domingo, 2 de junho de 2013

MARACANÃ - ANTES E DEPOIS














Na crônica de Brasil 2 x 2 Inglaterra tive a ideia de traçar um paralelo entre duas épocas. A inauguração do Maracanã e a sua reinauguração.

Na data de hoje, após o empate entre as duas, talvez mais tradicionais, seleções do futebol: a inventora e o representante da invenção, o assunto não saiu da minha cabeça. Tampouco o que mais ouvi nas duas emissoras, Globo e Sportv, que transmitiram o evento:
- “Dez do primeiro tempo, Brasil 0 x 0 Inglaterra. O Maracanã está lindo!”
- “Vinte do segundo tempo, Brasil 1 x 1 Inglaterra. Está de fato um show o Maracanã!”

Nós, reféns da TV (não me interessou ir ao Maracanã) nos perguntamos: que direito uma emissora tem de capitalizar a camisa amarela que representa um país e só ela transmitir um evento? Por que não temos o direito de ouvir opiniões e enfoques diferentes sobre o mesmo jogo? Aí, meu caro, já começa a diferença no paralelo.

A seleção de 1950, da época da inauguração, não era monopólio de uma emissora. Se o locutor “A” não lhe fazia a cabeça, você mudava para o locutor “B”. Mesmo no rádio, porque é claro, não havia transmissão direta. Entretanto, em 1970 aconteceu um pool de emissoras e todas transmitiram a Copa do Tri. A escolha ficava a seu critério, não deles. Você não era obrigado a ouvir, em meio a tanta coisa a dizer sobre o jogo de hoje, repetidamente o chavão: “o placar é esse e o Maracanã está um espetáculo!”

Essa foi a primeira grande diferença daquela época. A segunda, é que em 16 de junho de 1950, num Cariocas x Paulistas, vencido pelos paulistas, era inaugurado o Maracanã, com um gol de Didi pelos Cariocas. Mesmo com a derrota, um mês depois, na Copa, maldita para alguns e bendita para mim, pois foi a derrota que nos ensinou a competir e refletir sobre nossos complexos e erros, a direção do futebol era uma só: chegar ao título, chegar à perfeição. Isso foi alcançado oito anos depois, na Suécia, mas a base já estava ali e alguns já estavam ali, como o próprio Didi. Muitos campeões de 1958 já vivenciavam no radinho de pilha o trauma daquela derrota e se enchiam de brios para as glórias que viriam até 1970, montadas naquela base, justo naquela base de 1958.

O estádio encantava pelo seu tamanho, mas o mais importante não era o Maracanã, eram os rumos do nosso futebol. Neste período e até 1970 houve percalços, mas a ascensão foi tão genial, quanto os gênios que surgiram. E nos consagraram como o país do futebol.

Passando a uma segunda etapa da minha abordagem, entramos na era dita moderna, que começou com expressões estranhas, nascidas depois dos anos 70. Expressões complicadas, criadas para não serem entendidas, jogando no lixo todo aprendizado e a identidade do carimbo brasileiro na marca futebol. Surgia a ciência (torta) no futebol, a teoria brigando com a parte prática, a crucificação de quem tinha cometido um pecado, o pecado apenas da desorganização. A auto-exaltação dos que queriam estar no lugar dos verdadeiros donos da bola. Quebraram a cara. Durante 24 anos o único título foi o de campeão moral. Até, praticamente um jogador, frise, praticamente, porque ninguém ganha uma Copa sozinho, de nome Romário de Souza Faria, mostrou ao Brasil, aos intrusos do futebol e ao mundo, que o nosso futebol era aquele, que ele acabava de classificar frente ao Uruguai em 1993 e coroava, apesar dos pesares de excesso de cautela, como tetracampeão em 1994, nos EUA.

A valorização fez muito bem, por outro lado, trouxe os malefícios dos malfeitos. Surgiram oficialmente os empresários à frente do futebol. É evidente que eles já existiam muito antes. Lá atrás, em 1958 já atuavam, mas se limitavam à sua área de atuação. Não chegavam ao ponto de determinar quase uma comissão técnica inteira dentro de um time de futebol, influenciando e coordenando clubes, Federações, o órgão máximo do futebol e por aí afora. Parcimônias vigentes nos dias de hoje, com treinadores, presidentes de clubes e quaisquer funções que você possa imaginar. Você pode perguntar aí: os empresários, então, são os culpados de tudo? Ou por que você os odeia tanto? Nenhuma das duas impressões, meu amigo. Empresários em países organizados, como os EUA no basquete, são comuns. Trazem benefícios, mas são proibidos, veja bem, são proibidos de se intrometerem na qualidade e nas raízes do esporte. Se os empresários representam negócios, então negócios são negócios. A Cesar o que é de Cesar e ponto final. Mas, não há chance alguma de passarem um trator numa plantação de sementes ou colherem os frutos antes da hora. Isso é jogar fora toda uma safra. É diminuir a qualidade do produto e perder o próprio valor dele. Portanto, nada contra os empresários e tudo contra um sistema que permite que tamanha influência nos deixe desarvorados procurando armadores de qualidade, zagueiros com QI de zagueiros, atacantes com cacoetes de goleadores, e por aí afora.

Não será lembrando 2002, em que Felipão encontrou dificuldades e as superou, levando a taça, que ficaremos otimistas por isso. Outro tempo, outra bola. Até no desenho, no lugar desta colorida, que vergonhosamente rola no gramado verdinho, sem que haja uma crítica dos artistas que a manobram ou das instituições que os representam. Você tinha Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho, Felipão. Você ganhou a criação do Kleberson, de presente. Você tinha o Ronaldo Nazário. Quer mais? E eles já vinham de várias experiências. Desta época só nos sobrou o Ronaldinho Gaúcho. Kaká escolheu um caminho que lhe foi conveniente, não parece ter sede de erguer taças.

Portanto, a 12 meses da estréia de uma Copa do Mundo, dentro de seus domínios, com um futebol dotado de um temperamento emotivo em suas raízes, com um time cheio de garotos, alguns como David Luiz, Filipe Luís, Leandro Damião, Hulk etc., que não têm, em minha opinião, condições de nos dar confiabilidade em suas qualidades, mais ainda, sem um poder de criação com objetividade e talento, que fuja da mesmice de ficar rodando de Marcelo pra Hernanes, de Hernanes pra Fernando, de Fernando pra Lucas, de Lucas pra Fernando e aí, Dr. Prof. Felipão, tome bola na área e seja o que Deus quiser, porque você não vai encontrar outro caminho e esse, com a mais absoluta certeza, não é o melhor caminho para o futebol brasileiro encontrar as redes. Muito menos com a crítica e crônica especializada jogando confete e serpentina, pra encher seu cofre antes de chegar o próximo inverno e descerem o pau, soltando tudo aquilo que guardaram esse tempo todo. Pouco se importando com o resultado final, se lixando pro sofrimento do povo. Algo assim... Parecido com o que fizeram com Dunga na última Copa.

É isso aí. Tomara que eu esteja errado e os Deuses do futebol deem asas a quem no momento não tem nem pernas pra jogar 1% do futebol de Mané, de Pelé...


Boa semana!



Fernando Afonso


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