Se você se acostumou a ver um campeonato sendo encerrado
com a atmosfera de um ou mais jogos decisivos, transbordando torcedores e
emoções, com o Brasil inteiro sem saber quem será o campeão, eu lamento. Foi o
tempo. Hoje, há uma torcida no Brasil, a do Palmeiras, naturalmente, vibrando
com o título conquistado na semana passada. E umas duas ou três, no máximo, satisfeitas por disputarem a
Libertadores 2019. É só.
Já cansei de criticar esse modelo de pontos corridos que
leva a não haver um jogo final. Não há melhor fórmula do que a da Copa do
Mundo. Não importa que seja uma competição de tiro curto. É possível mirar-se
nela. Através de grupos com cabeças de chave, por exemplo, os melhores
pontuados no ranking, um sorteio pode definir quatro grupos de cinco times.
Existem profissionais tarimbados e criativos que poderiam elaborar coisa
melhor.
O primeiro pré-requisito é que o campeonato teria de ser
menos longo. Ao invés de oito meses, quatro ou no máximo cinco, dando espaço
para os outros campeonatos regionais e sul-americanos. É muito difícil você ser
campeão da Sul-americana ou da Libertadores e ser campeão Brasileiro. Tem de
haver um super elenco para isso. Portanto, esta é a razão deste domingo morno,
onde a atração não poderia estar nos envolvidos na condenação à série B.
Aproveito para, citando os rebaixados Sport, América-MG,
Vitória e Paraná, falar dos bichos papões que rondaram esse grupo de queda.
Logicamente, Vasco e Fluminense. O Vasco é mais fácil de definir seu momento, a
política interna do clube. O Vasco se encostou por décadas em Eurico Miranda que
sempre foi o “meu bem, meu mal” vascaíno. Atualmente, ao relutar em deixar o
poder, ele parece espalhar minas em São Januário para que os administradores
candidatos se explodam. E com isso, o prejudicado é o próprio Vasco, que faz
tempo que não consegue formar um grande time.
No Fluminense é menos visível porque seu principal
problema começa pelas categorias de base do clube. Há duas formas de você
montar um bom time: conseguindo um super patrocínio ou uma espécie de patrono
milionário que, bem auxiliado, por gente do ramo, contrate estrelas; ou através
do aproveitamento da categoria de base. Ocorre que é justo nela que se esconde
o grande problema do Fluminense (e também de alguns outros clubes). Dirigentes–empresários
que usam o clube para negócio. Extraoficialmente na base mas concentrando suas
atividades no profissional.
Por ano passam milhares de jogadores na base. Muitos não
são aproveitados pela incapacidade técnica, competência e honestidade dos que
os avaliam. É preciso ter “vista longa” e ser do meio do futebol para descobrir
valores. Mas, descobri-los de fato. Não outros tipos de valores traduzidos em
mercadoria que com um bom banho de marketing surgem do dia para noite, apoiados
na conivência mal intencionadas de alguns jornalistas esportivos e outros
empresários de ocasião, como “as novas sensações” do futebol brasileiro e até
mundial. Sem me estender demais, é aí que começa a boutique que forma as
alcateias de lobos que tomam conta de um clube de mais de 116 anos, feito de
vitórias mil.
Os poucos aspirantes a craques ou até valorosos jogadores
identificados por esses “lobos” são negociados ainda verdes. Sequer tomam algum
contágio com a história do clube. Naturalmente, as figuras perniciosas que
chamei de “lobos” alegam a necessidade financeira do clube e suas dívidas
estratosféricas para ter de negocia-los. Mas, infelizmente, negociam mal, antes
do tempo e não costumam reverter os dividendos para o clube que investiu na
formação desse jogador. Já virou uma bola de neve. É um círculo vicioso que
parece que só terá fim quando um clube como o Fluminense estiver agonizando.
Camuflados, passam facilmente ao torcedor, ingênuo e
movido pela paixão, a esperança de que jamais um clube do tamanho do Fluminense
Futebol Clube irá acabar. E o torcedor, por sua vez, descarrega suas
frustrações e revolta em treinadores ou presidentes que são apenas marionetes
desses grupinhos e empresários especializados em estatísticas e não em futebol.
Os “lobos” seguem camuflados e blindados. Blindados dentro do clube e em várias
instituições fora dele. Mantendo relações espúrias e nebulosas com os poderosos
do submundo que dá às ordens no futebol brasileiro. São eles os verdadeiros “patrões”
dos jogadores e não mais o clube.
Para esses “lobos” o ideal é que o clube vá bem, mas nem
tanto. Não caia, mas também não seja campeão. Chamar a atenção demais pode ser
muito perigoso. Quem sabe a torcida acaba descobrindo um dia o nome dos “bois”?
Até a final tumultuada da Libertadores entre River Plate
X Boca Juniors, Deus sabe quando e como.
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