domingo, 29 de julho de 2018

NO RECOMEÇO DO BRASILEIRÃO 2018: QUAIS OS DESTAQUES?


Meus caros amigos, confesso a vocês que uma das coisas mais difíceis no momento é escrever sobre o futebol brasileiro e também a Sul-americana. É muito simples dizer que tudo se resume a diferença de poder financeiro entre a América do Sul, a Europa e outros continentes. Isso fica claro no entra e sai de jogadores, treinadores e mandatários. E é justo aí que um problema, a falta de dinheiro, produz vários outros.

Mal um time começa a engrenar no Brasil, na Argentina, Colômbia ou Uruguai, por exemplo, determinados jogadores que se destacam são imediatamente negociados. Então o conjunto e a harmonia vão pro lixo. É um círculo vicioso. Começa-se um trabalho, obtém-se um nível e ele é interrompido pelas negociações e também pela desorganização, que numa tentativa desesperada de salvar os cofres dos clubes, cria modelos de competições, umas atrás das outras e, muitas vezes, como agora, simultâneas, gerando desgaste e não lucro. Gerando perda de interesse e não mais emoção.

Nos primeiros jogos aqui no Brasil na volta da Copa se percebeu claramente uma perda física e técnica em algumas equipes. Produto da paralisação devido à Copa do Mundo. Mas isso acontece e sempre aconteceu. O problema é que trocas constantes de jogadores e treinadores dentro de competições descontrolam mais ainda o que já vai mal. Alguns exemplos, como o Flamengo, que perdeu Vinícius Jr. e está a ponto de perder Lucas Paquetá. Dois jogadores chave que talvez façam o Flamengo cair de rendimento, principalmente se a saída de Lucas se concretizar.

O Botafogo, por exemplo, que perdeu alguns jogadores e mudou de treinador, se já andava mal, piorou muito mais e segue um caminho sombrio. O Corinthians também caiu de produção devido a negociações. O Santos, o Vasco a mesma coisa. Alguns casos raros como o do Fluminense, onde Abel já entrava num clima de saturação e o comando, por falta de competência, planejamento e profissionalismo, tornava muito mais difícil sua tarefa de futebol intensidade máxima. Marcelo Oliveira conseguiu algum progresso, entretanto depende também de determinados jogadores no elenco que vão lentamente caindo de produção devido ao desgaste. E outros por falta de qualidade técnica mesmo. 


O São Paulo é outro que cito como caso raro. Desde o início do ano vem tentando se organizar, afastado das grandes conquistas que são costumeiras, aproveitou o intervalo da Copa para corrigir alguns erros e melhorar o conjunto. Apesar da liderança do Flamengo, vejo o São Paulo, hoje, como seu maior adversário. No mais, temos equipes que lutam para não cair ou obter uma vaguinha numa taça como a Libertadores ou no mínimo Sul-americana.

Alternativas têm de ser repensadas também nos nossos vizinhos. A Argentina passa por um período de renovação difícil. E o Uruguai já entrou nele após a Copa. O sucesso da seleção vem do equilíbrio e da performance dos clubes. Se não houver melhor planejamento e maior critério e inteligência envolvendo as negociações dos destaques que, por ventura, estejam surgindo, nada feito. É um passo para frente e outro para trás.

Gostaria de encerrar com um comentário relativo aos nosso goleiros. Conheço bem o trabalho de alguns preparadores de goleiros e tenho uma observação especial na posição pela qual já joguei. Há muitos anos digo, embora tenha melhorado o nível dos goleiros em nosso país, mais por razões de atributos físicos do que técnicos, os treinadores têm de se ater mais ao trabalho de situação de jogo. Onde você exige do goleiro a simulação do que realmente acontece nas quatro linhas nas partidas. 


Desnecessário encher um espaço de gramado com vários cones, como se fosse o pátio de um órgão de trânsito. Ele não vai utilizá-los no jogo e os gestos específicos que irá fazer não serão os que foram treinados. Com certeza alegarão que o goleiro precisa de explosão, flexibilidade, impulsão e agilidade. Sim, naturalmente. Mas que a bola o acompanhe nesse tipo de trabalho. O que existe na prática. Independente das bolas utilizadas e seu material diferente, falta segurança aos goleiros atualmente. Soltam bolas absolutamente fáceis de reter. Não saem em cruzamentos pelo alto por medo de errar. Não exercitam a visão de jogo e a antevisão do jogo, prevendo situações claras de perigo de gol, como os jogadores de linha preveem. 

Somado a isso, o lado psicológico, que dosa o temperamento necessário para, aí sim, diante de uma boa forma física,  procurar estar sempre no melhor de sua forma técnica. Num time, todos devem estar bem. No caso do goleiro, tem de estar acima deles. Tem de ser um paredão. Se não, há algo de errado.

Boa semana a todos!

domingo, 22 de julho de 2018

AS LIÇÕES DA COPA 2018


Conforme prometido, falarei sobre as impressões que tive dessa Copa. Erros, acertos, novidades, enfim, um raio-x resumido. Começo atendendo o pedido de alguns leitores, escalando a minha seleção da Copa. Vamos lá:

Goleiro: Pickford (Inglaterra)
Lateral direito: Pavard (França)
Zagueiros: Kompany (Bélgica); Godin (Uruguai)
Lateral esquerdo: Laxalt (Uruguai)
Meias: Kanté (França); Modric (Croácia); Felipe Coutinho (Brasil); Griezman (França)
Atacantes: Mbappé (França); Hazard (Bélgica)

Deixo na reserva e em condições de ocupar qualquer lugar dos que escolhi acima o goleiro Courtouis, da Bélgica, o zagueiro Vida, da Croácia, o lateral esquerdo francês Hernadéz, os meias Matuidi e Pogba, da França, Cavani, do Uruguai e Perisic, da Croácia. Ok?

Sobre a Copa, uma primeira curiosidade. Em 1930, há 88 anos, na Copa vencida pelo Uruguai, três das quatro seleções semi-finalistas estavam entre as cinco que vieram a Montevidéu em uma longa viagem de navio. França, Bélgica e a Iugoslávia, que é a Croácia hoje (e mais alguns outros países).

Essa Copa veio quebrar alguns conceitos como os que o futebol brasileiro ainda usa sistematicamente em seu país. A tarefa hedionda de encarregar a um lateral ou ala, como queiram, direito ou esquerdo, de fazer uma função do antigo ponta, transitando em alta velocidade, num espaço de 50, 60 metros para servir, em bolas aéreas vagas, sem lucidez, a qualquer um que apareça e aproveite. Não vi as melhores seleções usarem deste expediente.

Uma bola aérea que se manteve na moda, com um pouco mais de discrição, foi aquela alçada em faltas diagonais de média para longa distância. Assim como a importância vital dos escanteios e o maldito agarra, agarra, empurra, empurra que é responsável pela alta quantidade de gols contra e penalidades. Este tipo de jogada virou uma espécie de garrafão do basquete. Quase sempre é faltosa, quase sempre acontece alguma irregularidade.

Como a dificuldade de chegar trabalhando a bola e criando espaços é grande para muitas equipes, seguem com esse expediente horroroso, que acaba precipitando os zagueiros e tornando os goleiros meros expectadores de um perigo que nasce da confusão generalizada nessa jogada.

Vimos a dona da casa, a Rússia, perder aquela identidade do passado onde a experiência, a marcação e o jogo duro eram a tônica. Bem que tentavam às vezes. Mas, hoje, a anfitriã tem um jogo mais amador, mais light.

Tivemos a inovação do VAR apontando irregularidades não vistas e às vezes decidindo jogos com sua interferência tecnológica. Não sou contra. Mas é preciso lembrar que para seguir com rigidez e ao pé da letra tudo que acontece em campo você paralisa um jogo por muito tempo e, ao contrário do basquetebol e do voleibol, que são jogados em espaços restritos, o futebol não permite este tipo de sequências de intervalos. Por outro lado, fica difícil aceitar ser prejudicado por erros grosseiros.

Domingo, por exemplo, a Croácia saiu da Copa reclamando da decisão do árbitro no pênalti do segundo gol francês. Esqueceu que a arbitragem seria favorável a eles nesse lance em que o juiz não viu, em campo, qualquer infração na jogada. O VAR interferiu decisivamente no resultado de ontem até certo ponto.

A organização da Copa foi positiva. As invasões são corriqueiras. Quase impossível impedi-las.

Por fim a constatação sobre Messi e Neymar, ditos dois dos maiores jogadores do mundo. Em alguns momentos é injusta a cobrança sobre Messi. Isso ficou claro. A Argentina não vai resolver seu problema de novas revelações, estrutura e comando jogando tudo em cima do astro argentino, que, por sua vez, tem dificuldades, sim, ao jogar uma Copa do Mundo. Talvez tenha sido sua despedida em Copas.

Neymar, alertei aqui em várias crônicas anteriores, principalmente quando a comissão técnica e o técnico Tite disseram que ele estaria 100% na Copa. Tite esqueceu que em futebol não há bola de cristal. Não é ciência. E que partindo da última Copa, no Brasil, a seleção brasileira necessitava, antes de mais nada, de uma boa terapia. Neymar, principalmente, devido a seus caprichos que o ridicularizaram mundo afora.

Tite montou uma equipe pragmática, baseada no sucesso do formato das eliminatórias. Mas esqueceu que iria enfrentar equipes diferentes, escolas diferentes e, mais uma vez, assim como Parreira fez em 94 com Romário, pendurava, sim, em Neymar a responsabilidade pelo desequilíbrio do jogo a favor do Brasil.

Tanto Tite, quanto Parreira, dizem que só o talento não ganha uma Copa. Por que a necessidade de frisar isso? Sem talento você não faz nada. Contundido, mal orientado e mal preparado fisicamente, também não. O futebol é um conjunto de fatores. Mas é uma grande mentira continuarem insistindo em enganar o mundo, seus países e seus torcedores dizendo que o futebol pode, sim, chegar ao título sem o talento individual.

Principalmente no caso do Brasil, onde suas raízes foram dilaceradas e menosprezadas por uma mentalidade que se intitula “moderna”, passando a ser muito bem aproveitada por outras escolas, como vocês viram nessa Copa. Viram em várias jogadas de Mbappé, Griezman, Cavani, Hazard, no lançamento magistral de Pogba, de voleio, para Mbappé, que resultou no terceiro gol francês na final. Viram domínio de bola e habilidade, e até ginga e drible, que eram marcas registradas nossas. Mas que abriram mão e a enterraram em favor do futebol força, que entre os três últimos campeões do mundo já sucumbiu faz tempo.

Vamos ao Catar, daqui a 4 anos e meio, conferir nossos progressos e defeitos, assim como os dos outros países. Vamos ver como se comportam as seleções em cidades e em um país não tradicionais no futebol mundial.

Aquele abraço!

domingo, 15 de julho de 2018

A HISTÓRIA DO FUTEBOL FAZ JUSTIÇA E A FRANÇA É BICAMPEÃ MUNDIAL

Shaun Boterill (Getty Images)

Queridos leitores, antes de tudo é um prazer escrever após uma final de Copa do Mundo. Embora, naturalmente, meu texto não agrade os derrotados de hoje, falo do encerramento de uma competição que é a maior desse esporte no planeta. Meu título abrange toda a travessia da França nos gramados passando por Just Fontaine, Platini, Zidane, até chegar ao incrível Griezman, que ao contrário do prêmio da FIFA à Modric, o coloco, juntamente com Hazard, da Bélgica, como os dois melhores dessa Copa. Aí, sim, seguidos por Modric e Mbappé.

Difícil escolher um goleiro. Até a falha de hoje, Lloris, da França, fazia uma Copa impecável, junto com Courtouis, da Bélgica e Pickford, da Inglaterra. Mesmo assim, ainda há uma fila atrás deles, seguindo de perto, formada por grandes goleiros. Foi uma grande Copa onde houve falhas sim, como a de hoje, mas o mundo viu goleiros muito bem treinados. Alguns de muita estatura, sem dever nada em matéria de agilidade e flexibilidade, como foi o caso do goleiro belga, fosse em bolas pelo alto ou no chão.

Quanto à decisão de hoje, de volta ao que falei sobre a história, ao longo das Copas, em várias ocasiões, a França esteve bem perto do título mundial, não o conquistando por detalhes. Na própria Copa da França, o caminho até a final contra o Brasil foi bem mais difícil do que o da Rússia, em 2018. Evidente que não posso esquecer a campanha da Croácia, de coragem, ofensividade, união, conjunto, garra e muito bem dirigida. A Croácia sempre foi uma equipe sorrateira, traiçoeira.

Só deixou de levar perigo e competir em igualdade de condições hoje quando a tecnologia, através do VAR, no segundo gol francês, deu um pênalti num momento chave da partida que certamente o juiz não daria “a olho nu”. Foi pênalti, não há o que discutir. O segundo gol, naquele momento, não estava nos planos de uma Croácia que começou o jogo partindo para cima da França e, por um bom tempo, deixando a zaga francesa confusa e às vezes parecendo perdida, como foi o caso da própria atuação do incansável e ótimo volante Kanté, que foi bem substituído no segundo tempo. Juntamente com Giroud foram as figuras mais apagadas da França hoje.

A zaga francesa não conseguia parar as triangulações, pelo lado direito de sua defesa, que às vezes envolviam até mais jogadores croatas, em tabelas curtas, de passes medidos e precisos, que, com extrema inteligência, chegavam à linha de fundo criando um inferno para a defesa francesa. Por boa parte do primeiro tempo e até mesmo no segundo esse quadro aconteceu. Com raras variações da Croácia atacando pelo lado direito.

A Croácia parecia mais perto do primeiro gol quando Griezman, em um cruzamento venenoso, jogou no bolo e o artilheiro croata, Mandzukic, foi infeliz no lance, marcando contra. Não demorou e a valente Croácia, que não desistia nunca, chegou ao empate em um rebote da zaga, em um belo chute de Perisic. Foi quando entrou o imponderável, o próprio autor do gol croata, num instinto defensivo, cometeu o pênalti que voltou a dar a vantagem à França. Por sorte da França o placar se manteve até o intervalo.

Veio o segundo tempo e novamente a Croácia seguiu apertando, sem que Deschamps tivesse conseguido corrigir a marcação francesa. Mas, Mbappé, com seu talento, juventude e categoria, aproveitou um passe do outro mundo de Pogba em que o próprio Pogba concluiu, na jogada de Mbappé, em uma segunda tentativa, colocando fora do alcance do goleiro Subasic. Pela primeira vez na Copa, vi a Croácia sentir que não tinha meios e pernas para mudar o jogo. Foi aí que Mbappé desferiu um chute colocado e praticamente sacramentou o bicampeonato francês.

Talvez por excesso de autoconfiança e relaxamento o goleiro francês deu um gás extra ao time croata que poderia tê-lo colocado novamente no jogo. Mas a montanha que Croácia teria que escalar para chegar a mais uma vitória heroica era imensa. E bastaram cinco ou dez minutos para que ela percebesse isso, se dispersasse em campo e a França ficasse mais perto de um placar que não ocorria em finais de Copa do Mundo (5 a 2) desde Brasil e Suécia, em 1958. No entanto, o jogo ficou mesmo nos 4 a 2.

Parabéns à França, bicampeã do mundo, com um futebol dinâmico, arrojado, extremamente técnico, organizado, bem estruturado e com uma mistura de jogadores que deu a receita ideal para o excelente treinador e campeão do mundo, em 98, como jogador, Didier Deschamps.
Sobre a Croácia, o que já havia dito antes, bravura, muito conjunto, muito treino, ótima técnica de alguns jogadores, incluindo Modric, e uma colocação histórica  para seu futebol e seu país em Copas do Mundo. A Croácia é vice-campeã mundial e está de parabéns.

Sigo com uma nota sobre a partida de ontem entre Bélgica e Inglaterra que deu a Bélgica, de excelentes jogadores, um grande goleiro e de um dos nomes principais dessa Copa, de um futebol extremamente técnico e habilidoso, Hazard, também a conquista de um inédito terceiro lugar em Copas do Mundo. Seleção forte, bem treinada e não seria injustiça alguma se estivesse na final hoje.

Já a Inglaterra parece ter perdido a receita de Wembley, em 66. Nas últimas Copas andou até revelando alguns bons jogadores como Lineker, Owen, Beckham, Lampard e Gerard. Foi o que a Inglaterra conseguiu apresentar de melhor. Mas seu jogo não apareceu e não dá o ar de sua graça desde a Copa de 1970.

Vou ficando por aqui, parabenizando mais uma vez a França e a Croácia, e prometendo, para esses dias, falar um pouco da Copa da Rússia 2018, de modo geral, em seus avanços e retrocessos.

Abraços!

quarta-feira, 11 de julho de 2018

CHEGOU A HORA! FRANÇA OU CROÁCIA?



Amigos, chegamos, enfim, ao capítulo final de uma Copa do Mundo equilibrada e que, além de trazer surpresas, nasceu e vai terminar, no próximo Domingo, rigorosamente sem favoritos. Embora haja alguma preferência à França, como eu mesmo creio, depois do que vimos hoje entre Croácia e Inglaterra, tal convicção é mero palpite.

No jogo de hoje, eu acreditava mais na Inglaterra. Dava como certo, para mim, que a final seria entre ela e a França. Talvez tenha levado demais em conta as melhores atuações anteriores do selecionado inglês com mais forte marcação e uma maior variedade de jogadas. Superestimei o cansaço croata. As duas prorrogações e as vitórias nos pênaltis pesavam na minha visão. Esqueci de levar em conta a experiência, o talento de alguns jogadores como Modríc, e a realidade muito positiva que já se chama Zlatko Dalíc, o excelente técnico croata.

Quando a Inglaterra abriu o placar, logo aos 5 minutos, cheguei a prever uma vitória fácil. Outro engano. Não sei por que razão, após cerca de 20 e poucos minutos de equilíbrio, a Inglaterra recuou sua linha intermediária e sua linha de zaga foi jogar praticamente dentro de sua própria área.

No início do segundo tempo, esse quadro se acentuou mais ainda. Com o time inglês jogando praticamente em contra-ataques e a Croácia valente, intacta e ofensiva, trocando passes e jogadas conscientes, às vezes com 5, 6 jogadores na entrada da área inglesa. Vez por outra levando perigo ao gol do excelente Pickford. Jogando certo, a Croácia empatava o jogo. O time inglês sentiu e começou a mostrar, além de imaturidade, ineficiência ofensiva e um excesso de dependência de seu artilheiro, Harry Kane.
O panorama foi esse até o fim do tempo regulamentar. Quando muitos apostavam que a Croácia iria sucumbir a mais uma prorrogação, a Croácia superou a Inglaterra, física, técnica e taticamente. Uma equipe unida, serena, veloz e trocando passes traiçoeiros chegou ao segundo gol e poderia ter feito mais, colocando a Croácia numa final inédita no próximo domingo. No sábado teremos outro tira-teima entre Inglaterra e Bélgica na disputa pelo terceiro lugar.

Quanto ao jogo de ontem entre França e Bélgica, até agora, pra mim, foi o jogo da Copa. Embora o placar tenha sido magro - 1x0 a favor do time Francês - o jogo mostrou uma disputa extremamente acirrada de uma excelente seleção belga, que já não perdia há 24 jogos, bem distribuída e bem comandada pelo excelente Roberto Martinez, com assessoria do grande francês, Thierry Henry. Só que do outro lado havia outro grande francês chamado Deschamps, que comandava com enorme talento, simplicidade e conhecimento uma das favoritas, que apontei em minhas crônicas anteriores, ao bicampeonato mundial.

A França veio crescendo de produção jogo após jogo, e isso é um fator muito importante. Tem um extraordinário goleiro, dentre os tantos desta Copa, uma zaga sólida com Varane e Umtiti, um volante extremamente versátil e incansável na marcação, chamado N’Golo Kanté, um armador ofensivo de altíssimo nível técnico como Griezmann, seguido do fabuloso craque de 19 anos, Kylian Mbappé. Giroud, embora fraco tecnicamente e nesse jogo da Bélgica tendo desperdiçado várias chances, destoando dos demais, luta muito e dá profundidade ao ataque francês. Tem deficiências, mas é útil.
O resultado foi plenamente justo. Mas o nível técnico e competitivo dessa partida foi tão grande que se a Bélgica tivesse saído vencedora, não seria uma injustiça. O Futebol que jogou Hazard foi de encher os olhos. Assim como a força defensiva e a pressão belga, que obrigou o time francês a se defender com unhas e dentes.

Para encerrar, felizmente, o VAR deixou de ser o personagem principal nesses últimos jogos e o futebol apresentado melhorou bastante. O campeão ou bicampeão domingo, seja qual for, levará uma taça das mais disputadas e suadas de se conquistar em uma Copa do Mundo, onde o equilíbrio foi a tônica.

Até Domingo, onde conheceremos a seleção campeão do mundo de 2018!



sexta-feira, 6 de julho de 2018

BRASIL: MAIS UMA DERROTA DE UM MODELO FALSO

Gleb Garanich (Reuteurs)

É muito triste escrever após mais uma derrota mundial do futebol brasileiro. Hoje partiram mais duas equipes sul-americanas que juntas somam 7 títulos mundiais, Brasil e Uruguai. Antes já havia partido a Argentina, com mais dois. O que está errado, gente? Incansavelmente tenho postado aqui nas minhas crônicas, quem acompanha pode constatar, no caso do Brasil, nossos inúmeros problemas e defeitos. E o pior deles é uma mentalidade artificial que foi construída no nosso futebol.

Alertei várias vezes, chegando a cansar o leitor, que não jogamos amistosos suficientes e contra outros tipos de escolas, senão as sul-americanas, ou no máximo, muito recentemente, algumas europeias como Áustria, Croácia, Alemanha e Inglaterra, que atuou com o time reserva. O que foi muito pouco. Isso contribuiu para uma falsa impressão de que tínhamos uma equipe pronta. Tínhamos sido testados em parte. Tínhamos um comando trocado há apenas 2 anos e seguíamos com uma federação e seus mandatários apodrecidos, sem moral alguma. A ponto de seu ex-presidente sequer poder acompanhar os jogos fora do país sob o risco de ser preso.

Naturalmente aparecerão listas de culpados, como é comum no Brasil. Acusar, nominar, escolher o bode expiatório é comum no Brasil. Tentar entender que as raízes do futebol brasileiro não nasceram pra se adaptar à ciência e ao pragmatismo é que são elas. Nosso futebol nasceu e venceu criativo, ofensivo, dinâmico, driblador, catimbeiro, não imaturo ou comandado pela opinião pública e pelos empresários de jogadores com fartura para todo lado.

Nosso futebol, meus amigos, não aceita soluções “quebra-galho”, tipo: “Não está acertando aqui, entro com Firmino. Não deu certo lá, eu ponho o Douglas Costa. Eu preciso ganhar, lanço mão do Renato Augusto”. Pobre Renato Augusto. Pobre Coutinho. Pobre Gabriel Jesus. Pobre Alisson. Pobre Miranda. E alguns que eu possa estar esquecendo ou fazendo injustiça. Abrir mão de armar um meio campo com Renato Augusto e Philippe Coutinho juntos, ter um Neymar sem posição fixa (o mesmo acontecendo com o Willian), é, para muitos, bastante antiquado, não? É ali que se começa o domínio do jogo e criação de todas as ações ofensivas. E tínhamos jogadores com habilidade suficiente para isso no elenco. O meio campo que foi bombardeado pelas forças teóricas, físicas e científicas que invadiram nosso futebol.

Sei que a opinião pública vai ser covarde em direcionar suas baterias contra Neymar, o próprio Fernandinho... A culpa não é deles. A culpa é do modelo adotado por quem os dirige. Fernandinho sequer poderia ser convocado. E Neymar já dá sinais há muito tempo (puxa vida!), há muito tempo, que precisava de alguém que lhe ajudasse. Tirasse dele o que ele tem de melhor. Fosse sincero com ele e com toda atitude que necessitasse ser tomada para digerir seus incontáveis excessos. Bola? Ele tem demais e sempre teve. Foi muito triste vê-lo várias vezes perdido em campo. Foi muito triste ver o meio campo da Bélgica envolvendo o inexistente meio campo brasileiro, praticamente formado por volantes, com bola de pé em pé, na iniciativa do genial artista da Bélgica, Hazard, que deu um verdadeiro show na nossa seleção. Se há anos ao invés de uma camisa vermelha envergasse uma da seleção brasileira, ora, ora, tranquilamente mais um virtuose que saiu do nosso forno direto para os gramados.

Teríamos perdido hoje por Gabriel Jesus não ter se infiltrado nas costas de Willian, como pediu Tite em uma leitura labial capturada pela TV? Foi por causa do excelente goleiro belga? Antes fosse. Nós não perdemos por causa disso, não. Perdemos por um conjunto de erros de um futebol viciado em pragmatismo, em teorias que abriram mão da nossa arte, da nossa criatividade e do nosso drible. De comissões técnicas que parecem um parlamento. Com o agravante de dezenas de jogadores que só são convocados porque jogam no exterior. Mas, ninguém leva em conta se seu amor a nossa camisa vai ficando pelo caminho, sendo camuflado por milhões de dólares e euros. A África já revelou grandes jogadores e até hoje não se firmou por causa desse fenômeno social. Na hora de nossa convocação, fala mais alto quem tem empresário mais forte e joga fora do país. Apesar de hoje em dia não termos deixado no Brasil tantos jogadores de mais qualidade do que os que estavam na Rússia, muitos deles fizeram falta e jogam bem mais do que os que jogaram lá. Fatalmente a maioria adere a comercialização e globalização do futebol.

O Brasil perdeu a magia, gente. Ou melhor, condenaram e expulsaram o dom da magia. Mesmo com o futebol em vários momentos provando o contrário. Como disse a preparação física da seleção brasileira a dias do início da Copa: “Hoje nós não temos mais jogadores de futebol. Temos atletas”. É verdade! Com algumas exceções, vocês disseram a verdade. E o resultado, meus camaradas, é esse aí que vimos e estamos vendo há muito tempo. Não precisamos de poetas e filósofos comandando jogadores de futebol. Mesmo que inteligentes, cultos e de bom senso. Precisamos de técnicos de futebol que respeitem os caminhos da bola e a real essência do nosso verdadeiro futebol. Porque no campo, Tite, a sorte, o “aleatório”, é quando se vê um jogador de 95kg da Bélgica, Lukaku, dar um nó em Fernandinho e Paulinho, no meio campo e ligar De Bruyne, chegando ao fatal segundo gol.

Com relação ao Uruguai e França de hoje, passei a ver o selecionado francês, que contraria em parte o que disse acima porque sua imensa maioria no elenco é naturalizada ou descendente direta de africanos, como favorito. No entanto, eles amam a França e se doam, como fizeram hoje. E a França tem planejamento, tem metas, um bom treinador que jogou futebol e, que eu saiba, o presidente de sua federação não é procurado pela polícia. Apesar de considera-la favorita, pode haver de tudo. Pode haver um campeão que nunca tenha posto as mãos nessa taça, o que não seria para mim uma surpresa.

Quanto ao Uruguai, que jogou o que pode, fez o que pode, dentro de sua escola e comandado por um dos melhores treinadores do mundo, sentiu a ausência de uma de suas poucas estrelas e foi derrotado com justiça pela França. Lamento por praticamente o fim de uma geração de bom futebol que representou a celeste olímpica nas últimas Copas.

Vamos aguardar o desfecho das quartas de finais e a vinda das finais. Foi o que sobrou para assistirmos na nossa Samsung. Isso nós que ficamos aqui. Aos brasileiros que foram a Rússia, salvo os que foram desfilar falta de educação e respeito (como uma grande parte já havia feito aqui, em 2014, com motivações extracampo e de cunho político), desejo um bom regresso ou um bom final de Copa, dentro da medida do possível.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

OITAVAS DE FINAL: NÃO DEIXE A TV MENTIR PARA VOCÊ


Vou me deter nos dois jogos de hoje e no excesso de pirotecnia que está envolvendo essa Copa do Mundo. Abrindo com o jogo do Brasil, o time teve dificuldades na primeira etapa com um México que corria muito, chegava, mas não definia. Digamos que até os 20 minutos o México teve mais presença e criou na base da correria algumas jogadas de perigo. Ansiosos e estabanados, os mexicanos concluíam mal.

A seleção parecia não se assustar. E a partir da metade do primeiro tempo começou a mostrar alguma melhora. O jogo do Brasil apareceu mais, após encerrar o primeiro tempo em 0 a 0, quando na segunda etapa Willian, o melhor em campo, passou a flutuar na criação, sem posição fixa. E Neymar, jogando com inteligência, também não se prendia aquele cantinho do lado esquerdo. Bastou isso para o gol não demorar a sair.

Pelo lado do México, seguia um time à imagem de seu treinador, que parece da escola de Sampaoli. Aguerrido e com sede de vitória até demais. Este excesso de vontade não deixava jogadores limitados do México ao menos pensarem. O placar magrinho nos dava uma vantagem, enquanto o México caía mais. Ou esbarrava em Thiago Silva, firme e seguro, não encontrando brechas para penetração.

Outra vez Neymar selou a vitória ao deixar apenas o toque final para Firmino. De positivo, o amadurecimento nas horas difíceis e o equilíbrio emocional e uma defesa bem postada, jogando com tranquilidade e seriedade.

Sobre a polêmica de Neymar, acho que não vale à pena me estender. Apesar do mexicano ter pisado nele de forma intencional, houve o habitual circo naquele momento, com a colaboração de um juiz fraco, que permitiu que um lance fora do gramado paralisasse uma partida por tanto tempo. Nesse ponto, o técnico mexicano tem razão de reclamar. Em relação a Neymar, aí já não é problema dele.

Vamos pegar uma Bélgica que é uma interrogação. Não vejo favorito no jogo. A oscilação nas atuações tem sido muito grande. No nosso caso, a vantagem é que o time vem num crescente. Devagar, mas vem.

Sobre a manchete, chamo sua atenção para derrubar conceitos e para detalhes que você não está vendo como torcedor. Uma Copa do Mundo hoje é um evento para o país que a promove, para a FIFA e, para os países participantes, um acontecimento mais comercial do que se pode imaginar.

Exageram em praticamente tudo e entopem você de imagens consecutivas que, sem se dar conta, você vê o que não está acontecendo. A falsa emoção que gera o ibope necessário aos anunciantes e até algumas resenhas deturpam a realidade do que vemos. Deturpam coisas como: “O Brasil ou o Japão ou a Bélgica fazem uma linha de 3, uma linha de 4...”. Ou com recursos computadorizados mostram a você, muito bonitinho, com um círculo colorido, jogador A correndo para um lado, o B atrás de um adversário, o C vindo por trás de todos, como se isso fosse combinado.

Ora, em uma ou outra jogada existe o espelho do treinamento e do coletivo. Mas nem as seleções mais disciplinadas taticamente se limitam a se postar em campo, atacar ou defender, de forma tão planejada e obediente. A tal linha de 3, meus amigos, é superada quando o adversário encontra um espaço devido a uma jogada que ninguém pode prever e, na maioria das vezes, redundante de um erro do adversário.

O deslocamento ofensivo ou defensivo não obedece 10% do que é desenhado e traçado no quadro negro antes dos jogos. Ele se ajeita. O jogo se molda. À velocidade, ao talento, à força e à inteligência ao usar os espaços que aparecem ou não. Mas quem decide é o jogador. Essas equações táticas são pura conversa fiada.

O futebol é simples e ainda surpreendente. Como hoje quando um evoluído Japão, todo certinho diante de uma apatia generalizada do time da Bélgica, aproveitava duas chances e chegava ao 2 a 0. E após 2 substituições que deveriam ter sido feitas antes, a Bélgica passa a encontrar uma melhor atuação e vira o marcador com toda justiça, sim. Simples assim. Se o plano tático mudou, foi consequência dos rumos do jogo.

Não adianta, há duas formas de você chegar ao gol e vencer. Você parte num contra-ataque, aproveita bem os espaços e define a jogada ou você cria espaços com sua movimentação, drible e precisão no arremate. Fora isso, os gols só saem em cruzamentos vadios onde sua zaga para, sem explicação, ou seu goleiro falha num chute despretensioso. Ou seja, quase por acaso.

Vamos em frente!