sábado, 26 de março de 2016

BRASIL 2 X 2 URUGUAI. E SE JOHAN CRUYFF FOSSE BRASILEIRO?















Antes de explicar o título desta crônica, permitam-me homenagear este jogador sensacional que se despediu de nós. E antes de poder citá-lo, relembro duas passagens deste fenômeno que me marcaram muito. Ambas na Copa de 1974.

A primeira, na véspera do jogo com Brasil, o qual nós brasileiros temíamos muito. Lembro que após a derrota, na qual não tivemos uma atuação tão ruim diante do poderoso carrossel holandês, Cruyff confessou, em entrevistas, que o time da Holanda mal conseguiu dormir na véspera do jogo com Brasil, tamanho respeito que a camisa amarela representava.

E depois, na final contra a Alemanha, no primeiro minuto de jogo, o lampejo do craque. Diante de um paredão alemão dentro de seu país, com praticamente todo time ainda em seu campo, Cruyff, numa jogada individual genial e intuitiva, sofre o pênalti que leva a Holanda a abrir o placar. Ali ele mostrava que não há nada mais eficaz do que uma jogada individual bem feita e hábil para abrir um ferrolho como aquele. Defesas como Alemanha, Itália, Argentina e Uruguai são das mais difíceis de serem superadas quando se fecham.

Obrigado pela alegria também fora dos gramados, Cruyff. Como técnico. Passando sua experiência e seus ensinamentos. O futebol sentirá muito a sua falta.

Na sequência do título, como prometi, emendo com o que Cruyff faria hoje, a meu ver, se fosse brasileiro, contra o Uruguai pelas eliminatórias da Copa de 2018, no jogo que terminou empatado em 2 x 2. Certamente, o espírito de liderança e a tranquilidade que Cruyff passava e Dunga não possui, seriam mais um trunfo. Todo time espelha seu técnico. A agitação extrema de Dunga contamina para o bem e para o mal.

Outra coisa que ele, Cruyff, não faria, seria entrar em campo com Daniel Alves, que já deu o que tinha que dar (sua colaboração hoje é muito pequena) e com uma zaga de estilos similares, com Miranda e David Luiz jogando juntos, sabendo ele que, David Luiz, pode jogar onde for, mas não é um zagueiro seguro. Não é firme. Não se posiciona de maneira adequada. É muito afobado e tenta resolver tudo como se o jogo estivesse no último minuto. Já disse que não o usaria como titular.

Também não escalaria Filipe Luís como opção na lateral esquerda. Há de se descobrir alguém mais eficiente ou ficaremos presos a suas limitações. Fernandinho e Luiz Gustavo juntos? Na saída de bola e participando da armação do time? Jamais, não é, Cruyff? O jogo já começa errado ali. Já começa sem ritmo, sem padrão, sem habilidade, com a bola sendo mal tratada.

Deus me livre também que Cruyff caísse na asneira de abrir Willian como se fosse ponta. No próprio Chelsea ele mostra onde rende e gosta de jogar. No meio e na vertical. E também tenho certeza que Cruyff não entraria em campo sem um centroavante nato. Mesmo que não fosse dos melhores. Até porque a intenção de Dunga em abrir Douglas Costa e trazer Neymar para o meio, apesar de ser uma tentativa válida, anula os dois. A jogada de Douglas Costa acaba previsível e Neymar, que vem há muito tempo caindo de produção e perdendo contato com a alegria de seu futebol e o patriotismo coletivo da equipe em suas veias, não funciona jogando ali.

Neste jogo, apesar do Uruguai ter tido chances mais agudas de vitória lideradas por sua tradição, experiência e iniciativa de jogo de Cavani e a inteligência e velocidade de Luiz Suárez e o Brasil ter começado jogando parecido com o Brasil, através de um gol de pura habilidade de Renato Augusto, Neymar teve chance sim, por duas ou três vezes, de decidir a partida e não o fez porque procurou o caminho mais difícil na jogada. Botem na cabeça, Neymar não é Pelé. Há muito a ser feito e Cruyff saberia disso.

Ele treinaria exaustivamente a seleção, mas não abriria mão de escolher os melhores e de armar um meio campo com capacidade de criação suficiente para potencializar a força de seu ataque. Cruyff defendia um futebol técnico, mas objetivo. E não adianta mexer-se, movimentar-se o tempo todo, como fez a seleção brasileira, pois diante de tantos erros, não haverá sucesso.

Fica provado, mais que provado, que não adianta correria e alta velocidade para vencer um adversário hoje em dia. Se você não tiver um plano de jogo, habilidade para armar, souber escolher os melhores, dosar o ritmo e não tentar resolver tudo num passe de mágica ou numa jogada só, não adiantará ficar falando ou explicando que time A ou time B venceu porque encaixou melhor suas jogadas.

Nosso problema não é bem de “encaixe”. É muito mais de mentalidade de jogo e de visão do nosso melhor futebol e dos nossos melhores jogadores. Tenho certeza, como disse acima, se Cruyff nascesse brasileiro, tais ingredientes não haviam de faltar.

domingo, 20 de março de 2016

FLA 0 X 0 FLU EM SÃO PAULO

Foto: Marcello Zambrana / Agif / Gazeta Press
















Retratos do futebol moderno

Imaginei várias vezes quando criança jogos de grandes clubes de outros estados na praça de outros. Assisti a diversos jogos do Santos e do Palmeiras, além do Cruzeiro, no Maracanã, com mais de 100 mil presentes. E na ocasião, os que cruzavam seus territórios eram muito poucos. Gente do próprio estado mesmo e sem ser torcedor dos clubes que mencionei. Os próprios cariocas lotavam o Maracanã para assistir grandes times.

O público de hoje, no Pacaembu, foi até bem razoável para os dias atuais. Um predomínio esperado de mais de 80% de torcedores do Flamengo. Já sabemos as razões dos times “andarilhos” do Rio de Janeiro. Maracanã fechado, Engenhão em obras. Mas isso não serve de desculpa. É uma crueldade com o torcedor carioca assistir na TV seu clube de coração jogar com o clube rival a 300, 500km de distância ou mais. Uma privação e uma clara falta de organização e planejamento. O pior é que virou rotina.

Mas vamos ao jogo em si, do qual não podemos extrair nenhuma novidade ou grandes aspectos positivos a serem destacados. A meu ver um placar justo, com o Flamengo tentando trabalhar mais a bola, mas lhe faltando armação, qualidade e entrosamento para tomar as rédeas do jogo e um Fluminense que parece ter acertado na troca do treinador. Ao menos em termos competitivos e defensivos. O Flu fez um jogo claramente no contra-ataque, explorando os erros do Flamengo pelos lados em velocidade.

O que estragou, tanto ao Fluminense quanto ao Flamengo, foram os costumeiros erros de passes. Passes que não se erra nem em escolinhas de futebol. Além das precipitações de jogadas que já me acostumei a ver. Determinado time parece ter cerca de 5 a 10 segundos para chegar à meta adversária e concluir. Fazer o desfecho da jogada. Isso é incompreensível. A maioria dos times está jogando assim.

Naturalmente, tal precipitação aumenta os erros de passe. O time não quebra o ritmo, não arma jogadas, não pensa, não bola estratégias para chegar ao gol adversário. Martela sempre da mesma forma. Muita luta, muita vontade e muita velocidade. Mas, ações ofensivas e defensivas desastradas. Sem estratégias no mínimo lógicas. Um time fica esperando o outro dar uma cochilada para vencer a partida. Não toma iniciativa de superar seu sistema defensivo e suas linhas através da coletividade, da aproximação dos jogadores, dos passes objetivos e medidos e do drible, que eu canso de dizer, é fundamental.

Resumindo, diante desse quadro e dessa rotina, o resultado mais comum é sempre um zero a zero. O que você não vê é um Fla x Flu de verdade. Na realidade, uma pelada melhorada jogada em outro estado com as tradicionais camisas de times centenários, rivais famosos mundialmente e que detém recordes de público em jogos interclubes, mundialmente falando, difíceis de serem superados. Paciência, gente. Há de haver muito sofrimento e o talento vai residir em muitos poucos clubes da Europa e um ou outro do Brasil até que, falando de forma otimista, consigamos reaver a qualidade do espetáculo e do bom futebol jogado nas quatro linhas. 

Abraços!

segunda-feira, 14 de março de 2016

DOMINGO SEM FUTEBOL NO BRASIL


















Peço desculpas e a compreensão dos meus leitores do Brasil, Estados Unidos, Rússia, China e Alemanha, pela ordem os mais lidos, entre outros, pela ausência de informações relevantes sobre as rodadas dos Campeonatos Estaduais no Brasil, Libertadores e da própria estranha e informal liga criada pelos clubes que ainda não foi assimilada pelos torcedores.

A razão, senhores, é que a TV, no caso a Rede Globo de televisão, que detém os direitos de transmissão dos jogos dos clubes no Brasil de forma exclusiva, o que por si só já é um absurdo, abdicou de divulgar e prestigiar os jogos da rodada para prestar serviços políticos, como protestos por um golpe de estado no país em que detém uma concessão pública.

Vários jornais do mundo esclareceram o problema e alguns até mais amplamente como as edições do New York Times, do The Guardian e de outros jornais da América Latina, onde de imediato noticiam a crise política divulgada e alimentada por esta rede de comunicação. Dias após, ao entenderem o que se passava e comprovarem a tentativa de golpe por parte deste veículo e outros e a legitimidade do ex-presidente do país, Luis Inácio Lula da Silva, e da atual Presidenta Dilma Rousseff, teceram pesadas críticas contra o jornalismo brasileiro atual.

Não diria que fora do Brasil não estão entendendo nada, porque esse tipo de boicote tem sido comum no mundo e quase sempre alimentado por potências guiadas por seus interesses econômicos. Aconteceu parecido na Venezuela. Houve o episódio do Clarín na Argentina. E hoje, no Brasil, segue em curso a manipulação do povo através de informações falsas nos telejornais que dissimulam o ódio, a desavença e um estado de pré-guerra civil entre a população brasileira.

Deste modo, não houve espaço, nem clima, para a realização do esporte, o futebol no nosso caso, já tão castigado, mal organizado e depredado por esta Rede de televisão que ao deter a exclusividade de transmissão influi negativamente na qualidade do espetáculo, com a imposição de seus regulamentos próprios, patrocinadores e interesses alheios aos dos torcedores e do futebol brasileiro.

Aguardo um desfecho dentro das leis do meu país baseado na ordem e no espírito patriótico para a volta ao normal, pois já temos problemas demais. Agora mesmo já há escândalo no futebol na segunda e terceira divisões de São Paulo, com denúncias de manipulações de resultado e corrupção.

Que o bom senso e a justiça prevaleçam e, no nosso caso, mantenham o esporte, o futebol, acima de políticas mesquinhas, subalternas e nocivas ao próprio país.       

Peço mais uma vez desculpas e me sinto envergonhado. Pois, como se não bastassem notícias como as que transmiti na Copa de 2014 envolvendo resultados como Alemanha 7 X 1 Brasil, vexaminosos que mancharam a história do futebol brasileiro, me sinto na obrigação de informar em maior grau o lado negativo deste esporte. Mas é a realidade. 

domingo, 6 de março de 2016

TROCAR DE TREINADOR NEM SEMPRE É A SOLUÇÃO
























Prefiro falar de certos aspectos dos clubes de futebol, do nosso futebol, propriamente dito, e seus vícios do que comentar campeonatos esvaziados e, convenhamos, muito deprimentes. Há pouco, por exemplo, terminou o clássico da rodada, Fluminense x América, vencido pelo Fluminense por 1 x 0. A qualidade foi tão ruim e tão abaixo deste jogo que já foi clássico e algumas decisões do Estadual, outrora Carioca, que não merece maiores detalhes. E como falamos do Fluminense, este esteve na berlinda essa semana, na cidade, por conta da troca de técnicos. O clube acaba de contratar o veterano Levir Culpi, o seu quinto treinador em 12 meses. Há muitos anos o treinador sequer ficava na área técnica. Era sentadinho ou em pé no túnel. Hoje, na área técnica, ele faz o seu espetáculo. Sobre ficar ali, eu sou favorável. Mas não pense que a desenvoltura teatral de alguns mudam jogos, evitam derrotas ou promovem vitórias.

Num jogo com público apenas razoável, a maioria do que diz não é ouvido. Nem seus sinais e assobios. O que muitas vezes atrapalha ao invés de ajudar. Gritar “olha o ladrão!”, “foi falta!” e “olhe o companheiro atrás!”, isso o massagista pode fazer. Agora, sem essa que você muda uma equipe estando ali à beira do gramado. Não acredite nisso, amigo torcedor. A supervalorização que dão aos treinadores hoje no Brasil é absurda e prejudicial ao clube. Além do mais, ele tem, na maioria das vezes, uma semana para orientar seus jogadores. A área técnica serve para detalhes. Detalhes discretos. Mas ali é a chance dele mostrar que é o maestro do jogo que você está vendo e, mais tarde, na entrevista coletiva, será a celebridade da rodada. Garanto como técnico que também sou, que atualmente, com a filosofia reinante no futebol, que tenho criticado constantemente aqui, o treinador complica mais do que ajuda. Usa sua liderança para se autovalorizar. Aproveitar seu empresário (raríssimos não o tem) e valorizar o patrocinador que o paga.

Sobre a troca constante de treinadores, ela dá uma mostra, não só do planejamento equivocado do clube, como do pouco conhecimento dos que o comandam. Quando se começa um trabalho e são escolhidos os profissionais, você o faz porque confia neles. Existe um projeto, existem vários argumentos que sustentam sua escolha. Esse papo de “treinador vive de resultado” é o desafogo dos dirigentes. Demitiria sem pensar duas vezes, mesmo com uma série de vitórias, um time mal treinado e repetindo erros infantis. Mas isso enquanto houvesse tempo de mudar o rumo das coisas. Ao apagar das luzes, para salvar sua pele e obter resultados que mascarem erros táticos e técnicos, é continuar querendo viver iludindo seu clube, seus torcedores e o mundo do futebol.

Por fim, a troca, em algumas vezes, repara erros cometidos anteriormente por quem escolheu quem não serve. Sim, você pode se livrar de um vexame. Às vezes um profissional carismático e de boa relação com o elenco que dirige pode obter, em curto prazo, o que alguns não conseguem nem com super-salários, apadrinhamento celestial e excesso de tolerância. 

Uma boa semana a todos.