Faço hoje, não poderia deixar de fazê-lo, uma homenagem
aos heróis tricampeões mundiais. São exatos 45 anos. Um domingo ensolarado de
temperatura amena, parecido com o de hoje na minha cidade Rio de Janeiro.
Lembro-me que passava de 1 da tarde o início do jogo, no horário de Brasília.
Considero o auge do futebol brasileiro pela soma de
muitos detalhes. Em que pese 58 ter sido fora do comum, até porque o sonho
começava ali, mas era a posse definitiva de uma taça de 40 anos de disputa. Se
a Itália vencesse na decisão ficava com ela, a famosa Jules Rimet, que
protagonizou até uma guerra entre Honduras e El Salvador nas eliminatórias,
justo dessa Copa. A Jules Rimet é nossa, sim. Não importa o que ocorreu nos “seguros”
cofres da Rua da Alfândega sobre um símbolo, que é a taça. Devido ao valor
público e sentimental, não havia nem razão da notícia vazar. Mas...
Falando nos tais detalhes, vamos a eles. Tínhamos uma
geração amadurecida, com Pelé no seu apogeu. Fizemos uma eliminatória
impecável. Mas, apesar do extremo valor de João Saldanha, que montou a base
daquele time, algumas coisas precisavam ser mudadas, sim. Triste que tenha tido
a colaboração da ditadura intervindo no futebol e na demissão de Saldanha. Porém,
sobravam recursos e opções. E as providências tomadas por Zagallo, ao assumir,
foram acertadas. Félix jamais poderia ser reserva de Ado. Muito menos cortado.
Com Félix no auge de sua experiência, você confia sua meta a um goleiro de 23 anos,
pouco experimentado? Ou ao deslumbrado Leão, de 19 anos? Era necessária também
mais experiência e Piazza não podia ficar de fora, mesmo improvisado. Assim
como, mesmo improvisado, Rivelino tinha que estar ali, mesmo no lugar do
fantástico Edu. A ideia tática era do Zagallo e estava correta, sim.
Sobre a qualidade do time, tecnicamente falando, era de
encher os olhos. Se faltava técnica a Brito, sobravam saúde e virilidade. Se
faltavam velocidade e habilidade a Everaldo, ele compensava com uma marcação
muito eficiente. O restante eram as feras do João bem arrumadas pelo Zagallo. Um
a um os adversários iam caindo. Todos derrotados. Uma preparação física que
começou perfeita, assim como o planejamento, feita na Escola de Educação Física
do Exército e agraciada como a melhor da Copa. Uma pré-Copa, digamos
inteligentíssima, adaptando a equipe aos parâmetros de altitude. E com uma
equipe que mesclava jovens de alto nível como Paulo Cézar Caju, Clodoaldo e
Rivelino, com jogadores no seu ponto máximo de carreira. Fora inteligentemente
aproveitada a base dos clubes, no caso, predominante a do Botafogo. Isso é
importantíssimo e eficaz quando se fala em seleção. Autoconfiança, domínio dos
nervos e show de bola em campo. A seleção com a bola e sem ela.
Sinto-me um privilegiado. Eu vi tudo. Naquela Copa e
naquele dia, eu vi tudo. Eu vi o gol mais lindo da história, porque considero o
mais lindo na elaboração da jogada, que foi o de Jairzinho, contra a
Inglaterra. Aquele gol faz cair por terra a teoria de que o drible não desarma
uma defesa bem fechada. Vejam o tape e contem 7 ingleses dentro da área e mais
3 nas cercanias, de uma excelente seleção e campeã mundial da época. Aquele gol
só podia ter entrado assim, como entrou. Quanto às partidas que disputamos
sempre um show. Um dos detalhes da perfeição do time é que do sistema defensivo
até o último atacante, só Félix, Brito, Piazza e Everaldo não marcaram gols.
Isso prova o nível de coletivo daqueles monstros sagrados.
Quando vi o alemão Rudi Glöckner apitar o final do jogo
tive a certeza, como tenho até hoje, que estava assistindo ao momento mais
memorável e significativo para o futebol brasileiro. Não posso deixar de dar
uma pitada de lembrança da festa que presenciei na minha Tijuca, com milhares
de balões no céu, um espetáculo de fogos e uma festa que nunca mais eu vi
parecida. E com certeza nunca mais verei.
Obrigado a vocês, tricampeões do mundo! Parabéns pela
data de hoje. O futebol brasileiro e a história agradecem e aplaudem de pé!
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