domingo, 30 de junho de 2013

UM BRASIL DE FATO
















Minha gente, eis um Brasil de fato. Parodiando até o meu blog. Sim, como disse a torcida, “o campeão voltou”! Se o título ainda não é do Mundial de 2014 e este Brasil de fato ainda precisa de muita coisa para alcançar a 6ª estrela, é inegável de que houve um progresso fantástico em tão pouco espaço de tempo.

Acredito que minhas últimas crônicas sobre a seleção sirvam para comprovar o que tenho descrito nesta era Felipão. Aproveito para parabenizar o treinador pelo seu enorme potencial em trazer a unidade a um elenco. Parece coisa fácil, ouço dizer e é muito comum, que fulano é motivador, é incentivador, etc. Mas só que isso é muito pouco para alcançar os números que Felipão já alcançou até agora. Parabenizo também a sua postura na coletiva de imprensa, após o título, de pés no chão, ciência do presente e noção de futuro do time e mais um golpe no complexo de vira-latas que ainda existe no futebol brasileiro por parte de alguns e também no seu povo. Isso ficou claro quando a certa altura o repórter inglês lhe perguntou se aquela exibição da seleção e o título eram uma resposta aos incidentes e aos ataques da população nas ruas. Seco e patriótico, Felipão foi taxativo. Primeiro disse: “Esta não é minha área”. Fez-se um silêncio de alguns segundos e parecia que ele não diria mais nada. Mas complementou lembrando ao repórter inglês os incidentes que frequentemente ocorrem em seu país, como os anteriores às Olimpíadas de Londres. E arrematou, ao estilo gaúcho e bem à brasileira: “Você vem aqui falar mal do nosso país, do meu país? Olhe para os problemas do seu país”. Essa franqueza e transparência dão uma vantagem muito grande a Felipão. Quando prega que joga com o coração e dá valor a isso, seu trabalho transmite clareza absoluta para qualquer grupo e justo por essa clareza, que todo grupo se fecha com facilidade em torno do treinador.

Óbvio que divirjo em alguns aspectos, de criação, como saída de bola, formação de meio-campo, alguns nomes e outros detalhes, de sua ótica. Mas não há como negar as grandes qualidades de Felipão e de antemão, de sua comissão técnica. Pois além de tudo, o grupo parece muito bem fisicamente e psicologicamente.

Quanto à decisão em si, respeito mútuo desde o primeiro minuto e após o último minuto. A Espanha sabe muito bem com quem jogou. Na minha visão, a Espanha é o que tenho dito, uma grande seleção, muito bem treinada e muito bem entrosada, com três ou quatro valores individuais de alto nível. No entanto, o Brasil teve o grande mérito de jogar quanto esteve de posse da bola, o que muitas seleções que enfrentam a Espanha não fazem. Quanto a sorte, eu prefiro devolver o argumento deles. Acho que a Espanha também tem sorte, além de qualidade, é claro. Ela teve sorte quando Casillas a salvou com uma defesa milagrosa na decisão da Copa de 2010, contra a Holanda, num momento “X” do jogo. Teve sorte contra a Itália, na Quinta-feira. E talvez tenha tido até mais do que nós hoje, porque mesmo no lance em que David Luiz mostrou muita fibra e muita raça salvando gol certo, já estávamos à frente no placar. E inegavelmente, as maiores chances de gol e o time mais eficiente foi o Brasil. Portanto, sorte meu amigo, até a seleção de 70 teve de ter. Vejo na Espanha uma grande seleção, apenas isso. E vejo o Brasil tomando rumo. Acredito que a partir do que adquirimos em tão pouco tempo, demos um passo gigantesco em realizar um sonho de vencer a próxima Copa em casa.

Muitos nomes provavelmente ainda serão trocados, em 12 meses muita coisa acontece. Faz parte do jogo. Mas o espírito de competição, a seriedade, o toque de bola clássico mágico e até as tabelinhas em alguns momentos, e o amor à camisa, eu acredito que já recuperamos.

Que outras surpresas agora nos façam os pintos que já saíram da casca do ovo, mas que ainda não viraram galo de briga. Isso será bom para o elenco num todo e para quando chegar Junho de 2014, o Brasil possa entrar em campo com uma equipe mais preparada para vencer um dos maiores desafios de sua história e concretizar um desejo que está entalado na garganta desde 1950.


Vamos ao trabalho, Brasil!

Todos, heim!



Abraços

quarta-feira, 26 de junho de 2013

A IMPORTÂNCIA DOS CASCUDOS




Ufa, ufa! Hoje a seleção começou pacífica, mas o baderneiro time do Uruguai tratou de depredar e vandalizar o jogo. Pra não fugir à regra de assuntos que nós temos que aturar durante a transmissão de um jogo desses e que já encheram o saco há muito tempo. Sorte nossa que hoje havia três cascudos em campo. Os mais experientes, como: Julio César, Paulinho (que já é um jogador experiente pelo próprio temperamento) e Fred, que nos salvaram.

Começamos com aquele pênalti idiota do David Luiz, que por sinal não me surpreendeu. É só dar uma olhada nas minhas crônicas anteriores e verão com quais jogadores eu não concordo nesta seleção. Acho que fazem sentido minhas críticas à esta lista. Um David Luiz numa Copa do Mundo pode botar tudo a perder. Como um Luiz Gustavo, um Oscar, um Marcelo etc. Mas estava lá um cascudo, um goleiro que errou na Copa passada, justo no dia que a Seleção jogou melhor. Fez uma defesa extraordinária, de futsal, de onde é oriundo, fazendo a baliza parecer também uma baliza de futsal devido à dificuldade e o estilo da defesa. Lembrando que quem bateu não foi um Zé Mané qualquer. Era a estrela deles. Continuamos sem penetração, até que outro que já considero cascudo enfiou um passe precioso para um domínio de bola de Neymar, que só os craques sabem fazer naquele espaço curto. Abafada pelo goleiro na finalização, a bola sobrou pra outro cascudo - esse então a bola adora - que com categoria e inteligência, diferente da visão que os comentaristas atribuíram à sua finalização, de “finalização feia”, mas que o importante era ter entrado. É isso que dá nunca terem jogado bola. Fred bateu na bola do melhor jeito, principalmente por ela estar no ar e com tanta gente à frente.

Mas, a defesa continuou seu espetáculo de erros infantis como sempre. Nem descarregar por cima estão sabendo. Além de bater cabeça e não ter meio estão aliviando o perigo por baixo e dando rebote. E lá se foi a vaca caminhando pro brejo. Sorte nossa que Felipão, pra surpresa geral, num ato corajoso e louvável, tirou outro da minha lista negra, o incrível Hulk, e colocou o habilidoso e arisco Bernard, abrindo completamente a defesa do Uruguai. O Brasil voltou a tomar conta do jogo, quando, num contra ataque, num erro dos muitos que Daniel Alves tem cometido, o atacante Luis Suarez demorou a conectar-se com Forlán, dando chance à recuperação de Daniel Alves. Comecei a ver sinais de perda de força ofensiva no Uruguai. Eles começavam a abrir o bico. Apesar da raça e do bom futebol da Celeste Olímpica, a seleção ia tomando conta do jogo. E só errava em insistir em jogadas aéreas. Mas, justo numa delas Paulinho subiu mais alto e, como novo cascudo da turma, jogador frio, profissional e talentoso, colocou o Brasil na final.

Posso arriscar que vem aí a Espanha. A lógica esportiva diz isso, mais ainda com a saída de Balotelli. Mas, não aposto um centavo nisso, não. Bem, se vier de fato a Espanha, que o Brasil jogue o seu jogo. O jogo que tem as raízes do futebol brasileiro, sem medo, que toca a bola pra fazer correr atrás. Como a Espanha tem feito há algum tempo com extrema harmonia, precisão e calma. Quanto a nós, ainda não temos o conjunto e a experiência do time deles, mas temos o drible, a arte e a improvisação. Genialidade esta que eles ainda não dominam. Por isso, se não forem de primeira e fizerem uma marcação por zona, errando pouco e partindo pra jogadas individuais, domingo, camarada, não tem favorito não. E podem esperar um bom jogo. As touradas ficaram pra trás.

Até lá!


Fernando Afonso

domingo, 23 de junho de 2013

A FAMÍLIA SCOLARI 2















Prezados amigos e amigas, em que pesem as turbulências, vamos ao futebol em poucas linhas. Primeiro peço desculpa ao Felipão que pediu que não usassem esse termo mais, Família Scolari. Ele tem razão. Cada tempo é um tempo em futebol. Mas, não fica na bronca comigo não, Scolari, é só uma referência sobre alguns aspectos.

De início, prefiro exaltar os avanços, como de Neymar, por exemplo, venho batendo nesta tecla aqui há muito tempo e vocês sabem, ele começa a chegar perto do seu verdadeiro futebol e ainda sem estar jogando na Europa, é bom frisar para os que acham isso fundamental. Ta encontrando união. Ponto que aliás, é mais um ponto da seleção. Nota-se, visivelmente, um grupo unido. Sem maiores vaidades aparentes. Exceto um caso ou outro. A vontade e a dedicação dos jogadores têm sido nota 10. Assim como a postura em relação às outras seleções e a fatos extra-campo dos quais eles não podem fugir.

Outro aspecto positivo, é que estão aparecendo, dentro da competição, algumas opções a mais. E por certo, outras ainda irão acontecer. Em alguns momentos também, os olhos nos dão prazer ao vermos algumas jogadas coletivas e individuais, coisa que não estava acontecendo na seleção anterior. Principalmente devido ao entra e sai absurdo.

Agora vamos aos aspectos aonde acho que estamos devendo. Vou começar pela dinâmica de jogo, usando o jogo com a Itália como referência. Futebol não é Fórmula-1 e a Itália não é o Japão. A Itália tem camisa e por sinal, fora os conhecidos Balotelli e Pirlo (que não jogou), mostrou alguns jovens valores que creio ainda darão alegria a Azurra. Portanto, não adianta sair correndo para abrir espaço em defesa adversária. Chega de ouvir a expressão movimentação e velocidade. Não é só isso. Sem drible e alternância de ritmo, você não se impõe. E ainda desequilibra suas linhas. Começam a acontecer erros de passes infantis, por parte de jogadores até bem qualificados.

O nosso meio ainda insiste em ser um corredor de passagem e não um setor ocupado. Ou se ocupa aquele setor, se cria e se marca nele, ou a defesa vai sofrer e o ataque também. Esse talvez seja um dos piores erros atuais. Outro é o hábito pontual e disciplinar das substituições. Substituição não tem horário. Quando algo não vai bem, manda o bom senso que você dê um tempo, pois aquilo foi treinado e não tem cabimento você desmanchar de uma hora pra outra, aguarda a recuperação de determinado jogador, corrige aqui e ali, orienta, mas, continuou mal, como o caso de Oscar e outros, vai esperar o quê pra tirar? Os técnicos só mexem quando placar mexe contra eles. Isso é um vício complicado.

Já que falei em substituições, por fim, reforço minha ideia das crônicas anteriores, sobre a necessidade da troca de um David Luiz (embora tenha feito boa partida contra o México), não tenho confiança no Marcelo, que por várias vezes já andou brincando em complicando com gracinhas que ele insiste em usar. Luiz Gustavo só é titular porque jogar no Bayern. Se jogasse no Guarani, não teria a menor chance. É muito fraco. Principalmente tecnicamente. E Hulk, meu filho, você é esforçado e humilde, mas tenha dó. Vê-lo todo torto na ponta direita, correndo, tentando jogadas por aquele lado, conduzindo a bola com o pé errado, finalizando com o pé errado, chutando pra área e não cruzando, errando dezenas de passes, vai pro brejo todo seu esforço, luta e simplicidade. Não há condições de ser titular.

Por ora é isso, gente, se vier a Espanha, coisa que ainda não dou como favas contadas porque temos um Uruguai extremamente difícil pela frente, vamos ter que jogar futebol à brasileira e com inteligência. Senão, vai ficar aquele discurso: “só estamos nos preparando, o melhor virá na Copa...”



Abraço e boa semana a todos! Mas com calma e sem manifestações vagas. Muita calma que o Brasil é nosso!


Fernando

domingo, 9 de junho de 2013

MANO X FELIPÃO – QUAIS AS DIFERENÇAS
















Pessoal, apesar de não ser muito chegado a uma comparação, é muito comum elas enganarem no cotidiano da vida, quanto mais no futebol, mas creio que já dá pra termos uma ideia nesses sete meses da era Felipão, em relação a anterior, da era Mano.

Antes de mais nada isso me lembra um bate-boca, no bom sentido, que tive num programa esportivo na antiga TVE em 1991 envolvendo o técnico Falcão. Alguns integrantes da mesa defendiam que dez meses era muito tempo pra se analisar um trabalho de um treinador. Na ocasião lembro-me que defendi Falcão, pois esses dez meses, em se tratando de Seleção Brasileira criam essa ilusão. Você não convive dia após dia com sua equipe na seleção, como convive no clube. E na ocasião a seleção da era pós Lazaroni passava por um sério problema de liberação dos jogadores de fora do país junto a seus clubes. Mas, hoje o quadro é bem diferente. Prepara-se uma seleção pra uma Copa do Mundo no Brasil e ela terá que corresponder em um ano. O técnico Felipão que aceitou o desafio, apesar dos poucos sete meses de trabalho, já tinha o privilégio de assistir de camarote o quadro que o esperava, caso viesse a dirigir o Brasil.

No caso da seleção do Mano, há um bom tempo ele vinha testando vários jogadores daqui, dali, que às vezes apenas passavam por uma boa fase. Teve tempo suficiente pra definir ao menos 80% da base do time e não o fez. Havia por trás um clima nebuloso na direção da CBF, uma bomba prestes a explodir, que foi de certa forma apenas deslocada pra outro lugar mais discreto – eu não acredito que Ricardo Teixeira esteja 100% fora do processo onde parece que Marin que dá as ordens. Depois, Mano perdeu o apoio da imprensa já não tendo o mesmo carisma que Felipão e um título mundial na bagagem, o lado positivo de seu trabalho não foi levado em conta e ele acabou tomando o caminho da roça. E que roça!

Felipão já chegou com as honras de campeão mundial mesmo não passando por um bom momento em sua carreira, mas veio com força e todo apoio possível. Trouxe o seu inseparável e fiel amigo Murtosa e, para minha surpresa, Parreira a seu lado, que sempre foi nome forte na agenda de Ricardo Teixeira. Havia, portanto, confiança no trabalho do treinador. Experiente, Felipão foi diminuindo a quantidade de convocações sem sentido. E tratou de usar de maior objetividade em seu trabalho, errando ou acertando. Hoje chegou a sua primeira vitória expressiva no comando, contra a França, em sua terra predileta. É bom não esquecer tratar-se de um amistoso.

De positivo na evolução do seu trabalho vi uma maior marcação ofensiva na saída de bola do adversário, provavelmente uma nova determinação pra que Neymar use menos individualismo e colabore mais nas ações ofensivas participando de preparações de jogadas como fez em algumas ocasiões, como no 2º gol de Hernandez, e um time mais livre pra falar dentro de campo. Futebol é jogado e falado. Se você não dialoga com o companheiro, pode esquecer, é time de quadro negro. Entre os defeitos que ainda persistem, apesar do elástico placar, é a percepção de que jogadores como David Luiz, Luiz Gustavo e Hulk têm vaga assegurada nesse grupo. Isso me tira o sono. Não confio na qualidade desses jogadores. Outro problema grave é o posicionamento defensivo. Segue vulnerável e com posicionamento e ações de defesa várias vezes equivocadas. O excelente Thiago Silva ainda perde muita viagem lá fora, talvez por ansiedade, no desarme. Ele pode e deve sobrar. É o mais experiente e técnico. O meio não encontrou ainda uma forma compacta de jogar que consiga se fechar com mais rapidez e parta para o ataque criando maiores situações de gol. Mesmo se você me perguntar: - mas, ganhamos de 3 x 0 e tivemos boas chances de gol? Eu recomendaria que você, não desmerecendo a atuação da França, visse o tape. Apesar de não terem feito péssima partida, após o primeiro gol do Brasil, oriundo de uma roubada de bola faltosa, a seleção francesa, como se diz na gíria do futebol, largou. No segundo gol então, a marcação chegou a sua área quando a bola já beijava a rede. O nosso contra ataque foi bem feito? Sem dúvida! Mas apesar da velocidade do Paulinho, o passe imperfeito para Lucas atrasou a jogada. E se o jogo é pra valer, meus amigos, não teriam dado aquele mole, não. Podem ter certeza.

Agora, vamos à Copa das Confederações. Ideias mais precisas irão surgir sobre o scratch canarinho.


Aquele abraço!


Fernando

domingo, 2 de junho de 2013

MARACANÃ - ANTES E DEPOIS














Na crônica de Brasil 2 x 2 Inglaterra tive a ideia de traçar um paralelo entre duas épocas. A inauguração do Maracanã e a sua reinauguração.

Na data de hoje, após o empate entre as duas, talvez mais tradicionais, seleções do futebol: a inventora e o representante da invenção, o assunto não saiu da minha cabeça. Tampouco o que mais ouvi nas duas emissoras, Globo e Sportv, que transmitiram o evento:
- “Dez do primeiro tempo, Brasil 0 x 0 Inglaterra. O Maracanã está lindo!”
- “Vinte do segundo tempo, Brasil 1 x 1 Inglaterra. Está de fato um show o Maracanã!”

Nós, reféns da TV (não me interessou ir ao Maracanã) nos perguntamos: que direito uma emissora tem de capitalizar a camisa amarela que representa um país e só ela transmitir um evento? Por que não temos o direito de ouvir opiniões e enfoques diferentes sobre o mesmo jogo? Aí, meu caro, já começa a diferença no paralelo.

A seleção de 1950, da época da inauguração, não era monopólio de uma emissora. Se o locutor “A” não lhe fazia a cabeça, você mudava para o locutor “B”. Mesmo no rádio, porque é claro, não havia transmissão direta. Entretanto, em 1970 aconteceu um pool de emissoras e todas transmitiram a Copa do Tri. A escolha ficava a seu critério, não deles. Você não era obrigado a ouvir, em meio a tanta coisa a dizer sobre o jogo de hoje, repetidamente o chavão: “o placar é esse e o Maracanã está um espetáculo!”

Essa foi a primeira grande diferença daquela época. A segunda, é que em 16 de junho de 1950, num Cariocas x Paulistas, vencido pelos paulistas, era inaugurado o Maracanã, com um gol de Didi pelos Cariocas. Mesmo com a derrota, um mês depois, na Copa, maldita para alguns e bendita para mim, pois foi a derrota que nos ensinou a competir e refletir sobre nossos complexos e erros, a direção do futebol era uma só: chegar ao título, chegar à perfeição. Isso foi alcançado oito anos depois, na Suécia, mas a base já estava ali e alguns já estavam ali, como o próprio Didi. Muitos campeões de 1958 já vivenciavam no radinho de pilha o trauma daquela derrota e se enchiam de brios para as glórias que viriam até 1970, montadas naquela base, justo naquela base de 1958.

O estádio encantava pelo seu tamanho, mas o mais importante não era o Maracanã, eram os rumos do nosso futebol. Neste período e até 1970 houve percalços, mas a ascensão foi tão genial, quanto os gênios que surgiram. E nos consagraram como o país do futebol.

Passando a uma segunda etapa da minha abordagem, entramos na era dita moderna, que começou com expressões estranhas, nascidas depois dos anos 70. Expressões complicadas, criadas para não serem entendidas, jogando no lixo todo aprendizado e a identidade do carimbo brasileiro na marca futebol. Surgia a ciência (torta) no futebol, a teoria brigando com a parte prática, a crucificação de quem tinha cometido um pecado, o pecado apenas da desorganização. A auto-exaltação dos que queriam estar no lugar dos verdadeiros donos da bola. Quebraram a cara. Durante 24 anos o único título foi o de campeão moral. Até, praticamente um jogador, frise, praticamente, porque ninguém ganha uma Copa sozinho, de nome Romário de Souza Faria, mostrou ao Brasil, aos intrusos do futebol e ao mundo, que o nosso futebol era aquele, que ele acabava de classificar frente ao Uruguai em 1993 e coroava, apesar dos pesares de excesso de cautela, como tetracampeão em 1994, nos EUA.

A valorização fez muito bem, por outro lado, trouxe os malefícios dos malfeitos. Surgiram oficialmente os empresários à frente do futebol. É evidente que eles já existiam muito antes. Lá atrás, em 1958 já atuavam, mas se limitavam à sua área de atuação. Não chegavam ao ponto de determinar quase uma comissão técnica inteira dentro de um time de futebol, influenciando e coordenando clubes, Federações, o órgão máximo do futebol e por aí afora. Parcimônias vigentes nos dias de hoje, com treinadores, presidentes de clubes e quaisquer funções que você possa imaginar. Você pode perguntar aí: os empresários, então, são os culpados de tudo? Ou por que você os odeia tanto? Nenhuma das duas impressões, meu amigo. Empresários em países organizados, como os EUA no basquete, são comuns. Trazem benefícios, mas são proibidos, veja bem, são proibidos de se intrometerem na qualidade e nas raízes do esporte. Se os empresários representam negócios, então negócios são negócios. A Cesar o que é de Cesar e ponto final. Mas, não há chance alguma de passarem um trator numa plantação de sementes ou colherem os frutos antes da hora. Isso é jogar fora toda uma safra. É diminuir a qualidade do produto e perder o próprio valor dele. Portanto, nada contra os empresários e tudo contra um sistema que permite que tamanha influência nos deixe desarvorados procurando armadores de qualidade, zagueiros com QI de zagueiros, atacantes com cacoetes de goleadores, e por aí afora.

Não será lembrando 2002, em que Felipão encontrou dificuldades e as superou, levando a taça, que ficaremos otimistas por isso. Outro tempo, outra bola. Até no desenho, no lugar desta colorida, que vergonhosamente rola no gramado verdinho, sem que haja uma crítica dos artistas que a manobram ou das instituições que os representam. Você tinha Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho, Felipão. Você ganhou a criação do Kleberson, de presente. Você tinha o Ronaldo Nazário. Quer mais? E eles já vinham de várias experiências. Desta época só nos sobrou o Ronaldinho Gaúcho. Kaká escolheu um caminho que lhe foi conveniente, não parece ter sede de erguer taças.

Portanto, a 12 meses da estréia de uma Copa do Mundo, dentro de seus domínios, com um futebol dotado de um temperamento emotivo em suas raízes, com um time cheio de garotos, alguns como David Luiz, Filipe Luís, Leandro Damião, Hulk etc., que não têm, em minha opinião, condições de nos dar confiabilidade em suas qualidades, mais ainda, sem um poder de criação com objetividade e talento, que fuja da mesmice de ficar rodando de Marcelo pra Hernanes, de Hernanes pra Fernando, de Fernando pra Lucas, de Lucas pra Fernando e aí, Dr. Prof. Felipão, tome bola na área e seja o que Deus quiser, porque você não vai encontrar outro caminho e esse, com a mais absoluta certeza, não é o melhor caminho para o futebol brasileiro encontrar as redes. Muito menos com a crítica e crônica especializada jogando confete e serpentina, pra encher seu cofre antes de chegar o próximo inverno e descerem o pau, soltando tudo aquilo que guardaram esse tempo todo. Pouco se importando com o resultado final, se lixando pro sofrimento do povo. Algo assim... Parecido com o que fizeram com Dunga na última Copa.

É isso aí. Tomara que eu esteja errado e os Deuses do futebol deem asas a quem no momento não tem nem pernas pra jogar 1% do futebol de Mané, de Pelé...


Boa semana!



Fernando Afonso