Pessoal, sem formalidades, já começo pela manchete. Como
nos velhos tempos do jogo do bicho, uma tradição carioca que ainda existe, o
galo fez hoje, em Belo Horizonte, muita gente feliz. E também frustrada, como
foi o caso do Cruzeiro.
Aliás, o Cruzeiro, apesar do tão decantado Thiago Neves, é
inferior ao Atlético como time. E não dispõe de um tripé de jogadores como
Elias, Robinho e Fred. Os próprios laterais Marcos Rocha e Fabio Santos já
fazem meio time que não se encontra por aí facilmente. Apesar do 0 a 0 na
primeira partida, a força ofensiva do Atlético se fez presente mais uma vez,
embora bastasse o empate para o título mineiro de 2017. Bom que a decisão tenha
sido entre as duas maiores forças do futebol mineiro. Ao contrário de Inter x
Novo Hamburgo, por exemplo, que deu o caneco a um time do interior de menor
expressão, no famoso drama dos pênaltis, onde o travessão ajudou a parar o
Inter.
Em São Paulo, o Corinthians já não deu chance, como comentei
aqui semana passada, para uma surpresa. Que seria a segunda de hoje, pois embora
tradicional e um dos clubes mais antigos do futebol brasileiro e de ter um time
razoável, a Ponte não era páreo para o Corinthians, que apesar de não contar
com o elenco sequer parecido com o dos últimos anos, ainda se impõe com sua
força e sua torcida, que passou a partida quase toda lembrando da mesma Ponte
que desabou 21 anos de sofrimento do Timão na finalização de Basílio, talvez no
lance mais inesquecível para a torcida do Corinthians.
No Rio, como disse na manchete, deu vermelho e preto. Se
você me perguntar se o título foi justo, levando em conta que o Flamengo chegou
a final da Taça Guanabara perdendo para o próprio Fluminense e fechou a final
derrotando o próprio Fluminense, creio que não estaria errado em dizer que sim.
Uma pena, aliás, que dois jogadores importantes para os dois times não
estivessem em campo nessa final, que são Diego, pelo Flamengo, e Scarpa, pelo
Fluminense. Com certeza teríamos um jogo com lances de melhor qualidade, apesar
de serem apenas dois jogadores.
Mas, voltando ao jogo em si, acredito que o Fluminense
tenha sido vítima de seu próprio excesso de intensidade que faz com que muitas
vezes alguns jogadores troquem passes sem nem olhar para quem estão dando a
bola, tamanha a afobação e ansiedade. Além do desgaste excessivo e da ausência de uma cabeça pensante e falante dentro de campo que fizesse com que o time dependesse menos dos gritos de Abel. Vítima também
do próprio treinador, que apesar do crédito de ter montado em pouco tempo esse time,
dando-lhe uma cara e uma força de competição razoável, cometeu pela segunda vez
o mesmo erro do jogo passado, desta vez imperdoável.
A intensidade e a afobação que à beira do campo parecia
combater e recriminar pedindo um toque de bola que o time não fazia ou não
conseguia fazer, já no segundo tempo, com a queda evidente e prevista do seu
time fisicamente devido ao esforço e o desgaste no primeiro tempo , a atingiram
quando se precipitou a julgar que Wellington Silva não poderia dali pra frente
criar alguma dor de cabeça pra defesa do Flamengo e fez uma substituição
lamentável, mas bem ao seu estilo, colocando Maranhão pra fazer uma função
torta com o objetivo de fechar o placar num cruzamento pelo alto, que desde o
início de sua carreira é marca sua. Haja vista que o penúltimo estadual ganho
pelo Fluminense sob seu comando, em 2005, foi com dois últimos gols feitos em
bolas alçadas, tipo de jogo que ele conhece bem e que ajudou a projetá-lo como
jogador e até como treinador, em parte.
O terceiro responsável pela perda do título tricolor, que
ainda estava vivo aos 39 minutos do segundo tempo, embora dependendo de uma
possível cobrança de pênaltis, foi um personagem que eu não gosto de citar e
polemizar sobre. Sem desmerecer o Flamengo, a luta de seus jogadores, o
excelente trabalho de toda a comissão técnica e a própria campanha, o senhor
Wagner do Nascimento Magalhães foi decisivo no gol de empate rubro-negro. Não é
problema meu, mas sei muito bem por que cargas d’água evitam mostrar o lance e
polemizar sobre. Mas tendo a certeza que ainda gozo de boa visão, tendo visto o
lance várias vezes, não tenho dúvida que Réver fez uma carga nitidamente
faltosa em Henrique, originando o rebote na jogada que Guerrero aproveitou. A
posição deste senhor era privilegiada, tanto que usei na foto da crônica. Não
havia como errar. E este erro, aquela altura, praticamente decidia o campeão de
2017.
O que aconteceu depois foram apenas mais alguns erros de
Abel nas substituições e a consequência natural de um time já sem gás que sequer,
estranhamente, teve forças para reclamar da falta cometida por Réver no lance
do gol, e que acabou no desespero perdendo Cavalieri e encerrando a partida com
Orejuela com a camisa 1, que nem cacoete para goleiro tem, e nada podia fazer,
para naquele momento evitar o gol da vitória rubro-negra, para delírio de sua
imensa torcida, que passou 86 minutos praticamente calada, mostrando alguma
tensão e preocupação com o que pressentia e via no gramado, ao contrário da
tricolor, otimista e eufórica. Mas foi premiada com uma surpresa, que eu
acredito que a maioria dos rubro-negros, presentes ao estádio ou não, não
aguardava neste desfecho dentro do tempo normal de jogo.
Encerro com uma observação de que o maior personagem das
últimas finais de estaduais no Rio de Janeiro nos últimos anos tem sido a
arbitragem. Basta recapitular. Como chegamos a este ponto, em se tratando de
credibilidade e confiança no futuro desta competição, ao invés de pensar como
muitos marqueteiros estão pensando esta hora, é um péssimo sinal para o futuro.
Parabéns ao Flamengo, que não tem nada a ver com o erro
cometido, e com os próprios erros que o Fluminense cometeu que propiciaram que
dominasse o segundo tempo e tivesse mais chances de, no mínimo levar o jogo para
os pênaltis. Parabéns pela luta e parabéns por, mesmo jogando duas competições simultâneas,
ter aproveitado a oportunidade de chegar ao seu 34º título do Estado do Rio.
Boa semana a todos!