É isso aí, caro leitor. A cerca de 3 meses do início da
Copa de 2018, o que temos de melhor joga fora do país. No Brasil perdeu-se
totalmente a noção e a identidade. Não se joga nem o futebol do passado,
futebol arte, show, espetáculo, que as gerações mais recentes condenam por
achar ultrapassado, muito menos o moderno, crivado de teorias e inovações
vazias.
O que você tem visto nos jogos de 2018 tem sido igual ou
pior ao que viu em 2017. As atrações na TV são Barcelona, Real Madrid, Chelsea,
PSG, Bayern de Munique, Juventus... E olhe lá. Porque até o futebol europeu
caiu vertiginosamente de produção. Os jogadores mais novos, incluindo os da
mistura de etnias desses países, têm se destacado. As gerações anteriores de
Puyol, já aposentado, Iniesta e até o próprio Robben, que tanto admiro, estão
passando. E a renovação tem sido feita através dessa mistura. Jogadores que
você vê no vídeo e jura terem origem brasileira e nem naturalizados são. São
nascidos nesses países europeus.
A consequência no Brasil é lamentável e preocupante. Você
já tem ouvido e visto centenas de camisas do Barcelona, do PSG, camisas
alusivas a Cristiano Ronaldo, Messi... E em jogos mais decisivos, com
transmissão direta, dá até pra ouvir o alarido como se estivessem jogando dois
times da cidade. As crianças então são as primeiras a serem cooptadas. Estão
devidamente uniformizadas dos times que veem jogar, dos seus novos heróis
importados. Ter só Neymar como fora de série é muito pouco.
O quê esperar? A cada semana toda sorte de jogos de fraco
apelo popular. Copa do Brasil, Recopa, Estaduais, uma Taça Guanabara como a que
ganhou o Flamengo do Boa Vista que há 4 décadas teria outro adversário e, mesmo
sendo uma Taça Guanabara, teria um mini carnaval na cidade. Pois é, a força da
grana matou a qualidade técnica. Não há espaço para os dois conviverem. Ninguém
tem estômago pra assistir Portuguesa x Vasco, em Nova Iguaçu, Fla x Flu, na
Arena Pantanal.
Por mais inocente que sejam, os torcedores de alguma
forma têm na memória a qualidade do futebol ao menos de um Edmundo, um Rivaldo,
um Ronaldinho Gaúcho. Quem os viu jogar percebe nitidamente a diferença.
Jogadores abrindo a cabeça em lances bisonhos. Até “toquinha” de natação já faz
parte do uniforme em caso de ferimento. Jogadas manjadas, passes errados de 2,
3 metros. Correria sem sentido. Chances desperdiçadas de envergonhar até quem
trabalha no circo. E, no aspecto disciplinar, não ficam atrás. Passam o jogo
todo reclamando se empurrando e se agarrando, já com a bola rolando, contando
com a conivência dos árbitros que não aplicam a regra. Um jogo que de futebol
não tem nada. Mas tudo de judô, MMA... O que faz com que os estádios possam ser
chamados de Arenas mesmo. O público é cada vez mais minguante e composto por
torcedores fanáticos que acompanham seus times até num jogo de botão. Nada que
possa ser resolvido do dia pra noite.
E, como eu disse, a moeda passou a ditar, via
transmissões de TV, a tônica dos jogos e eles passaram a responder dessa forma,
com jogadores de péssimo nível técnico, treinadores que não fogem à regra,
clubes sem estrutura, ausência de conhecimento tático, técnico, agressões
absurdas, total falta de fundamento dos princípios mais simples que regem o
futebol de razoável qualidade. Seja em qualquer época.
Não sei o que o torcedor faz com a decepção. A maioria
das vezes bebe, usa de outros vícios, fica agressivo, escolhe um bode expiatório,
enfim, busca um canal pra desabafar sua desilusão ao mesmo tempo que tenta se
enganar se vestindo de esperança quando o mais otimista dos esportistas não vê
caminho para ter esperança alguma. Ao menos a curto e médio prazo.
Uma boa semana a todos!