domingo, 2 de agosto de 2015

O FIM DO AMOR AO CLUBE



















Se o distinto leitor chegar à conclusão do tipo: será que vale à pena continuar lendo o blog Futebol de Fato, onde seu autor só fala mal e desenha um perfil trágico e acabado do futebol brasileiro e raramente em algum domingo dá pra ler algo que nos dê orgulho, alegria, enfim, algum prazer, tenha certeza que ninguém mais do que eu gostaria.

Nasci poucos dias antes do Brasil ser campeão mundial pela primeira vez, em 58. E cresci pelos estádios da minha cidade, Rio de Janeiro, tendo o Maracanã como maior palco de frequência. Jogando e vendo de tudo. Eu não vi show de bola só. Não vi só batalhas campais e jogos memoráveis. Vi também muita pelada sem vergonha e algumas partidas que dava até pra desconfiar de sua seriedade.

Mas não dá, companheiro. No Campeonato da CBF, o Brasileirão 2015, entregue aos clubes num acordo sombrio e mafioso pra fugir de maiores complicações jurídicas devido aos escândalos recentes, você tem que fazer um exercício de rara inteligência pra adivinhar qual ou quais são os jogos à vera da rodada.

Pois, muitos são ruins, de má qualidade, como já vimos. Mas os times se esforçam, lutam por um resultado positivo. Esses até vale à pena assistir. A gente torce pro jogador acertar. Mas outros, eu não diria que são combinados, mas fica decidido que: nem eu te incomodo, nem você me aporrinha. Sua situação na tabela é inferior a minha. Eu somo um pontinho aqui, você soma outro ali. Só pra tomar como base e exemplo eu vou usar Sport 0 X 0 Cruzeiro que acabei de ver. Nota-se um Cruzeiro decadente e um Sport tentando galgar uma força maior no cenário nacional.

Não houve jogo, houve treino. Houve festival de horrores no domínio pavoroso da bola, com mais de 62 passes errados, na estratégia furada, na disposição em busca da vitória. É, torcedor, se você assistiu esse jogo como eu, fizeram você de otário como a mim. A sorte é que já estou me vacinando há algum tempo. Mesmo que fosse um mero torcedor, não ia me deixar contaminar por esse campeonato de cartas marcadas e pelo tratamento que os jogadores dispensam uns aos outros hoje em dia. Foram necessários 97 minutos pra que houvesse uma defesa de destaque, feita pelo goleiro do Sport. Não houve uma finalização sequer perigosa.

A indolência e má vontade dos dois times beirava os sonhos mais selvagens daqueles que você torce para a torcida se tocar do que está havendo em campo, invadi-lo e exigir futebol. Porque, apesar de 80% ou mais dos jogadores serem ruins mesmo, havia ali 5 ou 6 de razoável categoria, mas que não estavam nem aí em exibi-la. As razões vão desde independência financeira ao amor incondicional ao seu empresário e sua cartilha acima do clube.

Se não voltassem para BH, provavelmente você ia ver o Durval, do Sport, e mais alguns, tomando um chopp bem gelado com o Leandro Damião, com o chileno Mena e outros em algum bar do Recife. O que não tem mal nenhum, desde que tivesse havido um jogo sério e disputado. Eles não estão nem aí para o clube. Muito menos para a torcida. Se você pensa ao contrário, sinto muito, azar o seu. Amor à camisa? Sejamos realistas, acabou. Lembram do Hernane “Brocador”? Há meses saía do Flamengo a peso de ouro. Entrou nos minutos finais de jogo pelo Sport. Estava na reserva. Um jogador que talvez não tivesse vaga no antigo Bonsucesso dos anos 60.

Volta e meia acontece um gol que nos surpreende. Aí o grupinho corre, se ajoelha, levanta os indicadores pro céu e reverencia. Foi ele. Passe de Deus, vontade de Deus, benção de Deus. Malvado esse Deus, hein? Abençoou seu pé e amaldiçoou a mão do goleiro adversário. Malvado esse Deus que ao invés de se preocupar com coisas mais importantes no mundo, insiste em “estar no comando”, como vocês dizem atualmente, mesmo sem vocação pra motorista de ônibus.

Pois bem, continuem brincando. Quando perceberem que ganharam menos do que esperavam e não têm mais pernas para fazer caixa e aumentar a conta corrente e o torcedor, que judiava abertamente e fingia respeitá-lo e honrá-lo, não acreditar mais em você, aí, prezado atleta, nem Deus, e muito menos a bola, serão fiéis com você. Talvez seja a primeira vez, fazendo uma referência às avessas ao que ouço e vejo nas ruas, que Deus não será fiel com você. Quem sabe não será por você não ter sido com ele e também com o torcedor, que investiu suas economias e sua paixão na construção de sua carreira profissional?

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