domingo, 24 de fevereiro de 2019

COMO FUNCIONAM AS CATEGORIAS DE BASE NO BRASIL


Eu tenho certeza que muita gente no futebol, jogadores, dirigentes, comentaristas, não gostam muito de se estender sobre este assunto. Atualmente é meu assunto predileto. Pois é justamente nas categorias de base que o futebol se desenvolve, se renova e mostra sua verdadeira cara.

No âmbito profissional você já tem jogadores feitos, bem ou mal trabalhados, escolhidos de forma certa ou errada, mas já é uma outra visibilidade. Atualmente não há interesse em expor como funcionam e os bastidores na maioria dos clubes no tocante às categorias de base. Já trabalhei nelas e conheço o andar da carruagem, digamos assim.

O funcionamento e detalhes superficiais muitos conhecem. Os jovens vêm de vários locais, muitos chegam desde cedo, desde a categoria sub-11, pois as duas anteriores são mais um agrupamento e na maioria das vezes quase uma atividade para essa faixa de idade. Prefiro me ater à sub-17 e à sub-20. Não que a sub-15 não tenha sua importância, mas não meu entender a confusão já começa por aí. A faixa de idade entre às categorias é muito variada. E colocar isso no papel e na estrutura que envolve o aprendizado de um aspirante a jogador profissional fica muito pouco definido e com eficiência duvidosa. A começar pelo critério de trabalho a ser usado.

Não é novidade para ninguém que atualmente nas categorias de base dos clubes, e isso já é assim há muito tempo, os empresários dão às cartas. Seja na escolha dos treinadores, auxiliares e preparadores físicos que nelas trabalharão, como de seus próprios dirigentes. Poucos são as crias reais dos clubes, que lá chegaram pelas mãos do pai ou levados pelo sonho, indo por iniciativa própria.

Essa influência, aliada a uma mentalidade vigente na maioria dos clubes, onde se privilegia a força, a estatura e a disciplina tática ao invés da qualidade técnica, não produz jogadores de futebol. Produz robôs. Em alguns clubes como Santos e Cruzeiro e os próprios Corinthians e São Paulo, com alguma margem para o Flamengo, do Rio, há um pouco mais de exigência técnica nesse processo. Seja lá quem forem os “mandachuvas”.

Mas, no momento da peneira, de separar o joio do trigo, é que são elas. É aí que viciados nesse sistema emburrecido e vazio vão tentando vender para você o “futebol moderno”, de correria, intensidade máxima e força. E, normalmente, a maioria dos olheiros e dos chamados professores dos clubes, podem ter vários diplomas, mas não têm conhecimento prático do mundo da bola, do ambiente real do futebol num todo. Principalmente o que julgo mais importante: observar as características e dons de cada jogador e sua adequação ao estilo de jogo e à tradição de um país.

Por aí vão forçando revelações que não estão prontas ou que não têm as virtudes necessárias. Os parâmetros de seleção estão errados. Não funcionam e jamais vão funcionar. Não adianta ir contra o estilo de jogo que deu a este país 5 títulos mundiais. Não adianta tentar chama-lo de moderno, modificando suas raízes e seus verdadeiros valores, como a liberdade de criação, o drible, a imaginação, a catimba, o diálogo entre eles em campo, enfim... O modus operandi da nossa escola de futebol.

Por essa razão os treinadores no país são mais valorizados do que deveriam. E muitos de fora que herdam a estrutura correta também são vistos como “deuses da área técnica”. Futebol é uma arte. E tem de ser julgado por quem entende de arte ou foi artista. Não seria num banco de faculdade, no caso dos que trabalham em contato direto com o futebol, que surgiriam os gênios da prancheta, do powerpoint e de outras inovações que no papel ou no quadro imantado são muito interessantes, mas que na preparação de todos os fundamentos que envolvem um bom jogador profissional atrapalham, confundem e limitam ao invés de desenvolverem.

Uma boa semana a todos!

domingo, 17 de fevereiro de 2019

NA DECISÃO DA TAÇA GUANABARA AS AUTORIDADES FORAM O DESTAQUE


Meus amigos e minhas amigas,
Não existe prazer algum em relatar nesta coluna o que aconteceu hoje no Maracanã, no jogo entre Vasco e Fluminense, pela final da Taça Guanabara. Penso que a incompetência, a falta de bom senso e a mediocridade no futebol brasileiro chegaram ao seu ápice hoje.

Tenho certeza que detalhes mais extensos da confusão envolvendo às autoridades, tanto esportivas, como judiciais, que redundaram em cenas absolutamente impensáveis antes de um jogo de futebol não merecem maiores comentários. Pouco interessam nomes à esta altura. Creio que até a mídia especializada não teve acesso a tudo que aconteceu antes e até durante esse jogo.

O nosso futebol não precisa mais de quem o derrube. Ele já se apresenta por baixo. Sem moral e sem a tradição que o levou as cinco estrelas mundiais. Lamento pelo que o Brasil e parte do mundo, com certeza, viram esta tarde, no Maracanã.

Também não posso deixar de lembrar que o país atravessa um momento onde não existem leis sendo cumpridas à base de sua Constituição. Envolto em um Golpe de Estado, muitas coisas que acontecem e têm acontecido, no futebol e em outros setores da sociedade, são devidas a essa vergonha em que os personagens desse Golpe transformaram o Brasil.

Prometeram um Brasil diferente. Um outro Brasil. Parece que realmente conseguiram. Em toda minha vida nunca vi um país, na prática, sem governo, sem regras, sem amor, sem respeito ao seu povo e tão violento e agressivo. Esse não é o Brasil. Jamais foi e nem sei se conseguirá se recuperar dos valores que está perdendo e das agressões que está sofrendo covardemente de quem atualmente tenta comandar e ditar normas neste país.

A outra atitude inédita além da inicial que provocou a guerra e a confusão nas ruas que cercam o estádio, ainda insolitamente, aos 34 minutos do primeiro tempo, liberam a entrada dos torcedores. Até dentro de campo, a essa altura num transcorrer de um 0 a 0, notava-se se a surpresa dos jogadores, até do banco de reservas. Perguntando e olhando entre eles mesmos: “O que é isso? O que aconteceu?”. Eu também pareço ter acordado de um pesadelo. Não sei que Brasil é esse e porque isso aconteceu.

Sobre o jogo em si, o pouco que posso dizer é um Fluminense empolgado, mas bem focado e jogando com entusiasmo e melhor desenvoltura do que antes. Mas que tem um esquema tático já condecorado como ousado e primor do seu treinador Fernando Diniz. Ocorre que, para mim, o treinador está errado. Nunca que jogar para trás é a melhor ideia. A menos que ele ache que o Fluminense tem alguma semelhança com o Barcelona, Real Madrid...

O treinador já possui um zagueiro fraco e sem velocidade que não se justifica ter sido contratado para o lugar de Gum, Matheus Ferraz, que joga torto, num costado direito do campo. Não vejo sentido algum ou rendimento algum neste tipo de estratégia. Além do mais, os dois jogadores de meio que têm (pode ser que com a entrada Ganso consiga prender essa bola na armação), são jogadores mais de desarme e luta. Apesar de Bruno Silva ser, sim, um bom jogador, ele não é ofensivo.

Está tudo começando ainda. O próprio Vasco não tem uma cara. Conta com dois ou três jogadores, como Danilo Barcelos (mesmo tendo feito o gol do título), Lucas Mineiro e Leandro Castán, que não poderiam ser titulares de um time tradicional como o Vasco. Além de uma clara dependência de Pikachu para as jogadas mais agudas ofensivas e às definições do centroavante argentino Maxi López, que ainda não se encontra em uma forma física e técnica ao menos razoáveis.

Entretanto, a intensidade do Fluminense fez uma vítima, lesionando seu melhor jogador até então, Bruno Silva. Apesar da entrada de Caio, jogador que me deu ótima impressão, o Fluminense voltou a recuar e fazer aquele joguinho da zaga para o goleiro. Ora, o goleiro tricolor é fraco com os pés, não é nenhum Neuer, e Digão e Matheus Ferraz não são Hummels e Boateng. Com a entrada de Ribamar, a velocidade pressionou o erro da defesa tricolor. Numa dessas, o time falhou na saída de bola ocasionando uma falta, que o limitado, mas forte lateral vascaíno Danilo Barcelos cobrou e, para mim houve um desvio sutil de Marrony, quase imperceptível, que deu o título ao Vasco, explorando o já exausto Fluminense.

E ficamos por aqui. Uma boa semana a todos!

domingo, 10 de fevereiro de 2019

VIDA OU MORTE DOS CAMPEONATOS ESTADUAIS NO BRASIL


Antes de falar sobre o assunto principal do blog de hoje, que não foi postado domingo passado por impossibilidades técnicas, quero fazer um breve comentário sobre o domingo de luto no futebol pela tragédia que vitimou jovens da base do Flamengo.

Não me cabe achar culpados, embora tenha minha opinião particular, porque não sou perito criminal. Só quero reforçar o desejo de que os familiares dos mortos e sobreviventes tenham muita força e fé para seguir adiante. No mais, você que me acompanha sabe meu pensamento sobre o comércio que fazem no futebol amador. Enquanto existir esse tipo de mentalidade que só visa o lucro e a ganância, o futebol será cada vez mais pobre e cada vez mais fraco.

Voltando ao tema principal do blog, tem sido repetitiva na boca do povo e nas resenhas esportivas a dúvida sobre a sobrevivência dos campeonatos estaduais. Uma grande parte não abre mão dos famosos estaduais das grandes cidades. Outros defendem que eles já deviam ter acabado há muito tempo.

Pessoalmente prefiro a morte desses calendários que estão aí. Não há planejamento e sucesso possível com seu modelo. Durante a temporada, você acha aqui ou ali algum jogo que justifique o público presente ou destaque na mídia. O aperto de datas, devido a ganância dos dirigentes e empresários, contribui diretamente para essa “areia movediça” que parece estar nos campos de futebol no início das temporadas, como os Estaduais.

Por mais que os dirigentes se esforcem não há como negar a incompetência e o desvio da finalidade e da existência dos jogos de alta rivalidade. Que graça tem uma rivalidade entre um Fluminense e Vasco, sendo disputada no Estádio Mané Garrincha, com um gramado inacabado, totalmente improvisado, e trazendo riscos físicos aos jogadores? Sem falar que não há dinheiro que justifique que o jogo seja disputado lá.

Já na rodada de São Paulo, jogando no Allianz Parque, o Corinthians derrotou o Palmeiras por 1 x 0, mesmo placar da vitória do Vasco sobre o Fluminense, num jogo de bem melhor técnica, melhores jogadores e um gramado em boas condições. O que ficou devendo lá foi a parte disciplinar. A crônica esportiva tem aceitado com muita naturalidade, contaminando o próprio torcedor, esse arranca-rabo e bate-boca constante entre jogadores nas faltas mais ríspidas e nos lances polêmicos.

O juiz é a lei. E no Brasil, a maioria está mais preocupada com sua imagem, em aparecer, do que arbitrar. Dá muito papo, conversa muito, é rigoroso demais em jogadas normais e pra lá de condescendente com jogo violento e as agressões verbais de lado a lado. Não tem essa de que expulsando dois ou três, você vai danificar o espetáculo. Muito pelo contrário.

Outro grande problema, já toquei nesse assunto aqui, são os horários criminosos. Em pleno verão atípico na cidade do Rio de Janeiro, a televisão ainda tem moral pra obrigar a realização de um jogo às 17h, com sol de 16h. Nem no melhor da forma física a resposta individual vai ser satisfatória. É um crime e uma ignorância sem fim. O tal tempo técnico também é uma prova de desconhecimento do jogo. Futebol de campo não é futsal e nem basquete. Não dá, num espaço daquele, pra forçar uma parada quebrando a sintonia e as surpresas de uma partida de futebol, para expor seus patrocinadores e divulgar os treinadores e seus empresários com suas pranchetas mágicas, imantadas, tentando dar um golpe de Q.I num inocente telespectador.

Outra bola fora é a própria bola. Qualquer arremate de média ou longa distância você percebe que a trajetória dela não é a mesma das bolas dos anos 70 e 80. A construção e o material utilizados tem outras intenções, como tornar o jogo suscetível a erros e acertos que provoquem alguma emoção. Uma ideia lamentável.

Dar aos Estaduais sua autonomia, sua essência e identidade com o povo e a cidade, é o caminho para tentar, aliado a uma folga maior no calendário, reviver o que estes campeonatos sempre tiveram de melhor. A começar pela retirada do domingo nobre de times de menor expressão, deixando esse espaço para os clubes de maior investimento, com jogadores de maior categoria técnica. É uma briga difícil, mas o outro caminho só irá desgastar e jogar no lixo partidas que reuniam, e não reuniram mais, públicos acima de 170 mil torcedores.

É isso. Uma boa semana a todos!