A foto que abre o blog é bem sugestiva em se tratando dos
lendários goleiros do passado. No caso vemos Gordon Banks, que literalmente “agarrava
pra cachorro”. O goleiro inglês foi um dos que mais me impressionou pelo grau
de dificuldade das defesas que fazia.
Entrou pra história a cabeçada de Pelé, na Copa de 70.
Uma defesa que começou com um lançamento magnífico de Carlos Alberto para
Jairzinho, que do limite, em alta velocidade, na risca da linha de fundo,
cruzou em diagonal pra trás, fora da pequena área e com força para Pelé, que
vinha acompanhando a jogada. Pelé testou por cima de Bob Moore e deu uma
cabeçada magnífica e forte, fazendo a bola quicar e chegar ao gol com
velocidade quase a meia altura, no canto direito de Banks.
Reparem, pra quem tiver o vídeo, que a jogada inicial
leva o goleiro inglês para o seu poste esquerdo e a finalização o desloca, em
grande velocidade, para o canto oposto e ainda com o quique, à “queima roupa”,
da bola no chão. Mesmo assim Banks conseguiu acompanhar e com a palma da mão e
usando a própria força da cabeçada desviou milagrosamente a bola. Naquele dia
já fazia partida impecável. E o gol de Jairzinho creio só ter entrado por se
tratar da maior jogada em conjunto que já vi. E a finalização perfeita e única
possível, naquela jogada, para vencer Banks.
É bom lembrar que o passado não
se resumia a Banks e minha avaliação foi focada nele. Mas simplesmente não
faltam histórias sobre Yashin, Carrizo, Mayer, Mazurkiewicz, Andrada e o próprio Félix, que sou suspeito para
falar porque o tive como exemplo, quando jogava nas categorias de base do
Fluminense, e com ele aprendi que um goleiro não está no gol apenas para fazer
defesas. As intervenções começam pelo raciocínio, a experiência e a leitura do
jogo e dos jogadores para evitar que o lance se desenvolva e chegue até o
goleiro. Félix foi um mestre nessa arte.
Para uma segunda etapa, coloco, digamos os goleiros
modernos. Mas que já possuíam uma sorte de recursos e suportes como treinadores
de goleiros específicos etc. É como se tivessem fundado uma fábrica exclusiva para goleiros. O que foi muito bom. Primeiro devido ao aperfeiçoamento e a atenção
necessária que a posição exige. Depois porque a qualidade dos jogadores,
mundialmente falando, caiu bruscamente. No passado agarrar no Brasil ou contra
os melhores do mundo era um tormento. Porque os chutes vinham com toda a
malícia possível. Com a queda da qualidade técnica, você trabalha com chutes
previsíveis e retos, em que pesem bolas mais leves, rápidas e de colorido
prejudicial ao goleiro.
Nesta segunda etapa temos uma penca.
Podemos citar as defesas de Fillol, Schumacher, Preud’homme e muralhas como
Zoff, Dasayev, Taffarel (um dos melhores que vi jogar com a camisa da seleção),
Buffon, Casillas, Neuer e, por que não, Tim Howard nos últimos anos de sua
carreira? Ele foi responsável por vários triunfos dos Estados Unidos. Em
relação a nossos goleiros especificamente, hoje beneficiados por gramados que
parecem mesas de sinuca, diferentes daqueles onde chamávamos “cheios de caminhos
de rato” ou “trilhas”, como Maracanã do passado, pecam muito no aspecto
psicológico, na frieza, na colocação, na saída pelo alto, quase sempre com
rebotes desnecessários, e no “cantar do jogo”. É o jogador que está sempre de
frente para o seu time e vê o jogo. Se for calado jamais será um grande
goleiro.
No mais, a evolução dos pegadores de pênalti. Com os
jogos mais medrosos, virou uma situação mais comum e eles se aperfeiçoaram.
Agora, se você espera de mim que cite o maior goleiro da história, eu prefiro
citar todos acima. É muito difícil. Fora outros que provavelmente me esqueci.
Nota: Se você olhar atentamente a colocação dos clubes e
respectiva pontuação no Campeonato Brasileiro, talvez não demore a perceber que
tem “algo de errado nisso aí”. Algo de muito errado e muito estranho. 22 jogos,
afinal, são muita coisa.