Resolver problema financeiro dos clubes, de federações,
entidades, dirigentes, empresários, jogadores, aumentando o número de torneios
e jogos é uma solução destrutiva e ignorante. Os que pensam no lucro via este
tipo de solução estão cavando sua própria falência, contribuindo para a péssima
qualidade do futebol apresentado em geral. Algum tempo atrás diziam que os
campeonatos europeus eram diversos, portanto exemplo a seguir. Em primeiro
lugar não são tantos assim. Além do mais, as copas e os torneios que se
disputam lá obedecem a calendários planejados, intervalos maiores entre os
jogos, preços de ingressos compatíveis com a renda dos torcedores e adaptação
ao clima da principal ferramenta de trabalho do jogador de futebol: o corpo.
No Brasil estender esse exemplo à América do Sul, à
penúria financeira aliada à crise, põe em prática jogos dia sim e dia não.
Quando não são um dia sim e outro também. Alguns de clubes completamente
desconhecidos. Outro dia vieram ao Brasil dois clubes argentinos que até o
início de Abril haviam feito apenas dois jogos na temporada. Muita gente deve
pensar: “então como pode ser o excesso de jogos?”. Esse excesso de jogos e
campeonatos causa também esse mal. Desgasta o espetáculo e o público, desorganiza
competições, afasta o torcedor e, aliado a crises econômicas e esportivas como
a vivida pela Argentina, interrompe competições nacionais por falta de recursos
de clubes, federações e expectadores. E de falta de atrações a altura do apelo
de massa necessário. A qualidade e o rendimento do futebol sul-americano nas
eliminatórias para a Copa de 2018 comprova o que digo. Como o Brasil tem mais
qualidade, como citei na última crônica, e Neymar em estado de graça, além da
maioria de seus jogadores titulares atuarem fora do Brasil, a performance é bem
melhor.
Portanto o torcedor não deve se assustar e se entristecer
tanto ao ver estádios em jogos de transmissão na TV com imensas lacunas vazias.
Jogos com expectativas de público de no mínimo 40, 60 mil expectadores, com apenas
25 mil ou menos presentes. Muitos diriam: “Não, mas teve jogo A, jogo B que
lotou este ou aquele estádio”. Não adianta mentir para o torcedor. São estádios
de capacidades bem menores e um ou outro jogo isoladamente consegue apelo
suficiente para ter um público condizente com a partida. Isso sem falar os
prejuízos gravíssimos que os calendários e a insistência do modelo trazem ao
futebol em si. Má qualidade de espetáculos, exaustão evidente de várias
equipes, irregularidades frequentes durante uma partida oriundas de uma
desmedida intensidade e o desgaste que ao longo prazo vai contribuindo para
lotar os departamentos médicos dos clubes, causando às consequentes lesões, desfalcando
as equipes e seus principais jogadores devido ao abuso de capacidade física dos
artistas da bola.
Finalizo lembrando que o torcedor também paga essa conta.
Boa parte dos que não vão ao estádio não o fazem apenas por falta de recursos
financeiros. Tudo que é demais enjoa. Um dos segredos para grandes embates e
tradição como uma Copa do Mundo, por exemplo, é o intervalo regular entre a
competição. Como diziam antigamente: “quase sempre o melhor da festa é esperar
por ela”.
Respeitem o torcedor. Respeitem o futebol.
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