Em campo Brasil X Argentina.
Emoções à flor da pele. Só que um Brasil tranquilo e seguro de si, não demorou
a se impor. Zico abre o placar no rebote de majestosa cobrança de falta de
Éder. As tabelas vão surgindo e fluindo naturalmente e Falcão começa a se
destacar mais ainda. O Brasil joga solto e na segunda etapa, correndo poucos
riscos, chega aos 3 X 0 com direito a sambinha do Júnior. A zaga argentina,
escancarada, corria atordoada atrás do nosso meio, deixando espaço nas costas,
em seu campo. Até Serginho fazia gol.
Temendo a violência de uma
seleção argentina mal preparada e sem equilíbrio emocional, Telê começa a
poupar Zico, entrando Batista, e depois Leandro, entrando Edevaldo. Diaz faz o
gol de honra, mas o que acaba marcando o final daquele jogo é o destempero do
pupilo argentino Maradona, agredindo Batista com um pontapé por trás. Superada
a Argentina. Estávamos em uma sexta-feira, na segunda, pelas quartas,
jogaríamos a vaga com a Itália, com a vantagem do empate.
A euforia tomou conta do povo
brasileiro. Principalmente depois de se vencer uma equipe como a Argentina,
mesmo não estando em sua melhor forma. Enfrentaríamos uma Itália que vinha se
arrastando na Copa e havia fechado o grupo devido à briga com a imprensa,
denúncias de homossexualismo e desunião no elenco. O Brasil era apontado como
favorito absoluto. Menos por mim, que temia jogar com um time que vivia um
pacto, começava a crescer nas duas últimas partidas e exercia, como acho que
ainda exerce, uma das marcações mais fortes e bem feitas do mundo. Não vou
dizer que houve desatenção do Brasil por parte desse jogo, mas devido às
circunstâncias, um relaxamento natural e uma concentração heterogênea. Isso
ficava claro nas entrevistas dos jogadores. Não estou dizendo que o Brasil
menosprezou a Itália, mas não a encarou como deveria.
E futebol meu amigo, se ganha
no campo. A Itália entrou disposta a tudo. Surpresa com a excelente marcação
italiana, a seleção sofria quando perdia a posse de bola. Demorava a se
recompor e com isso a Itália chegava ao primeiro gol. Tudo bem, vamos empatar,
pensava a maioria. E empatamos. Em magistral passe de Zico, Sócrates decreta o
empate. Voltava o otimismo. Mas o bom futebol não. Minutos depois, pressionado
por si mesmo, Cerezo erra bisonhamente uma saída de bola, Paolo Rossi em seu
dia, fuzilava Waldir Perez, à meia altura, no centro do gol, com este caindo
para trás. Itália à frente novamente.
Vamos empatar? Agora parecia
mais difícil. Veio o segundo tempo e o time não encontrava espaços. Vale
lembrar que no elenco alguns jogadores erroneamente e de forma antiética e
depreciativa, subiram no salto alto e teriam dito, durante a preparação, que
seriam capazes de ganhar uma Copa para o Brasil de “verdade”, com sabedoria,
bom português e modernidade. Jamais citavam ou reverenciavam o time do tri pela
conquista. Havia um racha de gerações. Uma guerra clara de vaidades na seleção
de Telê. Atônito, Telê não sabia o que fazer. Se assim como 12 anos antes, com
uma seleção bem superior, Gerson, aos 23 do segundo ,teve que colocar o Brasil
em vantagem com um tirambasso de fora da área, agora era a vez do incrível
Falcão fazer o mesmo, com categoria e precisão. Sua comemoração ao empate traduziu
tudo que se passava dentro de campo. Dava pra contar as veias estufadas em sua
garganta e braços. Ele era o Brasil nas veias. O jogo seguiu então com ares
imprevisíveis. Mas parecia que o Brasil só estava passando por um susto, que
nos classificaríamos com um empate ou viraríamos aquele jogo encardido.
É, meu amigo, a determinação
italiana não morria ali. Por sorte ou não, Paolo Rossi se aproveitava de um
time extremamente bem preparado para atacar, embora sem um homem de finalização
adequado e pouco testado no seu sistema defensivo. A reação de Júnior ao tentar
salvar o terceiro gol italiano era de que a vaca estava indo para o brejo
literalmente. Até não teria ido, se a grande cabeçada de Sócrates não
encontrasse uma barreira chamada Dino Zoff, nos minutos finais.
Fim de papo. Fim de um sonho,
início de um trauma. Como pode, o que aconteceu? Não nos preparamos como
devíamos. Não fomos uma equipe tão equilibrada. Apesar do magnífico futebol
jogado em alguns momentos, nos faltaram detalhes essenciais para conquistar uma
Copa. Faltou-nos a dose de competitividade, aliada a qualidade técnica natural,
e conhecimento profundo dos adversários durante uma Copa do Mundo. E só pra
lembrar, na Copa seguinte Telê tentava tudo, só que de forma oposta. Fugiu ao
seu estilo jogando defensivamente, com Elzo, Alemão e etc, e desta vez perdemos
porque não tivemos força ofensiva suficiente. Ninguém é perfeito. As falhas
existiram e não perdoaram, apesar dos momentos que encantaram a todos.
Aquele abraço!