domingo, 28 de agosto de 2016

FUTEBOL BRASILEIRO: O PAPEL DA MÍDIA


Costumo debater muito e há muito tempo, principalmente nos últimos anos, qual o papel que a mídia desempenha no futebol brasileiro. É puramente comercial. Ao inverter e distorcer informações sobre jogos, jogadores e clubes, ela cria uma expectativa, que uma vez não se confirmando, traz desconfiança e a credibilidade, tanto da emissora, quanto do futebol, vão gradualmente perdendo prestígio.

No caso do Campeonato Brasileiro, já disse aqui ser um dos piores que já vi até hoje. Por maior que seja o esforço em vender emoção, a maioria dos jogos continua abaixo do nível, com plateias irrisórias. Não dá para dizer o contrário do que todo mundo está vendo na tela, por mais inocente e passional que seja o torcedor.

Vi três jogos hoje pelo Campeonato Brasileiro 2016. Apesar de fraco, o do Cruzeiro foi o que conseguiu o maior público em função de um horário que puxa famílias ao estádio e uma reação que o Cruzeiro vem apresentando para fugir da zona de rebaixamento que anda dando alguns resultados. Mas isso não apaga a má partida que fizeram Cruzeiro e Santa Cruz. Como não apaga a que fizeram a que fizeram Fluminense e Palmeiras e Sport e Internacional. O jogo do Fluminense então foi truncadíssimo.

Não dá, também, para esquecer a qualidade das arbitragens destes jogos. Agora há pouco quando via Sport X Internacional vi o árbitro assinalar um pênalti para o Internacional, com 10 minutos de jogo, ridículo, inexistente. E ele, o juiz, estava a dois passos da jogada. As cercas de 10, 12 mil pessoas presentes ao estádio, num domingo em Recife, não se cansam só com a má campanha de seus times. Mas, com 19 minutos do 1º tempo, você já teve choques de cabeça entre adversários, como sempre chamo atenção, chutes na cara do adversário na disputa da bola, ações em campo longe de lembrarem equipes aguerridas e sim destruídas pela má qualidade de seus jogadores, a péssima qualidade de quem os comanda e do clube onde jogam.

Não interessa à TV Globo, detentora dos direitos de transmissão, abrir qualquer tipo de debate envolvendo profissionais experientes, do ramo, consagrados, e até mais jovens, para solucionar o problema e não empurrá-lo para mais adiante, contando com mais 1 mês ou 2 de disputa, onde mais pela agonia, começam-se a definir os rebaixados, os classificados para a Libertadores e os possíveis campeões. A cada fim de rodada, vamos ouvir o mesmo papo furado, a mesma conversa fiada, e a mesma tática de esconder, propositalmente ou não, o péssimo futebol que as equipes oferecem e apresentam ao torcedor.

Não adianta super-promoverem a conquista olímpica. Já comentem que de positivo, só a medalha. Ela nada acrescentará um novo caminho para recuperar nosso futebol.

A CONVOCAÇÃO DE TITE

Disse aqui há alguns dias que pela convocação tentaria entender as ideias de Tite. Não vejo diferença das que vi nos treinadores anteriores. A proposta de jogo terá de ser a mesma. Não adianta inventar, principalmente se você não tem qualificação. No sistema defensivo, concordo com a convocação dos três goleiros. Em parte com a dupla de zaga (acho que fez bem em aproveitar os dois zagueiros da Olimpíada, apesar da contusão de Rodrigo Caio. Eles não são fracos). Mas, Marcelo e Daniel Alves como laterais é continuar perdendo tempo. Qualquer um dos dois só poderia ser convocado para atuar na armação. Como laterais não dá mais. O próprio reserva de Marcelo, Felipe Luis, não pode jogar em seleção.

Concordo com a volta de Paulinho. É uma aposta válida. Giuliano também, embora Casemiro não veja com bons olhos. Os demais creio que tenham sido os melhores, embora eu não abrisse mão de um meia e atacante de maior experiência, mesmo passando da casa dos 30, como é o caso de Robinho, Nenê, do Vasco, e o próprio Ricardo Oliveira. Ah, são velhos? Então me digam quais são os mais novos que estão jogando mais do que eles. Quanto a prever o desempenho deles mais a frente, podem estar melhor do que hoje. E os mais novos podem estar pior ainda.

Vamos pagar pra ver. Porque não me animei com a convocação.

sábado, 20 de agosto de 2016

BRASIL: UM OURO ESPERADO HÁ 116 ANOS


Como postei anteriormente, ontem mais precisamente, seria agora ou nunca mais. Fico feliz pela medalha, pela conquista. Mas sigo a realidade do que vejo. Heróis? O Brasil não precisa deles. Se houve alguém que chegou mais perto, acho que foi a Rafaela Silva, do judô, o Isaquias, da canoagem, entre outros que foram a essência da bravura.

Eu alertei ontem que o time alemão, além de muito novo, vinha com alguns desfalques. Os jogadores que vocês viram em campo hoje são a renovação completa da base alemã. Apesar de mais volume de jogo do Brasil, achei a decisão equilibrada. Chances por chances, o goleiro alemão fez apenas uma defesa difícil, já no final, e o nosso teve três bolas na trave e salvou uma de forma providencial.

O jogo começou com a Alemanha se movimentando mais até os 15 minutos do 1º tempo. Jogando ao toque que escolheram há alguns anos e que tem sido a tônica do futebol alemão e foi o da conquista da Copa de 2014. Toques curtos, triangulações, ritmos alternados, bola essencialmente no chão e a movimentação repentina no ataque, abrindo a zaga adversária e criando espaço para a finalização. E assim saiu o gol de empate deles, no 2º tempo.

O primeiro do Brasil, quando a seleção equilibrou na 1ª etapa, veio após uma cobrança de falta excepcional de Neymar. Para os que sonham culpar o goleiro, desistam. Bola dificílima de defender. A impressão, a partir daí, era de que o Brasil abriria maior vantagem. Mas, Rogério Micale não poderia abandonar a escola disfarçada de futebol brasileiro que inventaram no Brasil nos últimos anos. Recuou seu time todo e passou a partir em contra-ataques. Com Renato Augusto, mal escalado, excessivamente recuado e sem um meia de ligação, ficava restrito a lançamentos longos para os mal posicionados Gabriel, Luan e Gabriel Jesus. Todos jogando em posições erradas e tornando o ataque torto e sem penetração.

Já no 2º tempo, a partir do empate alemão, algumas substituições na seleção brasileira já deveriam ter sido feitas. Luan fazia péssima e inexpressiva partida. E Gabriel, “Gabigol”, tinha que ocupar o seu lugar e Luan dar sua vaga a Rafinha. Era o melhor a ser feito naquele momento. O jogo foi se arrastando e minha esperança àquela altura, a cada momento, se chamava mais Neymar. Pois a própria Alemanha, a partir de 30 minutos do 2º tempo, começou a sair menos e tentar menos jogadas ofensivas. E o Brasil atacava só a partir do seu campo, num erro tático ofensivo grotesco, com insegurança, precipitando passes, errando bolas infantis e dependendo de uma jogada individual de Neymar ou da definição de um passe seu para Rafinha, Luan ou Felipe Anderson, que vinham de trás.

Por mais de uma vez, já perto do final da partida, falhas de antecipação de colocação da defesa brasileira quase permitiram que o ouro fosse embora. Felizmente, quando o Brasil conseguia o mínimo de lucidez nos toques de bola, também encontrávamos chance de definir o jogo. Mas aí, companheiros, veio a prorrogação. A prorrogação arrastada em que só o Brasil por uma vez e a Alemanha também por uma vez ameaçaram evitar os pênaltis.

Chegávamos a eles, os pênaltis, o que tem sido comum no futebol brasileiro nos últimos anos e não ocorria no passado, quando jogávamos o nosso verdadeiro futebol, com nossas raízes, nossa autoconfiança e a qualidade de vários bons jogadores para a mesma posição. Mesmo com quase 125 minutos, só havíamos conseguido aquela falta cobrada por Neymar.

Fiquei confiante na cobrança dos pênaltis, embora triste por ver os mesmos erros se repetindo e a frustração de não ver a rede do adversário balançar, o que sempre foi a tônica principal do nosso estilo de jogo. Fiquei confiante porque já havia visto algumas partidas deste goleiro do Atlético Paranaense, que por ironia do destino substituiu o lesionado Fernando Prass, e o achava mais esperto, rodado e ligeiro que o goleiro alemão, ainda muito jovem. Tínhamos de fazer nossa parte, cobrar bem as penalidades. E o fizemos. O último alemão, batido por Petersen, parou nas mãos do frio e dedicado Weverton, cabendo a Neymar fechar o placar que abriu e que daria ao Brasil uma medalha disputada por mais de um século. O único triunfo que não havíamos conquistado.

Fico satisfeito pela medalha, pois durante a história a merecemos por pelo menos duas ou três vezes. Hoje, não digo que tenha sido ganha pelo acaso. Sem as qualidades necessárias você é sim derrotado, mesmo nos pênaltis. Mas não erramos na hora principal deste jogo, e este foi nosso maior mérito.

Parabéns à seleção brasileira de futebol, campeã olímpica de 2016! E parabéns por terem conquistado também este título a comissão técnica envolvida nesta vitória. Mas volto a dizer, a frisar, com toda franqueza: este não é o caminho certo e estas ainda não são as pessoas corretas, tanto para comandar o posto mais alto, como nos destinos e escolhas do trabalho de campo. Não se iludam. O futebol brasileiro ainda está longe de se encontrar consigo mesmo.

domingo, 14 de agosto de 2016

FUTEBOL: HOMENS E MULHERES


Vou começar pelos homens para fechar a crônica com um pouco mais de alegria, porque, infelizmente, o futebol masculino tem nos dado poucas alegrias. Apesar das duas vitórias consecutivas, Dinamarca e Colômbia, não me empolguei com a equipe.

Contra a Dinamarca vi uma ligeira melhora individual e uma maior disposição de movimentação. Muito embora a Dinamarca tenha tido uma atuação abaixo da crítica, com jogadores lentos e sem levar perigo algum, ao contrário do Iraque sem tradição, ao gol brasileiro. Ainda por cima, jogavam com um goleiro e pelo menos mais 2 ou 3 jogadores visivelmente acima do peso. Nitidamente uma seleção que não se preparou e não tem revelação de valores.

Já contra a Colômbia ontem, o crédito da seleção brasileira fica por conta de não ter perdido a cabeça e ter tocado melhor a bola. Mas, o mesmo não aconteceu. Uma seleção muito fraca, com apenas Gutiérrez, um jogador razoável, a frente de seu ataque.

Ocorre que o jogo seguia normal, sem grandes chances dos dois lados, quando Neymar, talvez ainda com alguma mágoa da entrada violenta que sofreu contra a Colômbia na Copa, começou a fazer firulas, jogando um individualismo desnecessário, sem objetividade.

Os colombianos entraram na dele e após surgir o primeiro gol do Brasil, do próprio Neymar, numa falha absurda de armação da barreira, o jogo pegou fogo de vez. Mas não no sentido competitivo e sim violento. Neymar começou a ser mais visado pelos jogadores colombianos que se revezavam batendo.

Mas, Neymar valorizava e fazia acrobacias antes sequer de ser tocado. Num desses lances, Neymar deu um revide por trás em um jogador colombiano, pelo qual deveria ser expulso de campo, e formou-se um tumulto generalizado, tornando o jogo uma guerra. Seguiu-se uma sequência de faltas sobre o Neymar e a partida ficou horrorosa, até ser salva pelo término do primeiro tempo.

No segundo tempo, com os jogadores mais calmos, seguiu arrastada, com a Colômbia sem força ofensiva alguma, finalizando a uma distância de 30, 50 metros do gol. 12 chutes, sendo 9 bisonhos, muito acima do alvo. O segundo gol veio em uma penetração livre de Luan, onde não teve dificuldades para vencer o goleiro Bonilla, fraquíssimo e inexperiente.

A seleção melhorou sim, mas muito pouco. Ainda está longe de jogar um bom futebol.
E as meninas? Apesar de não ser especialista (tive uma pequena experiência em minha carreira com time feminino de comunidade pobre), mas, futebol é futebol. E o jogo com a Austrália foi preocupante. Um drama. A partir da metade do primeiro tempo começou a habitual “Martadependência” e uma pressão muito forte sobre a Austrália, que se defendia com bom número de jogadoras e atacava sem muito perigo.

Com o passar do tempo, ficou bem clara sua intenção de segurar o resultado e leva-lo para os pênaltis. E a sobrecarga de Marta só melhorou com a maior participação da Formiga no jogo, que lhe deu alguma parceria e seu futebol cresceu, por pouco não levando o Brasil a vitória. A esta altura, o time corria e se superava alucinadamente, mas faltava presença de alguma jogadora entre a zaga da Austrália, para abrir espaço para quem vinha no ataque ou no contra-ataque. Com isso, bravamente a Austrália conseguia a prorrogação e posteriormente levar o jogo para os pênaltis.

Ufa! E que pênaltis! Acho que Deus foi muito bom conosco ao evitar que Marta saísse como vilã, jogando sua cobrança ao alcance da goleira Lydia Williams, em um jogo que merecia sair como heroína. Mas, o milagre aconteceria. Nossa goleira, um pouco lenta, mas muito esforçada, conseguia salvar o último pênalti em que a australiana levantou a bola, facilitando sua defesa.

Daí em diante era quem errasse perdia. E para nossa sorte, novamente, já que as bolas rasteiras eram complicadas para Bárbara, a zagueira australiana Kennedy levantou um pouco mais a bola, o suficiente para no raio de alcance de Bárbara, ela virar a heroína, assim como Julio Cesar e Taffarel em outras ocasiões, e levar o Brasil às semifinais.

As chances do ouro das mulheres, para mim, são maiores do que a dos homens. Mas, a julgar o caminho que terá pela frente, no caso os homens, a coisa não funciona assim não, só na base do favoritismo. Vamos torcer!

domingo, 7 de agosto de 2016

OLIMPÍADAS 2016: SERÁ QUE DESAPRENDEMOS?


Amigos, não vou comentar o jogo anterior com a África do Sul porque fizemos uma partida muito ruim. Bem abaixo das mínimas possibilidades de uma estreia razoável. Mesmo se tratando da Seleção Olímpica, formada por jovens, o que, aliás, hoje em dia, já é a média, até 23 anos, de muitas seleções profissionais, de times de bom rendimento, também profissionais. Prefiro me deter no vexame que vimos há pouco: 0 x 0 com o Iraque. 

Começo lembrando que, excluindo a partida anterior, que jogamos hoje 100 minutos de futebol, incluindo os acréscimos. Por 100 minutos não fizemos um gol no Iraque, não vimos sequer 5 minutos de um futebol consciente, com algum padrão tático ou qualidades que lembrassem, ao menos de longe, o verdadeiro futebol brasileiro. Pelo contrário, vi fintas desconcertantes, até mais por parte da seleção do Iraque do que da nossa.

Enfrentamos uma equipe amadora, sem tradição e experiência em futebol. Com certeza é uma das mais fracas seleções do mundo. No entanto, o mínimo de esforço coletivo e a mínima organização foram suficientes para nos conter e podiam até ter-nos vencido. Em dois ou três momentos, o Iraque esteve perto de chegar às nossas redes. É claro que tivemos bem mais chances do que eles. Mas não há nada que justifique um futebol tão mal jogado, uma equipe tão mal escalada e treinada. 

Quem é Rogério Micale? Nosso treinador? Eu sinto muito. Ele não tomou conhecimento semana passada e nem começou a treinar há 5 dias para as Olimpíadas. Não havia padrão tático. Não havia uma jogada ensaiada sequer. Um bando de camisa amarela. Um bando que a cada minuto ia ficando mais desorientado. E a cada instante mais perdido, sem saber o que fazer em campo. 

Sem razão alguma, os torcedores vaiavam o Renato Augusto e o tomavam para Cristo. Uma injustiça. Mesmo sem jogar seu bom futebol, não pisava na bola como vários. Não poupando também Neymar entre outros. Muitos estão numa canoa furada. O fato, senhores, é que somos o retrato do exemplo que temos, desde o chefe interino da nação no momento, representante do que há de pior em matéria de legitimidade, assim como os comandantes do futebol brasileiro.

Nosso país vive dois golpes de estado. Um enganando 204 milhões de habitantes, e o outro, enganando milhões de torcedores apaixonados por futebol. A realidade é que o futebol brasileiro e o jogador brasileiro perderam a confiança em si mesmos. Não é só um detalhe técnico, tático, psicológico, físico etc. É um problema de estrutura geral. Como disse muito bem meu amigo e ex-jogador Afonsinho, acertando na mosca pra variar: “o futebol brasileiro precisa ser refundado.” Tanto fora das quatro linhas, quanto dentro.

As razões de tamanho declínio acho que já debati exaustivamente por aqui. Mas vale repetir que os exemplos do comando, a entrega do futebol a empresários, a desvirtuação de nosso foco técnico objetivo, que é a nossa natureza. O abandono de nossas raízes em busca de caminhos estranhos e alheios ao estilo e a essência do jogador brasileiro, são alguns deles. Talvez os principais. O mais grave de tudo isso é que em curto prazo não há remédio que surta efeito. 

Vitórias iludiriam mais ainda o torcedor. Mesmo que acontecesse dentro de um quadro de melhoria do desempenho dos jogadores em campo. Não adiantaria porque razões maiores, provavelmente dariam prazo a essa reação e ela teria tempo de vida. Possivelmente começasse a esbarrar nas primeiras dificuldades, as feridas abertas por anos e anos de agressões pelos que nada tem a ver com futebol seriam expostas novamente. E nossa solidez de país 5 vezes campeão do mundo, construída jogando o verdadeiro futebol brasileiro, retornaria a estaca zero.

Quanto à possibilidade de classificação: tudo pode acontecer. A única coisa que consigo crer é que não há mais espaço para piorar.

Uma boa semana a todos.