Que vontade teria de começar falando bem dos Estaduais do Rio, de São Paulo, do Brasil todo. Mas aqui se fala em futebol de fato. E não se trata de modernismo ou saudosismo. Tudo que dá certo, tudo que é aprovado pelo povo, por que tem que ser modificado, na maioria das vezes pra pior, como é o caso desses estaduais?
Atualizo-me o suficiente para, embasado no que vejo há
quase 5 décadas no futebol, saber diferenciar o antigo do novo e o certo do
errado. Nem tudo que é antigo, é obsoleto, ultrapassado etc. Temos até exemplos
em outras áreas, como a comercial que também se cruza com o futebol. De um modo
ou de outro. A Confeitaria Colombo, para quem conhece, uma confeitaria de alto
padrão, com mais de um século de existência, mantém íntegras sua qualidade, seu
padrão de trabalho, sua riqueza arquitetônica e por aí vai. Por que teria de
mudar? O mesmo ocorre em relação ao Maracanã. Construído nos anos 50, é
compreensível que tenha tido de passar por reformas que o adaptassem às novas
regras de segurança. Mas isso não implica em ter de demoli-lo como fizeram.
O Campeonato Carioca e, posso arriscar, o Mineiro, o
Paulista e o Gaúcho, são competições regionais que vivem e sobrevivem da paixão
clubística, dos discursos acalorados, da mística regional, que trouxe a
realidade e estádios lotados, com recordes imbatíveis, além de jogos
memoráveis. Pouco me importa a televisão ou os meios de transporte. Havendo uma
solução na segurança, ação que não efetivam por descaso e ignorância, duvido
que a preços populares o torcedor não voltasse em massa. Mesmo com uma queda
absurda de qualidade individual. Portanto, não há razão para se surpreender com
estádios vazios, jogos desorganizados e de péssima qualidade.
A culpa não é só da tecla que vivo batendo aqui, da
ausência de identidade e do não resgate do nosso verdadeiro futebol. O modelo destrói
num todo um sistema que deu certo e poderia vir a dar novamente. As novidades
ficariam por conta do que necessariamente deveria mudar. Quantidade de times,
qualidade dos estádios, regulamento dos campeonatos. Embora isso pareça muito
difícil, se a massa voltasse em peso a um grande Fla x Flu, por exemplo, dificilmente
a cobrança deixaria de existir. Os corruptores do futebol teriam de se virar
pra atender a massa. Porque eles precisam entender, de uma vez por todas, não é
o torcedor que tem que se adaptar a esse modelo espúrio, feio e maltratado. É o
futebol que tem que respeitar os olhos, os instintos e a sabedoria do torcedor.
O fim dos estaduais, como defendem alguns, não iria resolver em nada. Já o fim
da pilantragem, com certeza.