Eu tenho certeza que muita gente no futebol, jogadores,
dirigentes, comentaristas, não gostam muito de se estender sobre este assunto.
Atualmente é meu assunto predileto. Pois é justamente nas categorias de base
que o futebol se desenvolve, se renova e mostra sua verdadeira cara.
No âmbito profissional você já tem jogadores feitos, bem
ou mal trabalhados, escolhidos de forma certa ou errada, mas já é uma outra
visibilidade. Atualmente não há interesse em expor como funcionam e os
bastidores na maioria dos clubes no tocante às categorias de base. Já trabalhei
nelas e conheço o andar da carruagem, digamos assim.
O funcionamento e detalhes superficiais muitos conhecem.
Os jovens vêm de vários locais, muitos chegam desde cedo, desde a categoria
sub-11, pois as duas anteriores são mais um agrupamento e na maioria das vezes
quase uma atividade para essa faixa de idade. Prefiro me ater à sub-17 e à sub-20.
Não que a sub-15 não tenha sua importância, mas não meu entender a confusão já
começa por aí. A faixa de idade entre às categorias é muito variada. E colocar
isso no papel e na estrutura que envolve o aprendizado de um aspirante a
jogador profissional fica muito pouco definido e com eficiência duvidosa. A começar
pelo critério de trabalho a ser usado.
Não é novidade para ninguém que atualmente nas categorias
de base dos clubes, e isso já é assim há muito tempo, os empresários dão às
cartas. Seja na escolha dos treinadores, auxiliares e preparadores físicos que
nelas trabalharão, como de seus próprios dirigentes. Poucos são as crias reais
dos clubes, que lá chegaram pelas mãos do pai ou levados pelo sonho, indo por
iniciativa própria.
Essa influência, aliada a uma mentalidade vigente na
maioria dos clubes, onde se privilegia a força, a estatura e a disciplina
tática ao invés da qualidade técnica, não produz jogadores de futebol. Produz
robôs. Em alguns clubes como Santos e Cruzeiro e os próprios Corinthians e São
Paulo, com alguma margem para o Flamengo, do Rio, há um pouco mais de exigência
técnica nesse processo. Seja lá quem forem os “mandachuvas”.
Mas, no momento da peneira, de separar o joio do trigo, é
que são elas. É aí que viciados nesse sistema emburrecido e vazio vão tentando
vender para você o “futebol moderno”, de correria, intensidade máxima e força.
E, normalmente, a maioria dos olheiros e dos chamados professores dos clubes,
podem ter vários diplomas, mas não têm conhecimento prático do mundo da bola,
do ambiente real do futebol num todo. Principalmente o que julgo mais
importante: observar as características e dons de cada jogador e sua adequação
ao estilo de jogo e à tradição de um país.
Por aí vão forçando revelações que não estão prontas ou
que não têm as virtudes necessárias. Os parâmetros de seleção estão errados.
Não funcionam e jamais vão funcionar. Não adianta ir contra o estilo de jogo
que deu a este país 5 títulos mundiais. Não adianta tentar chama-lo de moderno,
modificando suas raízes e seus verdadeiros valores, como a liberdade de
criação, o drible, a imaginação, a catimba, o diálogo entre eles em campo,
enfim... O modus operandi da nossa escola de futebol.
Por essa razão os treinadores no país são mais
valorizados do que deveriam. E muitos de fora que herdam a estrutura correta
também são vistos como “deuses da área técnica”. Futebol é uma arte. E tem de
ser julgado por quem entende de arte ou foi artista. Não seria num banco de
faculdade, no caso dos que trabalham em contato direto com o futebol, que
surgiriam os gênios da prancheta, do powerpoint e de outras inovações que no
papel ou no quadro imantado são muito interessantes, mas que na preparação de
todos os fundamentos que envolvem um bom jogador profissional atrapalham,
confundem e limitam ao invés de desenvolverem.
Uma boa semana a todos!