Amigo leitor,
Você já assistiu a um jogo do
campeonato estadual 2015 do RJ? Se positivo, está de parabéns, conseguiu o que
poucos conseguiram. Não é exagero, não. O campeonato atual possui regras
rígidas, muito rígidas. Vamos a algumas delas: com praticamente um mês de competição
você não deve assistir a nenhum jogo de qualidade. Muito menos saber o nome dos
jogadores, até mesmo do seu time, que irão atuar, do goleiro ao último
atacante. A própria transmissão de TV tem problemas. E olha que eles capricham
durante a semana pra que os jogos, tanto das quartas-feiras à noite quanto do
domingo sejam um fracasso absoluto. Nem chamadas persuasivas e as matérias
cobrindo os clubes são atrativas e motivam o torcedor. Essa é a regra da TV.
Parece que quanto pior, quanto menos audiência, melhor. Tem até alguma
semelhança com o desfile das escolas de samba. Mas a ideia é essa mesmo, até
porque, fora as semelhanças que são muitas, existem, sim, ligações entre
dirigentes de clubes de futebol com os patronos de algumas escolas. Teoria da
conspiração? Nem de longe. Isso é fato. Eu garanto a vocês. Já estive lá
dentro.
Os jogos são marcados Deus sabe
como. Contratos, meu caro? Ah, pra quê? Se assinou que vai jogar no Maracanã,
que diferença faz levar o jogo para o Nilton Santos? Se marcou pra São
Januário, qual problema em jogar em Volta Redonda? Mas isso, cá pra nós, não é
tanta novidade, né? Eu, por exemplo, nem sei o preço do ingresso do “clássico”
de hoje, Vasco 1 x 0 Fluminense. Outra regra é que pra ficar completo tem que
ter a figura de Eurico Miranda. Ele na tabelinha com o presidente da FERJ,
Rubens Lopes, é invencível. Tá aí outra semelhança com o samba. Com outro
patrono de escola recentemente campeã. Tem também uma regra inquebrável e
imutável. Todo clássico, havendo duas torcidas, tem que haver pancadaria. Mas
aí você diria: - “Em São Paulo também está assim e no mundo inteiro está
assim”. É verdade, mas hoje em Corinthians x Ituano, tinha mais público do que
no jogo Fluminense x Vasco. Aquele jogo do passado, lembra? Que você pra entrar
sabia que só podia comprar antecipadamente em alguns lugares o ingresso, em
dinheiro, sem brigas e atropelos, ou na fila do estádio, nas bilheterias, com
os torcedores do time rival ao seu lado. Convivendo civilizadamente. Mas, vamos
a tal regra que eu falei. Que o que escrevi anteriormente foi só uma viagem, um
lapso de memória do passado. Como estava me referindo lá em cima, domingo é dia
de jogo e pancadaria. A polícia já deve conhecer até pelo nome os rapazes que
frequentam os ônibus e as delegacias da PM.
As próprias torcidas brigam entre si. Porque como bem disse Ricardo
Rocha, muito torcedor do Botafogo por exemplo, torce para sua torcida
organizada e não para o seu Botafogo, o seu time. Portanto, é um mistério cercar e banir esses rapazes do
estádio domingo. Se lá pelo meio do caminho aparecer um jogo com algum apelo,
com torcidas rivais envolvidas, esqueça a família, vá sozinho ou fique em casa
se você não é chegado a coisas do tipo MMA.
Todo domingo é isso e será
isso, um pouco menos no Brasileirão, não pela melhor qualidade dos jogos, que
muitas vezes não é superior, mas sim pela ausência de torcida rival local. E
mesmo assim...
Agora entendeu, não é? Pra ver
jogos aos domingos você vai ter que saber se encaixar nas regras do “espetáculo”.
Se equilibrar nelas e segui-las. Fique à vontade, vale tudo. Vai ver de tudo.
Só não garanto que veja futebol.