, serenidade e comunicação com a zaga. Gostaria de ter visto Renato Augusto jogar, como prefiro alguém mais técnico que Casemiro.

E hoje, na minha ideia, não vejo como o Brasil atuar na Copa do Mundo com Marcelo de um lado e Daniel Alves do outro. Ou um ou outro. E o outro não precisa sair, pode emprestar sua qualidade de marcação e sua técnica (que aliás os dois tem) para jogar na meia defensiva na vaga de Casemiro. Outra vaga que tem de ser preenchida é a de Firmino. Temos gente melhor até aqui mesmo no Brasil.

Sobre Neymar, não esqueci não. Mas não há como dizer que seria um jogo mais fácil para o Brasil, apesar de sua característica individual e sua técnica fantástica. O comportamento Alemão seria outro e o nosso também. Por isso que acredito que esses testes deviam ter acontecido há mais tempo. Falta muito pouco tempo para Copa. Em todo caso, a exaltar a confiança da equipe, a serenidade e o aparente profissionalismo e competência de toda comissão técnica. Sem esquecer que Copa do Mundo é Copa do Mundo.

Abraços

P.S: destaque para a Espanha goleando inapelavelmente a Argentina. Seria o fantasma de que todo time campeão ou vice, na Copa seguinte se desmancha? Ou a certeza da equipe errada em mãos erradas como é o caso de Jorge Sampaoli, quando a Argentina tinha e tem técnicos muito mais qualificados e identificados com seu futebol. Vamos ficar de olho na nova Espanha.

sábado, 24 de março de 2018

AS PRELIMINARES DA COPA DA RÚSSIA



Tivemos uma rodada ontem no mundo entre camisas famosas e seleções de primeira linha. Vou abordar um pouco de Brasil 3 x 0 Rússia: o jogo começou complicado e com dificuldades para seleção brasileira. Apesar da marcação bem feita, toda ela a partir do campo Russo, o Brasil também tinha a serenidade necessária para trocar passes quantas vezes fosse necessário, rodando a bola e tentando achar uma saída para o ataque. Como não tem um meio de criação específico, Marcelo, Miranda, Paulinho e às vezes Thiago Silva não conseguiam romper a linha média. A Rússia marcava firme. Em algumas tentativas, visivelmente sentindo a ausência de Neymar - que além de ser a estrela do time é o jogador que segura a bola lá na frente e cria - a falta de saída para o campo ofensivo propiciou a Rússia mais chances de gol que o Brasil na primeira etapa. O time Russo só não abriu o placar por falta de qualidade e inexperiência de seus finalizadores. A partir da segunda etapa, a coisa mudou de figura, quando permitiram que Thiago Silva se antecipasse a zaga - algo raro nos tempos da antiga União Soviética – e o goleiro Akinfeev desse rebote e Miranda abrisse o placar aos 7 minutos. Ficou claro o banho de água fria na equipe Russa, que não demorou a tomar o 2º e 3º gol, com Coutinho de pênalti e Paulinho numa bela e oportuna jogada de William, fazendo o individual e deixando Paulinho livre para selar o placar. O aprendizado de ontem fica por conta das dificuldades que cito muito aqui que serão as opções de criação ofensivas para abrir caminho contra marcações e defesas mais coesas. A Rússia dos velhos tempos seria um excelente teste, mas desde a transformação para a atual, o futebol deles perdeu em competividade e força que eram suas duas costumeiras armas. Vejo a Rússia fraca e inexperiente nessa Copa. Mas joga em casa e tem preparo físico. Deve avançar até onde puder. 

Lembrando rapidamente sobre Argentina 2 x 0 Itália com um amistoso que serviu mais para entrosamento Argentino, pois com a desclassificação, a Itália entrou em queda livre e renovação total. Talvez atravesse um dos piores momentos técnicos de seu futebol nos últimos 60 anos. Já a Inglaterra se impôs e na força derrotou a Holanda, também fora da Copa, por 1 x 0. Portugal penou, como creio que vá penar na Copa do Mundo, para vencer o Egito, com uma equipe aguerrida e bem distribuída em campo, além do talento de Mohammed Salah. As duas últimas campeãs mundiais, Alemanha e Espanha, mediram forças em Düsseldorf e não saíram do empate por 1x1. As duas seleções também se renovam, a Alemanha com mais cartas na mesa e a Espanha dentro do que pôde revelar. Além desses houveram outros amistosos de seleções classificadas para Copa. 

Mas o que mais me chamou a atenção foi jogo entre Colômbia 3 x 2 França. Me agradou muito a movimentação e maturidade das duas equipes. Um pouco mais a Colômbia que com justiça saiu com a vitória numa linda virada. A França começa a amadurecer a geração que vem trabalhando há 4/5 anos. Já mostra recursos técnicos, marcação e uma movimentação ofensiva forte. Apesar de derrotada, ainda vai melhorar muito e vai ser duro vencê-la na Copa. Já a Colômbia, uma surpresa total. Recuperando-se de uma recente queda de rendimento, o time Colombiano sob o excelente comando de José Pekermann, mostrou um esquema tático brilhante, com uma movimentação intensa, tanto a partir de seu campo quanto na saída da roubada de bola. James Rodríguez voltando a ter momentos de craque e a equipe inteira coesa, amadurecida e extremamente compacta. A Colômbia está num de seus melhores momentos e deve melhorar ainda. Pelo que assisti, não tenho dúvidas que, seguindo essa trilha, a Colômbia vai surpreender muita gente e dividir espaço com as primeiras colocadas. Vamos aguardar e conferir. 

Um abraço a todos!


domingo, 18 de março de 2018

POR QUE ESTÃO SUMINDO OS CRAQUES DO ESPORTE?




O leitor deve ter estranhado uma foto de basquete junto a do futebol. É que apesar da coluna tratar de futebol, achei interessante fazer um paralelo com outro esporte também famoso no mundo inteiro. Falo sobre a escassez, que não é apenas nacional, mas mundial, de novos talentos e estrelas, principalmente nos esportes coletivos. Pensamento reinante das crônicas, resenhas e outros meios de comunicação acusam questões táticas, como o avanço da marcação através da força. Primordialmente abordam que a arte está sendo desbancada e destronada pelo poder de força, tática e estratégia coletiva de impedir que ela apareça. Existe, sim, um componente de maior rigor de marcação e força. Mas aí fica a pergunta: a força avança e a arte estaciona? Cansei, ao longo dos anos, de ouvir: “não há mais espaço para o talento e para a arte em campo”. Sempre discordei e sigo discordando. A arte não precisa de espaço. Quem necessita dele é o menos dotado dela, que faz uso da força para abrir caminho. Portanto, a diminuição de espaço no esporte prejudica quem tem menos talento e não mais.

Porém, um dos dados mais importantes é o aspecto cultural e educativo. As duas fotos acima demonstram um pouco o que quero dizer, o paralelo que quero traçar. Ele passa pela mudança do perfil do atleta e do aspirante a atleta. Sua formação, instrução, os ensinamentos que aprende e a globalização que o cerca. Ou seja, independente de técnica e força, o jogador já não é mais o mesmo. Seu perfil não é mais tão profissional como alardeiam. E o curioso é que o que dita as competições hoje em dia é exatamente a moeda. Reparem a interação, até uma certa ousadia e um certo deboche desses jogadores do São Paulo em relação à torcida. Em comemoração a um gol ou não, isso não existia há décadas atrás. A atitude deles abre espaço para uma intimidade que não havia, na qual o torcedor do próprio time se sente no direito de cobrá-lo e o adversário de odiá-lo mais ainda. Não convence a ideia de que a torcida já sabe participar e está acostumada a isso. Nem todo público lida com essas brincadeiras da mesma forma. E, naturalmente, esse comportamento veio de uma exploração da mídia e do marketing no esporte.

Esta interação, por exemplo, atinge até o famoso “basketball” americano que também se vê em apuros, contando nos dedos as revelações que surgem. Padecendo também deste “mal social”, digamos assim. E olhem que nos EUA o basquete é muito mais organizado e planejado que o futebol no Brasil. Mas as quadras a céu aberto, os espaços vazios do Harlen, a miséria no mundo, a necessidade de subsistir e se colocar, tira o tempo do molequinho que faz suas artimanhas e molecagens girando no ar, arremessando de costas, como se brincasse de jogar basquete. E é daí que surgem os craques que vão se aprimorando através de repetições, conselhos, e mais repetições e aprimoramentos.

O mesmo não acontece mais aqui, a tecnologia dos celulares, headphones, da linguagem escrita e até por mímica vai substituindo a comunicação necessária ao ensinamento de base. Ninguém aprende coisa nenhuma num joguinho de celular ou de videogame. Além de ficar muito tempo preso a ele e pouco tempo agarrado a uma quadra de basquete desgastada ou um campinho careca de várzea. As peladas estão ganhando piso de grama artificial. É quase um outro jogo. A diferença é muito acentuada para quem conhece e já jogou. Finda um treino coletivo, a maioria vai para casa.
Para seus compromissos midiáticos, sociais e, em alguns casos, por questões de segurança mesmo. Não podem fazer como um Michael Jordan e o Oscar, repetindo centenas de arremessos até chegarem perto da perfeição. Não podem repetir Pelé, executando os fundamentos de seus dotes, Rivelino e Zico aparfeiçoando dezenas de vezes passes e cobranças de falta, além de repetições dos gestos específicos de um jogo de futebol ou mesmo de basquete.

Por isso, você vê com raridade um Vinicíus Jr. entrar num jogo, como contra o Emelec pela Libertadores e decidi-lo individualmente. É um dos poucos que surgiram com a raíz do nosso futebol nas veias e ainda se mantém intacto. O drible, a finta, a ginga, o passe inesperado, a malandragem, a precisão, enfim... qualidades que você não vê com tanta frequência nem no basquete e muito menos no futebol. Hoje você já começa a se acostumar com erros seguidos por falta de técnica no basquete e em outros jogos, e chutes na arquibancada, erros infantis de passes e finalizações a gol que, como dizem, folcloricamente, “este até a minha mãe fazia”. Falta arte, falta profissionalismo, falta diversão. E uma hora, por causa disso, vai acabar faltando dinheiro.

Boa semana!



domingo, 11 de março de 2018

UM GRENAL NÃO COMO OS DO PASSADO, MAS COM MUITA EMOÇÃO E LUTA

Lucas Uebel / Grêmio FBPA

Vamos à Porto Alegre hoje desfrutar do Estádio Beira Rio com um público à altura de seu principal clássico, Grêmio X Internacional, vencido pelo Grêmio, por 2 X 1. Fora o Estadual de São Paulo, que ainda goza de alguma credibilidade e onde o que resta de recursos financeiros do futebol brasileiro está e justo por terem elencos como o do Corinthians, do Palmeiras e também do Santos ainda conseguem bons públicos e alguns jogos razoáveis de se ver. Mas não passa disso.

No Rio de Janeiro, já venho destrinchando aqui, é uma tragédia. Hoje mesmo assistimos à Fluminense X Nova Iguaçu, no Maracanã. Se você não entendeu, eu vou repetir: Fluminense X Nova Iguaçu, no horário nobre, no descaracterizado Maracanã, com um gramado recheado de surpresas como buracos e desníveis acentuados pela má qualidade de seu tratamento. Sobre o jogo, não vale à pena falar. A quantidade de torcedores no estádio, creio que não chegaram à 10 mil, espelham o fracasso melancólico e deprimente desse modelo de campeonato e seus organizadores.

Mas, voltando à Grêmio X Internacional, como me referi antes, se não houve a qualidade técnica dos tempos de Ancheta, Tarcisio, Renato, Falcão, Carpegiani, entre outros, houve um bom público pela rivalidade, que foi a palavra responsável pelo jogo ter prendido a atenção do torcedor, até de outros clubes, nos 12 minutos de acréscimos. Muita catimba, reclamações e jogadas ríspidas, como é comum nesse jogo. Mas a vantagem do Grêmio na primeira etapa, que poderia ter sido maior, jogando um futebol mais solto, explorando a falta de cobertura da zaga do Inter nas laterais, com dois gols de Luan, foi decisiva para o resultado final.

No segundo as coisas mudaram. O Inter, na base da raça, empurrou o Grêmio pra trás, que por sua vez aceitou o recuo e o gol de Rodrigo, do Internacional, acendeu o time colorado. Daí pra frente, deu pra perceber que além de D’Alessandro, um craque, notava-se alguma categoria em pelo menos mais dois jogadores do Inter pelas jogadas de alguma qualidade que executavam e só não levaram o clássico ao empate devido ao maior conjunto do Grêmio, sua postura defensiva mais firme, embora abusando dos erros e dos espaços e de um Inter a cada minuto mais ansioso e sem paciência para trabalhar a bola, que certamente o levaria a um empate, que, na soma de tudo, não teria sido nenhuma injustiça.

O Inter precisa ter, de agora em diante, mais paciência no comando da equipe. Tentar a contratação de ao menos mais um armador e um homem de área. Assim como Grêmio decidir romper essa barreira de apenas um bom time, bem entrosado e difícil de ser batido. É muito pouco, Renato. O Grêmio tem de ter mais qualidade também.

Abraços e boa semana!

quarta-feira, 7 de março de 2018

FUTEBOL DE FATO ESPECIAL: A ANÁLISE PERFEITA DE DUAS FERAS DO FUTEBOL



Prezados,

Tive o prazer imenso de ler estas duas crônicas do técnico Vanderlei Luxemburgo e do craque Paulo Cezar Caju. São tão lúcidas, visionárias e realistas, além de irem ao encontro 100% com o meu pensamento no futebol atual que não há como não homenageá-los republicando, neste meu espaço, pensamentos tão de acordo com o verdadeiro momento do futebol brasileiro.

Então, a vida segue no futebol…
Luxemburgo: O experiente não está acabado. Experiência é sabedoria. Os jovens têm que conquistar espaço. A minha briga era com Telê Santana, com Zagallo, Parreira, Rubens Minelli, Ênio Andrade, e eu ocupei o meu espaço. Esses que estão aí não podem ocupar espaço porque a mídia falou depois da Copa que tinha de fazer renovação. O 7 x 1 foi um caso à parte. A renovação ocorre por competência, não por imposição. Quero voltar e mostrar que o resultado não pode radicalizar nada. O moderno não está no novo.

Você está atualizado?
Luxemburgo: Eu trouxe benefícios para o futebol. Se você pegar a Globo hoje… Estamos em 2018. Ela coloca o Caio e o Júnior lá naquele campo de futebol. Em 1993 ou 1994, eu criei um programa de futebol. A ideia era tirar o time de botão da mesa e colocar no computador. Foi evoluindo até ficar animado. Existe até hoje. Monto a tática como se fosse um jogo de futebol. Eles passam isso, hoje, como se fosse uma novidade. Como eu posso ser um cara ultrapassado se, nos anos 1990, eu criei isso? Analista de desempenho eu já usava. Eu peguei um cara da Folha de S. Paulo, que trabalhava com scout. Contratei pra trabalhar comigo. Tinha equipe de filmagem, ponto eletrônico. Eu mostrava tudo o que estava acontecendo em campo para o meu jogador no intervalo, no telão, dentro do vestiário. A minha cabeça é de buscar novidades. As pessoas me chamarem de ultrapassado é muito pesado e covarde.

Está mais difícil montar um timaço?
Luxemburgo: Tirando o Neymar, que é diferenciado, qual jogador brasileiro, hoje, dribla? Quem limpa a frente, faz alguma jogada de efeito e mete na cara do gol? O Vinicius Júnior, você não vê porque está no banco, não joga. As pessoas batem muito em sistema tático, mas falta jogador.

Não há inovação tática, então…
Luxemburgo: Falam muito em 4-2-3-1, em 4-1-4-1, isso não é moderno… Em 1970, o Brasil ganhou a Copa no 4-2-3-1. O que o Messi fazia como falso 9 no Barcelona, o Tostão fez em 1970. Terceiro zagueiro? O Zagallo usou o Everaldo como espécie de terceiro zagueiro para liberar o Carlos Alberto (Torres). Ele jogava com dois volantes no 4-2-3-1: Clodoaldo e Gerson. Na linha de três, Jairzinho, Pelé e Rivellino. Só mudaram a nomenclatura. Isso é moderno?

Mas não seria bom um intercâmbio?
Luxemburgo: Por que eu tenho que fazer curso na Europa? Por que a Europa não vem aprender aqui? Não temos que imitar o futebol europeu. O que nós temos de diferente, eles não têm, que é o drible, a mudança de direção. Jogador brasileiro precisa, sim, de responsabilidade tática, mas sem prostituir as nossas características. Não podemos virar times de robôs.

Gestão de vestiário é um problema?
Luxemburgo: Vamos lá… O jogador é evangélico. Mas tenho evangélico, católico, macumbeiro… O evangélico não gosta de palavrão. Aí, eu vou ter que dizer pra um: “c…, você tem que marcar aqui”. E para o outro, “por favor, você tem que fazer isso aqui”. Isso não é futebol. Ali não tem gestão de vestiário para pessoas, grupos diferentes, é para o futebol. Ali é: “C…, vai tomar no…” Começaram a falar em gestão de vestiário porque tem grupos com interesses.

É impossível cobrar sem xingar?
Luxemburgo: Não é que eu seja mal-educado ou não respeite ninguém, mas o linguajar do futebol é com palavrão. Eu não vou mudar a minha essência.

A seca de títulos brasileiros o incomoda?
Luxemburgo: Querem que eu ganhe título de manhã, de tarde e de noite. Um bom trabalho, hoje, é levar um time para a Libertadores, mas eu não posso só levar um time para a Libertadores. Tenho de ganhar títulos. Sou cobrado como incompetente, mas não é isso. O Telê Santana foi campeão brasileiro em 1971. Voltou a ganhar em 1991, no São Paulo.  Amargou resultados ruins, tomou porrada, fizeram Telê com orelha de burro. Sacanearam com ele. Eu e o Felipão, que trabalhamos no exterior (Real Madrid e Chelsea), somos execrados no futebol mundial.

Você erra? Qual foi o último erro?
Luxemburgo: Talvez, o meu erro foi ter ido para um lugar onde iriam me cobrar o que eu não poderia entregar. O Sport tinha estrutura para eu desenvolver a proposta? Eu queria deixar o Sport entre os 10 melhores do país. Mas é preciso investimento. As escolhas são os meus maiores erros.

Tite vai ganhar a Copa?
Luxemburgo: Hoje, se eu fosse a CBF, renovaria o contrato com o Tite até 2022. Independentemente do que vai acontecer (na Rússia). Ele é muito bom. O Brasil vai ser campeão nesta Copa ou na próxima.

Ele foi o seu maior rival?
Luxemburgo: Não, foi o Felipão. Porrada o tempo todinho eu e ele. Em 1995, aquele v… (risos) me deu um chute no traseiro na semifinal da Copa do Brasil entre Flamengo e Grêmio. Ele é meu amigo, mas é louco. Fez estágio comigo lá no Vasco. Ele é intempestivo. Fui falar uma coisa com ele e deu naquilo.

As críticas ao Neymar são justas?
Luxemburgo: O Pelé foi chamado de míope, não poderia jogar uma Copa. Aqui no Brasil é assim. O Neymar, ou ganha esta Copa para o Brasil ou a próxima. Anota e cobra. Essas porradas que ele está tomando vão fazê-lo repensar um montão de coisa. É um excelente menino, um baita profissional. Não é bandido. É um menino ganhando muito dinheiro e que quer viver a vida. Treina pra caramba.


Zapeando,
por Paulo Cezar Caju.
O controle remoto tem sido um grande parceiro nos últimos tempos, porque tem me livrado de algumas roubadas. Racing x Cruzeiro foi uma dessas. Assistir ao azulão levando de quatro não foi bom. O camisa 10 dos argentinos fez três e comemorou com a garra típica dos hermanos. Eles jogam com alma, não há dúvida.
Dei uma zapeada e fiquei impressionado com a quantidade de programas de culinária. Tinha um que chamava-se “Pesadelo na cozinha”. Mas pesadelo viveu o Flamengo, que empatou com o River em casa. Parei um pouco no canal quando o goleiro do Flamengo se explicava. Como os goleiros do Flamengo se explicam! Os comentaristas falavam mal de Carpegiani, que mexe mal, essas coisas. Ué, mas ele não era a salvação?
Alguém disse que o Éverton Ribeiro é a contratação mais cara da história do Flamengo, isso é sério? Quanto custou um Sócrates, um Pet? Lembro que um grupo de investidores se uniu para me contratar, tinham dois bancos envolvidos e o Carlinhos Niemeyer, do “Canal 100”, e o Walter Clark, da Globo, se mobilizaram. Deve ter dado algo em torno de US$ 1 milhão. Os tempos mudaram e os valores, em todos os sentidos, são outros.
O Grêmio empatou com um time fraquinho. Zapeei. “Hotéis incríveis” me prendeu um pouco, afinal sempre gostei de viajar... “Mude o seu look” me segurou mais tempo ainda, porque sempre me vesti com extravagância. É sério que o Gum ainda é titular da zaga do Flu?
O Santos, de Jair Ventura, empatou com o Corinthians, e na coletiva ele disse que armou um esquema para vencer em jogadas de bola parada. Acho ruim ouvi isso. A Globonews fala sobre intervenção. Meu Deus, o que fizeram com a minha cidade? Intervenção deveria haver no futebol, que põe Phil Collins no Maraca e Fla x Flu na Arena Pantanal.
Fluminense e Volta Redonda arrastaram 600 e poucos torcedores para um jogo tenebroso. Novela, eu passo direto. O Vasco virou em cima do Boavista. Sete gols e um jogo-granja, cheio de frangos. Zapeio.
No Sportv, começa Junior Barranquilla x Palmeiras, e no canal Viva passa “Os Trapalhões”. Dada a truculência de Felipe Melo, escolho a poesia de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Largo o controle no chão e não saio mais dali.

domingo, 4 de março de 2018

A LESÃO DE NEYMAR E O DEPRIMENTE CAMPEONATO DO RIO DE JANEIRO


Peço ao leitor, antes de mais nada, que tenha paciência com a maioria das crônicas que escrevo abordando aspectos negativos do futebol. Mas, é um compromisso meu com vocês, e da minha coluna “Futebol de Fato”, abraçar, perseguir, incansavelmente, a verdade dos fatos. Seria estúpido da minha parte ou demagógico, transmitir aquilo que não acontece. Ou apenas que gostaríamos que acontecesse. Bem mais distantes ficamos de uma solução.

De início escolhi abordar o que vi hoje pelo campeonato estadual do Rio de Janeiro no jogo Fluminense 2 X 1 Volta Redonda, disputado em Xerém, estado do Rio, no “estádio” de Los Lários. Coloquei o estádio entre aspas porque você, leitor e amante do futebol, torça pra que time torcer não merece assistir a uma partida em um espaço improvisado, deprimente daqueles. Pra piorar mais ainda, encharcado pelo aguaceiro que caiu na região.

Sobres os dois times prevaleceu o de maior força, maior investimento, tradição e jogadores. Embora por um placar apertado e sem demonstrar um elenco sequer  10% próximo aos que apresentava há anos. E mesmo assim passando apertado, com o já desgastado treinador Abel na casa, tendo de frear o jogo com substituições nos últimos 20 minutos. Maiores detalhes, como pênaltis mal marcados para ambos os lados e absoluta falta de qualidade técnica e um “estádio” às moscas não creio que mereçam maiores comentários. Alguém tirou algo positivo desse jogo fora o Fluminense no avanço da tabela?

Sobre Neymar, não há necessidade de falar muito porque a mídia o tem feito com uma frequência tão desproporcional que nem parece por se tratar de ibope, mas absoluta falta de assunto mesmo. Ou tentando criar uma expectativa e um suspense que envolvam o povo brasileiro, hoje, no futebol, absolutamente desconectado com a Copa do Mundo que nos aguarda.

Ao ver as cenas de Neymar, ultimamente, lembro de Pelé na Copa de 62. Ao distender a virília no segundo jogo e ficar o restante da Copa do Chile de fora. Sem levar em conta a propagação da tecnologia de 1962 para 2018, imaginem se fosse hoje, com Pelé. Neymar é um jogador jovem, o maior em atividade do futebol brasileiro, e perde-lo numa Copa é impensável. Acho muito difícil isso ocorrer, embora não seja médico traumatologista, baseado nas próprias declarações desses profissionais.

E desejo também a recuperação do craque, que provavelmente irá acontecer. Mas, faço um alerta: desde o ano passado eu venho chamando a atenção sobre esse “oba oba” exacerbado da seleção brasileira. Lembrando que no futebol tudo muda muito rápido. Mesmo com uma equipe estando num momento muito bom como estava a de Tite até há pouco. Fora não ter enfrentado outros tipos de escolas de futebol, conforme bati algumas vezes nessa tecla. Hoje, para mim, o Brasil não é favorito. Ninguém é ou pode se considerar favorito à conquista da Copa do Mundo de 2018 em Moscou.

Vamos adiante! Abraços!