domingo, 17 de março de 2019

Dona FIFA pelo amor de Deus deixe o futebol em paz


As últimas notícias que geraram alguma polêmica esta semana são referentes aos novos objetivos da Federation International Football Association, a lendária FIFA. Seria injusto dizer que todas as suas administrações foram abaixo da crítica, absurdamente equivocadas.

Em alguns aspectos ela contribuiu, sim, para o futebol, dando-lhe status, organizando muitos detalhes. Em vários casos até unindo países e continentes. Mas, atualmente, isso é coisa do passado. Quando os times podiam gerir-se a si próprios e a autonomia pela força do futebol e de seus dirigentes, gostassem ou não, tinha de ser respeitada.
Hoje, a história é outra. A FIFA se mete em tudo, comercializa tudo e coloca o dedo do marketing até onde não tem de colocar e não deve. Não adianta, senhora FIFA, suas medidas não vão suprir a ausência da magia e do talento no futebol. Não vão facilitar o berçário do futebol com novos “Pelés”, “Beckenbauers”, “Maradonas”, etc.

Na última Copa eu até concordo que ela tenha dado uma bola dentro. Refiro-me ao VAR. Em casos especiais é necessário, sim, rever aquele tal lance que faria injustiça a determinada equipe. O VAR ainda é um pouco cercado de exibição desnecessária. Em todo caso, é, sim, válido. Como foi válida através dos anos a integração dos países e a inclusão de maiores oportunidades nas disputas das eliminatórias para as Copas do Mundo.

Pois é, só que aí se estraga tudo quando começam a permitir campos de grama sintética, que modificam brutalmente uma partida de futebol em seus mínimos detalhes, sempre para pior. E apesar da modernidade de tais pisos, o risco de lesões articulares ainda é maior. O tempo técnico, por pior que sejam as condições atmosféricas (a não ser um dilúvio ou uma situação de um calor escaldante que coloque em risco a própria vida do jogador) é outra medida infeliz. Futebol não é basquete. Você parou, para tudo. Para a integração da torcida com o jogo. Muitas vezes desvia até o rumo de uma partida.

A novidade agora é o Mundial Interclubes acontecendo de 4 em 4 anos e com a presença de 24 equipes. Ora, um dos segredos do futebol é esperar por um resultado. Simplesmente você vai criar um campeonato de uma inevitável competição paralela com a Copa do Mundo. A finalidade é financeira, é óbvio. Mas, calamitosa. Muita gente vai esquecer até que existe tal competição.

Outra infeliz ideia é a tentativa de já na próxima Copa, no Catar, colocar 48 equipes. Assim como numa final de campeonato regional ou de caráter continental o jogo de ida e volta tira parte da emoção e do glamour do jogo final, continuar inventando ao colocar 48 times, inchando uma competição que eu sei que o seu início não passa de uma confraternização, para, de uma hora pra outra, começar a correr contra o tempo alegando que esse funil é que traz a graça e o segredo da competição, é uma péssima inovação. A tal hora que se você perder, está fora. Continua sendo injusto uma equipe sair da Copa do Mundo com uma performance geral melhor que outra. Uma ressalva para os jogos eliminatórios e o jogo decisivo.

Eu acredito que estes erros aconteçam devido aos executivos que se metem no mundo da bola. Os olhos veem cifrão, mas eles nem sabem de que é feita a bola, qual deve ser a melhor e como se deve programar um jogo para que seja bem jogado. A direção de uma FIFA combina com Zidane, Beckenbauer, Maradona (sim, por que não?), Seedorf, Zanetti, Baggio, o próprio Pelé como conselheiro, enfim, há vários nomes especialistas, anos luz à frente de gente que nunca tocou numa bola, mas que não têm vez.
Peço encarecidamente, como no título da matéria, pare, Dona FIFA! Se não atrapalhar, já está ajudando muito!

Nota: não podia deixar de fazer uma referência, uma homenagem, a um dos maiores centroavantes do futebol brasileiro, Coutinho, que fazia uma dupla de ataque com Pelé das mais famosas, senão a mais famosa do futebol mundial até hoje. Um nasceu para o outro. Coutinho sabia onde Pelé estava e Pelé parecia ter GPS para localizar Coutinho. A precisão dos passes em meio a uma montanha de zagueiros, todos primando por um verdadeiro balé de um toque só, ofensivo, técnico, raro, mortal. Quem marcou essa dupla sabe bem o que passou. Eu tive a felicidade de vê-los no fim da carreira nos estádios de futebol.

Que o nosso querido, humilde, de um caráter maravilhoso e de um futebol impecável e inteligentíssimo, descanse em paz. Obrigado, Coutinho!

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