O jogo de ontem, dia 12/10/2019, no Maracanã,
proporcionou a muitos um dos momentos mais valiosos da história do futebol
brasileiro. Não necessariamente pela partida vencida pelo Fluminense por 2 x 0
frente ao Bahia. Mas, pela iniciativa inédita, corajosa e iluminada do técnico
Roger, do Bahia, e do técnico Marcão, do Fluminense. Ambos, neste abraço aí da
foto, deram “cartão vermelho” ao hediondo racismo no futebol, dando destaque
especial à campanha do Observatório da Discriminação Racial.
E o fizeram, vale lembrar, contando com uma verdadeira
aula de cultura social e valores humanos dada pelo técnico Roger, do Bahia, em
entrevista coletiva após a partida.
Roger não poderia ter sido mais feliz em
suas palavras, expondo a ferida que afeta, não só ao Brasil, mas ao mundo, e
não se esquecendo de ter a iniciativa e a personalidade de citar até a
destruição de valores e direitos sociais que vêm ocorrendo no Brasil,
sacramentada pelo atual governo. O extermínio dos avanços alcançados no Brasil
através dos governos e suas conquistas nos últimos 15 anos. Você não deve
perder o vídeo e a memorável reportagem a que me refiro.
Vale lembrar que já toquei neste assunto aqui várias
vezes. Pedindo, inclusive, a manutenção do técnico Marcão a um clube, o
Fluminense, que já teve machada sua história com episódios antigos de racismo
velado. O próprio apelido “Pó de Arroz” surgiu no clube devido ao racismo, onde
tanto trabalhadores, como negros jogadores de futebol, considerados empregados
do clube, entravam no seu ambiente de trabalho, no estádio das Laranjeiras,
pelo portão de serviço. Graças a Deus o atual Presidente, Mário Bittencourt,
tem os olhos abertos e uma visão mais larga sobre essa calamidade. E ele sabe
que o clube hoje ainda é dominado por algum preconceito racial.
Já tivemos Andrade, Jayme, Lula Pereira, Cristóvão e um
ou outro que possa estar esquecendo de citar. Todos com passagens meteóricas,
mesmo fazendo um bom trabalho, como foi o caso de Andrade e Jayme, no Flamengo.
E fecho esta coluna citando o maior exemplo desta praga num país que se
submeteu a este julgo. No ano de 2000, assisti a um jogo festivo beneficente ao
então ex-jogador Bianchini, na cidade de Cordeiro, no Estado do Rio de Janeiro,
na presença de Vavá, ex-centroavante bicampeão do mundo, já falecido, e de
Waldir Pereira, o Didi. Na ocasião, já aposentado, e o considerando, como
sempre considerei desde que o conheci no Fluminense quando eu era jogador, em
1975, o maior treinador que já vi, arranquei do Mestre Didi num papo informal
naquele dia, toda sua mágoa por nunca ter sido convocado para treinar a seleção
brasileira. E a razão era taxativa: puro racismo: “Nunca esperei dos cartolas o
convite para ter a honra de dirigir a seleção do meu país por causa da minha
cor”, disse ele.
Na ocasião fiquei com os olhos cheios d’água e tentei
entender como o país onde a raça negra predomina e que gerou o maior jogador de
todos os tempos, Pelé, negro, pode aceitar isso, pode conviver com isso e pode
admitir esse crime na sua história.
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