Pessoas,
Há
muito que devia um espaço para aquele que considero ter sido o maior jogador de
todos os tempos. Como disse um famoso jornalista, Pelé e o próprio futebol se
confundem. Um não existe sem o outro. Uma pena aqueles que não tiveram o prazer
e êxtase absoluto, como eu tive, de tê-lo visto jogar bem de perto, algumas
vezes até da geral do Maracanã.
Eu
me lembro que o meu primeiro jogo no estádio foi em 1963, assistindo a Santos e
Milan, numa noite chuvosa. Havia pelo menos, levando em conta minha experiência
do estádio, mais de 100 mil pessoas presentes. Era comum o Santos e outros
times como o Palmeiras jogarem no Maracanã. Recordo muito bem, que com minha
família, vi aquele jogador já consagrado correndo e driblando com perfeição.
Apesar de ser tão novo, tenho até hoje a imagem de sua presença em campo.
Aos
que insistem em dois temas furados como o “Edson e o Pelé” e “Pelé foi o maior
mesmo?”, eu estou fora dos dois. Primeiro porque o Edson é um ser humano como qualquer
um de nós. Não cabe julgar seus erros e acertos. Mesmo sendo ele o Pelé do
futebol. Depois, como dizem os velhos e sábios boleiros que não admitem
comparação de Pelé em nenhuma roda de resenha, eu também acho que Pelé não
entra em comparação alguma. Está acima de qualquer uma.
Apesar
da geração super presunçosa e até arrogante da atualidade, em maior parte,
insistir em comparar jogador a partir somente do que viram atualmente e do que
dizem os atuais sabichões da bola, em nenhum dos argumentos anti-Pelé, a
comparação se encaixa. Na parte física, o “negão” era um fenômeno. 100 metros em 10
segundos em 1970 é mensuração de “atleta”, como gostam de chamar jogador de
futebol nos dias atuais. Os fundamentos de Pelé de fato parecem ter sido dados
por Deus. Domínio de bola, passe, visão, chute, antevisão, malandragem etc.
Pra
muitos, o jogo era lento antigamente. Então os que não viram, se quiserem
entender Pelé, deem a dinâmica de jogo de 40 anos atrás à atual força física.
Mas não a qualidade, porque senão eu me retiro da conversa. Meu amigo, Pelé
fazia um passe de Gerson, como contra a Tchecoslováquia na Copa de 70, colado a
um zagueiro dentro da área, matando a bola em uma etapa de preparação para
definição do toque final, com tamanha perfeição (quem lembra desse lance) que
tudo parecia ser fácil.
Com
seus 1,71 e meio de altura subia mais que um líbero de 1,89, pra fazer 1 X 0
contra a Itália. Subia no tempo certo antes de Manga, contra o Botafogo. Se via
cercado por 3, 4, 5 jogadores e passava por todos eles. Trabalhava com as duas
pernas. Driblava e arrancava como um raio e nunca fugia do pau. Isso quando não
dava o troco, como fez com Dagoberto Fontes na cotovelada da Copa de 70. “Ah,
hoje as câmeras pegavam e ele era suspenso”. E ele seria otário de fazer igual?
“Ah, hoje ele estaria direto em um clube da Europa”. Pelé tinha um senso de
patriotismo incomparável. “Ah, ele hoje certamente ia fugir do pau, batem
demais”. Companheiro: Bombonera pra ele era Vila Belmiro. O Rei não tirava o pé
jamais. Certa vez contra o Vasco o vi fazendo uma jogada em cima de Renê, a
cerca de uns 20 metros
de distância, que não acreditei como alguém podia driblar alguém, sendo puxado
pela camisa, e conduzir a bola em um espaço tão pequeno, a uns dois palmos da
risca da linha de fundo.
Uma
vez, em um papo informal, comentei com o amigo e ex-jogador Afonsinho, que
jogou com Pelé, Nenê e Brecha, no meio campo santista, em 72:
- Afonsinho, você que jogou com o Negão, assim... Explicitamente, o que você sentia de diferente jogando ao lado dele?
- Afonsinho, você que jogou com o Negão, assim... Explicitamente, o que você sentia de diferente jogando ao lado dele?
-
Nada demais que os outros (risos). A diferença é que ele pensava antes aquilo
que a gente tinha acabado de pensar e entendia o que a gente queria fazer e pra
onde queria ir dentro de campo.
Não
vou deixar nenhum lance em destaque, porque ele era a obra prima do futebol.
Não conheço ninguém que com 17 anos tivesse coragem e bola, numa final de Copa
do Mundo, dentro da área adversária, sem uma estrela de título na camisa, dar
balãozinho na zaga e concluir com maestria. Ninguém.
Essa
é a homenagem, Pelé, que posso fazer com você vivo. Porque depois de morto, até
político no Brasil vira santo.
Uma
boa semana a todos!