domingo, 28 de julho de 2019

AS VÍTIMAS DA INTENSIDADE



Já toquei nesse assunto em algumas colunas, mas pelo visto vamos ter que conviver com essa rotina. A rotina-chupa sangue que vigora no futebol brasileiro. A rotina que passa do limite físico dos jogadores de futebol. Na rodada do fim de semana e nos últimos jogos que abrangem os outros campeonatos como Copa do Brasil e Libertadores, vários titulares já ficaram de fora de suas equipes lesionados, na maioria dos casos, pela fadiga.

O caso de Diego, do Flamengo, que sofreu uma fratura no jogo contra o Emelec, pode ser repartido com a ignorância da violenta entrada do zagueiro equatoriano. Mas o próprio ritmo do jogo conduz a isso. E na maioria dos casos são qualificadas como acidente de jogo. Ou que “faz parte” do jogo atual que tem que ser pegado e disputado palmo a palmo. No meu dicionário isso tem outro nome: falta qualidade técnica e ganância.

O Fluminense teve dois jogadores seriamente lesionados há poucos meses por conta clara de fadiga. O Internacional de Porto Alegre teve dois casos recentes de lesão por fadiga muscular. E pode buscar em outros clubes também, principalmente os que jogam o famigerado calendário que os cartolas pensam que dá lucro aos clubes, mas querem é enriquecer o mais rápido possível às custas deles.

Antigamente, era comum o coro da torcida quando determinados jogadores, na maioria dos casos as estrelas, saíam no início de um jogo por sentirem contusões já familiares ao público. Ocorre que a medicina esportiva não havia avançado ainda o suficiente para prevenir e evitar lesões repetitivas, assim como a preparação física que hoje tem como aliada a fisiologia esportiva. Mesmo assim, eles têm de corresponder à exigência do calendário, dos dirigentes, dos compromissos com patrocinador e nesse caso, naturalmente, têm que se virar. Todos trabalhando no limite ou fora dele. Pela quantidade de jogos e pelo ritmo do jogo. Decididamente não há quem aguente.

Hoje no clássico Flamengo 3 x 2 Botafogo, o Flamengo, que vem fazendo uma viagem só, com escalas em vários lugares do Brasil e da América do Sul, perdeu dois importantes jogadores e pasmem, jovens ainda, como Lincoln e Rodrigo Caio. No caso do Rodrigo Caio me pareceu lesão no púbis, o que tem a ver também com quantidade e intensidade de jogos. E o garoto Lincoln, músculo da coxa. O que vai bem de encontro ao método já claro a esta altura do técnico português Jorge Jesus, que não dosa ritmo e não vê limites para a intensidade de seus jogadores. 


E é bom lembrar que estamos ainda em julho, vindo de um mês de pausa devido a Copa América. Os times brasileiros ainda tem quatro longos meses pela frente com duas, três competições simultâneas e com metas de título ou rebaixamento à vista. Façam uma ideia do que poderá vir até o final da temporada. 

Notícia boa

Ufa! Não por minha culpa, porque aqui é o 'Futebol de Fato', e eu procuro retratar para o leitor a realidade do futebol que ele vê. Diante da escassez de qualidade e de novas atrações e promessas, me atrevo a apostar numa: Pedrinho, meia atacante do Corinthians. O 38 da equipe corintiana no Brasileirão não só desequilibrou o jogo contra o Fortaleza hoje, na virada do Timão, como mostrou qualidades de craque. E, melhor, não são de um jogo só. Vamos acompanhar com carinho a evolução do garoto e torcer para que o técnico Fábio Carille o lapide bem e a diretoria do Corinthians saiba valorizá-lo.

Boa semana a todos!

domingo, 21 de julho de 2019

FUTEBOL ÀS AVESSAS

Reprodução: TV Globo

Nesse caso específico estou me referindo à FIFA. Tenho reiterado o papel nocivo de dirigentes, empresários, jogadores, treinadores etc, com todos contribuindo para um futebol pobre, de baixa qualidade técnica e vazio em emoções, o quê, em alguns momentos, mal lembra uma partida de futebol. Mas a FIFA achou pouco e resolveu colaborar negativamente. Refiro-me a entrada da eletrônica, do VAR no futebol. Aquele momento em que se tira a alegria de uma torcida de gritar gol e faz de idiota aguardando às vezes por mais de cinco minutos soltar esse grito enquanto aguarda sua decisão que mais parece um médico anunciando o nascimento de seu filho.

Alguém no mundo do futebol terá de frear isso. Essa intromissão da FIFA julgando eletronicamente a parte técnica e disciplinar através da ciência exata não deu certo e ainda vai piorar. Começa pela inversão de autoridade. Se alguma dúvida partir do juiz e ele resolver pedir ajuda do VAR, é problema dele. Como dizem nos livros de arbitragem, é autoridade máxima em campo. Tirando a má fé e o trabalho horroroso historicamente falando de muitos juízes gerando antipatia, o ábitro tem a experiência de seguir uma jogada, um determinado lance percebendo-o de forma diferente das lentes e daquela turma que parece um parlamento entre quatro paredes conectando-se a ele.

Vejam estas três situações:

O futebol é um jogo de contato. Natural certos esbarrões. Natural que ao proteger a bola haja um toque involuntário ou insignificante no peito, no braço, próximo ao rosto do jogador que faz o combate que, num teatro costumeiro, faz do agressor o agredido. Na linguagem do campo, você domina, protege e o jogador abre os braços atrás de você como num sinal de jogada limpa, mas te acerta duas, três vez no tornozelo, imperceptivelmente. Numa reação natural você se protege. Não me refiro a cotoveladas e ao jogo repentino de braços para trás, mas uma proteção que você faz para obter uma distância física e proteger-se. Quantos já não foram expulsos devido a essa jogadinha que tem vários macetes?

Como ver pênalti num carrinho solitário de último recurso sem disputa direta que bate num braço de apoio do jogador que tenta interceptar um cruzamento? Não há como amarrar os braços. Desde que você não os use para obter uma clara vantagem, não os estenda em posição fora de seu campo de ação, onde está a irregularidade?

O goleiro do Fortaleza, no jogo contra o Atlético, defendeu uma cobrança penal absolutamente dentro da normalidade. Adiantar-se é bem diferente. Por sorte, o goleiro mostrou que o VAR estava errado e repetiu a defesa na batida de Luan.

Pra fechar, o clássico no Estádio do Corinthians, que me recuso a chamar de Arena, pois ali não existe tourada nem luta de gladiadores e sim uma partida de futebol, o erro do VAR ao intrometer-se na parte técnica. O impedimento é marcado pelos auxiliares ou pelo árbitro. Qual seria o papel dos auxiliares hoje, os populares bandeirinhas, se o “olho mágico” do VAR vê um impedimento de mais ou menos 26,7cm, uma chuteira tamanho 43, por exemplo, do zagueiro adversário? A câmera para, mas o jogador não. A câmera para quando a bola é lançada ou quando ainda está no pé do jogador?

Segundo a FIFA, a regra mudou. Não é mais quando sai do pé ou de outra parte do corpo do jogador que faz o passe. Mas então é de onde? Porque a bola estando parada no pé do lançador, do jogador que faz o passe, não é dado técnico que configure o impedimento. O passe, minha gente, tem um tempo variável de partida. Foi o que aconteceu no jogo de hoje. Antes do passe sair, havia uma chuteira deixando o jogador Gabriel em condições de jogo. Francamente... é vergonhoso e ridículo. O futebol não é um jogo estático, retilíneo e preciso que se tira uma dúvida com um photochart, digamos assim. É um jogo dinâmico. Não é e nunca pode ser exatamente como a chegada de um jockey e seu cavalo. O auxílio eletrônico deve ser utilizado para dirimir dúvidas pontuais, como por exemplo, o gol da Inglaterra, em Wembley, que foge ao olho humano pelo lance em si.

Pensem sobre isso.

domingo, 14 de julho de 2019

LIÇÕES DA COPA AMÉRICA E A VOLTA DO BRASILEIRÃO ASSAÍ


Começando pela Copa América, o que pode ser dito sobre seu legado é que todos no futebol sul-americano têm de voltar à realidade. E ela é bem feia, mas é real. Não existe mais espaço para ilusões. Argentina, Uruguai, Chile, Colômbia e até o Brasil, o estranho campeão do torneio, têm uma falência de jogadores de qualidade. Um Messi aqui, um Suarez lá, um Coutinho, mesmo assim às vezes irregular, e um Neymar duvidoso é o que temos. O mais otimista dos esportistas e até mesmo dos torcedores precisam enxergar que o lado técnico e profissional têm de voltar a ser priorizado com urgência. Não sou especialista em finanças, mas não é difícil perceber que até o lado financeiro foi deficitário. Sem emoção, dificilmente existe êxito geral. E o pior é que quando se reencontrarem novamente veremos testes e mais testes improdutivos, buscando achar a solução num simples troca-troca, quando o problema é bem mais extenso.

O torcedor ainda meio perdido, há cerca de um mês sem Brasileirão, não teve outra opção a não ser se reconectar a seus clubes. Tivemos uma rodada que teve pouco destaque. A goleada do Flamengo sobre o Goiás pode ter sido expressiva na contagem, mas o Goiás tem um elenco muito fraco e o Flamengo muito forte. Jogando em casa, então. E com sua torcida, saudosa, os mais de 65 mil presentes não me surpreenderam. Apesar do quê, não acredito muito no Flamengo do técnico português. Vamos conferir adiante.

Volto a chamar atenção pra esse negócio de VAR, usado de forma absurdamente equivocada. Ontem, por exemplo, no jogo Grêmio X Vasco, em Porto Alegre, o segundo gol vascaíno foi anulado devido a uma consulta ao VAR que julgava um lance bem anterior à finalização. Ora, meu Deus, qual é o papel do juiz? O gol foi anulado e o Grêmio saiu vitorioso. A máquina que está decidindo. Como também entrou em ação em outros jogos, como Chapecoense X Atlético-MG, gerando absurdos 11 minutos de acréscimos por dúvidas infantis que cabem ao juiz da partida julgar. As coisas já estão difíceis, se o protagonismo for deixado na tal modernidade eletrônica, aí vamos todos pro brejo.

RACISMO
Um outro detalhe importante que me chamou a atenção nesse jogo que assisti, a vitória do Atlético-MG sobre a Chapecoense, foi ao final da partida torcedores da Chapecoense repetirem o que virou rotina. Atos explícitos de racismo em relação ao adversário, ou mesmo de seu time, que perdera a partida. Isso é nojento, melancólico, criminoso. É nojento! Mas o que, afinal de contas, o Brasil de hoje tem pra dar de exemplo ou cobrar boas atitudes de seu povo?

Até a próxima!

domingo, 7 de julho de 2019

UM BRASIL SEM BRILHO VENCE A COPA AMÉRICA


Minha gente, numa tarde fria, até demais para os padrões cariocas, a torcida que pôde comparecer ao Maracanã e pagar cerca de 200 dólares, em média, viu o Brasil vencer mais uma Copa América: 3 X 1 diante do Peru. Porém, não viu emoção, competitividade, alegria, futebol bem jogado e uma grande integração da torcida num todo com o jogo.

Foi muito triste em matéria de qualidade e de futebol o que vi das duas equipes. De cara, um gramado ruim, embora aparentemente verdinho, reluzente, com a bola quicando como se fosse uma bola de tênis, trazendo maior dificuldade em seu domínio e promovendo, em alguns momentos, um festival de erros e um perde e ganha que lembrava bastante uma pelada de várzea. O Brasil saiu na frente graças a precisão de passe de Daniel Alves e a velocidade de Gabriel Jesus. Isso foi suficiente para abrir o placar na conclusão fácil de Everton na mal postada e estabanada defesa peruana. O jogo seguiu sem sal, com o time brasileiro recuado, explorando os contra-ataques, a exemplo do que fizera na partida contra a Argentina.

Para surpresa de todos e com o Brasil já cedendo mais campo ao Peru, em um cruzamento despretensioso, a bola toca na mão de Thiago Silva e, mesmo consultando o VAR, o juiz chileno marca um pênalti inexistente. A FIFA tem que arrumar, entre outras coisas, as regras do jogo e o papel do VAR ou os jogadores terão de entrar em campo com uma cinta elástica amarrando os braços à cintura. Cobrado o pênalti, o Peru chega ao empate para desespero do agitado técnico Tite, que parecia gesticular e orientar mais a nós, espectadores, do que ao próprio time. Facilitando as coisas, o volante peruano Yotun briga com a bola e dá o presente que o Brasil queria. No último minuto do primeiro tempo, Brasil a frente outra vez.

Os primeiros minutos do segundo tempo mostraram um Peru estranhamente estático, pouco competitivo, que assistia a seleção brasileira jogar um futebol burocrático. Talvez pela facilidade de penetração ser tamanha, Coutinho e Everton andaram perdendo chances infantis. Mas não havia reação nenhuma por parte da equipe peruana. A partida seguiu arrastada, truncada e com lances de pouquíssima inspiração. Inexplicavelmente o treinador da seleção peruana, o argentino Gareca, não fazia alterações na sua equipe. Fazendo-me lembrar, estranhamente, do que dissera Messi sobre essa Copa América. O Peru parecia satisfeito em ser vice-campeão. Muito distante do Peru que vimos diante do Uruguai e do Chile, mostrando disposição e vontade incomuns. Se não atuara com desenvoltura, ao menos se defendia como podia.

Mas, não, nem o Peru atacava buscando o empate (só o fez em um chute de Flores que passou perto da trave de Alisson), nem o Brasil tinha jogada de preparação ofensiva e finalização. O time corria com a bola. Talvez irritado em não receber um mínimo de passes e tabelas, Gabriel Jesus exagerou em uma entrada sobre Zambrano. O juiz chileno foi rigoroso e deu o segundo o amarelo, o expulsando. Esperava-se uma pressão do Peru que não aconteceu. Volto a repetir, o Peru parecia satisfeitíssimo com o segundo lugar.

Até que, em jogada individual, Everton levou um tranco do zagueiro peruano e, novamente, consultando o VAR e tudo o mais, o chileno errou. A FIFA também terá de rever se o futebol virou basquete ou tranco de ombro, outrora permitido, hoje não é mais. Richarlison bateu e converteu, fazendo o terceiro gol da seleção e garantindo mais uma conquista de Copa América para a seleção brasileira.

Pessoalmente, confesso que espero nunca mais assistir a um torneio tão estranho e mal jogado, com raros momentos de brilho e emoção, como foi essa Copa América de 2019 no Brasil. Agradeço à seleção japonesa B por ter me dado alguns momentos de satisfação e esperança no futuro do futebol, pelo que mostrou no torneio.

Nota: meus parabéns à seleção americana feminina, que, aí sim, conquistou com sobras a Copa do Mundo de Futebol da modalidade, na França. O exemplo do futebol feminino americano está visível há mais de 20 anos para quem quiser ver. Planejamento, estrutura, competência, apoio e seriedade. No dia que o Brasil conseguir reunir metade do que as seleções femininas americanas reúnem, aí, quem sabe, vai poder brigar de igual para igual com ela e mais duas ou três. No momento, não existe adversário ainda para a seleção feminina de futebol dos Estados Unidos.

Boa semana!