Na
crônica de Brasil 2 x 2 Inglaterra tive a ideia de traçar um paralelo entre
duas épocas. A inauguração do Maracanã e a sua reinauguração.
Na data
de hoje, após o empate entre as duas, talvez mais tradicionais, seleções do futebol:
a inventora e o representante da invenção, o assunto não saiu da minha cabeça.
Tampouco o que mais ouvi nas duas emissoras, Globo e Sportv, que transmitiram o
evento:
- “Dez do
primeiro tempo, Brasil 0 x 0 Inglaterra. O Maracanã está lindo!”
- “Vinte
do segundo tempo, Brasil 1 x 1 Inglaterra. Está de fato um show o Maracanã!”
Nós,
reféns da TV (não me interessou ir ao Maracanã) nos perguntamos: que direito
uma emissora tem de capitalizar a camisa amarela que representa um país e só
ela transmitir um evento? Por que não temos o direito de ouvir opiniões e
enfoques diferentes sobre o mesmo jogo? Aí, meu caro, já começa a diferença no
paralelo.
A seleção
de 1950, da época da inauguração, não era monopólio de uma emissora. Se o
locutor “A” não lhe fazia a cabeça, você mudava para o locutor “B”. Mesmo no
rádio, porque é claro, não havia transmissão direta. Entretanto, em 1970
aconteceu um pool de emissoras e todas transmitiram a Copa do Tri. A escolha ficava
a seu critério, não deles. Você não era obrigado a ouvir, em meio a tanta coisa
a dizer sobre o jogo de hoje, repetidamente o chavão: “o placar é esse e o
Maracanã está um espetáculo!”
Essa foi
a primeira grande diferença daquela época. A segunda, é que em 16 de junho de
1950, num Cariocas x Paulistas, vencido pelos paulistas, era inaugurado o Maracanã,
com um gol de Didi pelos Cariocas. Mesmo com a derrota, um mês depois, na Copa, maldita para alguns e
bendita para mim, pois foi a derrota que nos ensinou a competir e refletir
sobre nossos complexos e erros, a direção do futebol era uma só: chegar ao
título, chegar à perfeição. Isso foi alcançado oito anos depois, na Suécia, mas
a base já estava ali e alguns já estavam ali, como o próprio Didi. Muitos campeões
de 1958 já vivenciavam no radinho de pilha o trauma daquela derrota e se enchiam
de brios para as glórias que viriam até 1970, montadas naquela base, justo
naquela base de 1958.
O estádio
encantava pelo seu tamanho, mas o mais importante não era o Maracanã, eram os
rumos do nosso futebol. Neste período e até 1970 houve percalços, mas a
ascensão foi tão genial, quanto os gênios que surgiram. E nos consagraram como
o país do futebol.
Passando
a uma segunda etapa da minha abordagem, entramos na era dita moderna, que
começou com expressões estranhas, nascidas depois dos anos 70. Expressões complicadas,
criadas para não serem entendidas, jogando no lixo todo aprendizado e a
identidade do carimbo brasileiro na marca futebol. Surgia a ciência (torta) no
futebol, a teoria brigando com a parte prática, a crucificação de quem tinha
cometido um pecado, o pecado apenas da desorganização. A auto-exaltação dos que
queriam estar no lugar dos verdadeiros donos da bola. Quebraram a cara. Durante
24 anos o único título foi o de campeão moral. Até, praticamente um jogador,
frise, praticamente, porque ninguém ganha uma Copa sozinho, de nome Romário de
Souza Faria, mostrou ao Brasil, aos intrusos do futebol e ao mundo, que o nosso
futebol era aquele, que ele acabava de classificar frente ao Uruguai em 1993 e
coroava, apesar dos pesares de excesso de cautela, como tetracampeão em 1994,
nos EUA.
A
valorização fez muito bem, por outro lado, trouxe os malefícios dos malfeitos.
Surgiram oficialmente os empresários à frente do futebol. É evidente que eles
já existiam muito antes. Lá atrás, em 1958 já atuavam, mas se limitavam à sua
área de atuação. Não chegavam ao ponto de determinar quase uma comissão técnica
inteira dentro de um time de futebol, influenciando e coordenando clubes,
Federações, o órgão máximo do futebol e por aí afora. Parcimônias vigentes nos
dias de hoje, com treinadores, presidentes de clubes e quaisquer funções que
você possa imaginar. Você pode perguntar aí: os empresários, então, são os
culpados de tudo? Ou por que você os odeia tanto? Nenhuma das duas impressões,
meu amigo. Empresários em países organizados, como os EUA no basquete, são comuns.
Trazem benefícios, mas são proibidos, veja bem, são proibidos de se
intrometerem na qualidade e nas raízes do esporte. Se os empresários
representam negócios, então negócios são negócios. A Cesar o que é de Cesar e
ponto final. Mas, não há chance alguma de passarem um trator numa plantação de
sementes ou colherem os frutos antes da hora. Isso é jogar fora toda uma safra.
É diminuir a qualidade do produto e perder o próprio valor dele. Portanto, nada
contra os empresários e tudo contra um sistema que permite que tamanha
influência nos deixe desarvorados procurando armadores de qualidade, zagueiros
com QI de zagueiros, atacantes com cacoetes de goleadores, e por aí afora.
Não será
lembrando 2002, em que Felipão encontrou dificuldades e as superou, levando a
taça, que ficaremos otimistas por isso. Outro tempo, outra bola. Até no desenho,
no lugar desta colorida, que vergonhosamente rola no gramado verdinho, sem que
haja uma crítica dos artistas que a manobram ou das instituições que os
representam. Você tinha Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho, Felipão. Você ganhou a
criação do Kleberson, de presente. Você tinha o Ronaldo Nazário. Quer mais? E
eles já vinham de várias experiências. Desta época só nos sobrou o Ronaldinho
Gaúcho. Kaká escolheu um caminho que lhe foi conveniente, não parece ter sede
de erguer taças.
Portanto,
a 12 meses da estréia de uma Copa do Mundo, dentro de seus domínios, com um
futebol dotado de um temperamento emotivo em suas raízes, com um time cheio de
garotos, alguns como David Luiz, Filipe Luís, Leandro Damião, Hulk etc., que
não têm, em minha opinião, condições de nos dar confiabilidade em suas
qualidades, mais ainda, sem um poder de criação com objetividade e talento, que
fuja da mesmice de ficar rodando de Marcelo pra Hernanes, de Hernanes pra
Fernando, de Fernando pra Lucas, de Lucas pra Fernando e aí, Dr. Prof. Felipão,
tome bola na área e seja o que Deus quiser, porque você não vai encontrar outro
caminho e esse, com a mais absoluta certeza, não é o melhor caminho para o
futebol brasileiro encontrar as redes. Muito menos com a crítica e crônica
especializada jogando confete e serpentina, pra encher seu cofre antes de
chegar o próximo inverno e descerem o pau, soltando tudo aquilo que guardaram
esse tempo todo. Pouco se importando com o resultado final, se lixando pro
sofrimento do povo. Algo assim... Parecido com o que fizeram com Dunga na última
Copa.
É isso
aí. Tomara que eu esteja errado e os Deuses do futebol deem asas a quem no
momento não tem nem pernas pra jogar 1% do futebol de Mané, de Pelé...
Boa
semana!
Fernando
Afonso
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