domingo, 3 de setembro de 2017

O BRASIL NOS CAMINHOS DE TITE


Antes de falar em Seleção Brasileira, quero registrar aqui uma homenagem especial ao grande Afonso Celso Garcia Reis, o meu prezado amigo, ex-jogador, craque fabuloso, médico e figura humana extraordinária. Hoje, 3 de setembro, a fera completa 70 anos, com direito a pelada, um feijão amigo e várias personalidades, não só do mundo da bola, mas da música, da medicina, da cultura...enfim, gente de toda origem inclusive de fora do país. Uma lembrança aos que não sabem ou não recordam, Afonsinho foi o herói do passe livre no Brasil. O primeiro jogador que obteve, em plena ditadura, a liberdade do passe livre. O fim da escravatura. Hoje, milhares de jogadores no Brasil se beneficiam em seus contratos da vitória que obteve Afonsinho no início dos anos 70. Parabéns, companheiro, craque e mito! Parabéns, grande Afonso!

Voltando ao assunto, que, aliás, preocupa bastante o Mestre Afonsinho que citei acima, que sabiamente diz que: “o futebol brasileiro tem que ser refundado”, e eu concordo em gênero, número e grau. Segue a seleção de Tite dando certo, sim. Dando certo hoje. E isso é que preocupa. Nada impede que melhore amanhã, mas nada garante que não se ache mais à frente. Cerca de um ano antes da Copa de 2014, a Seleção na época de Felipão, dava show em cima da Espanha no Maracanã, para, um ano depois, jogar um futebol medíocre e tão vergonhoso que acabou deixando suspeitas sobre a seriedade daquela preparação e da organização feita para uma Copa que esperávamos há mais de 60 anos. Ocorre que as coisas mudam muito da noite pro dia no futebol. Sobre a vida particular de jogadores como Gabriel Jesus, Philippe Coutinho, Neymar, Renato Augusto, Willian (este então, tem dado um show de bola e criado jogadas de alto nível técnico e quase sempre letais), não vi nenhum comentário de Tite a respeito ainda. Mas ao ver uma entrevista dele esta semana, apesar da maturidade e experiência que Tite adquiriu nos últimos 10 anos, alguns conceitos seus ainda me preocupam muito. Tite diz claramente que o jogador na seleção dele é convocado via função tática, pelo trabalho que faz em seu clube e adequação ao modo de jogar da seleção. Traduzindo, o jogador tem que se adaptar à prancheta e não a prancheta ao jogador. E isso é uma lástima, um erro profundo, um conceito pra lá de furado. É a partir da técnica, da qualidade dos jogadores e virtudes e defeitos do seu elenco em geral, que você monta seu sistema e esquema táticos. Não bolando o que você acha mais correto e trazendo jogadores como peças de xadrez para se enquadrar. Isso é ridículo e absurdo. Já está mais do que provado nos dias de hoje que a qualidade técnica e a arte destroem qualquer esquema tático por mais bem arrumado que seja, se tiverem também organização em planejamento. Isso não significa depreciar a estratégia de jogo que é a tática, mas sim, não dar a ela o peso principal porque a genialidade sempre foi mais determinante nos momentos mais elevados, não só do futebol, mas de várias outras modalidades e esportes.

E me preocupa também, já frisei isso em crônica anterior, até esse aspecto tático do Tite porque 90% de nossos últimos jogos, incluindo até os últimos três anos, como a Copa no Brasil e tudo, enfrentamos 90% de seleções sul-americanas. Falta-nos experiências contra outras escolas. E hoje o tempo é muito curto pra pensar numa solução e vir a treiná-la caso se depare, o elenco de Tite, com um modelo de jogo que consiga neutralizar o atual futebol eficiente que a Seleção Brasileira está jogando.

É isso aí.

Boa semana a todos!

Imagem: Pilar Olivares/Reuters

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