domingo, 10 de março de 2019

POR QUE O JOGADOR DE FUTEBOL ESTÁ PERDENDO IDENTIDADE?



Este é um dos assuntos mais sérios e importantes no futebol atual. Tanto brasileiro, quanto de outras partes do mundo. A lei do mais forte, o poder do dinheiro, é o vilão da história. Totalmente enganado quem atribui à perda do romantismo da bola, do malabarismo e do jogo mágico, a qualquer tipo de tática, inovação ou modernidade.

Vou começar pelos efeitos mais distantes de nós, aqui no Brasil. Vejamos a África: há mais de 30 anos começaram a surgir seleções como Camarões, Gana, Costa do Marfim, Senegal e Nigéria, revelando jogadores como Roger Milla, Kanu, Okocha, Drogba e por aí vai. As seleções desses países engrenavam nas Copas do Mundo após fazerem bonito nas Copas da África. Eram osso duro. Vários jogos estão aí na história como exemplo de dor de cabeça para Itália, Inglaterra e o próprio Brasil. A fonte secou? Não. Nascidos em países pobres, não havia clube local ou mesmo um país inteiro que tivesse condições financeiras de mantê-los. Começou o êxodo para os países tradicionais. Muitos nem tanto a peso de ouro, mas o suficiente para enriquecê-los. Que vontade tinham esses jogadores de voltar a seus países e jogar em um clube local?

Imagino a dificuldade de se unificar essas estrelas durante uma Copa do Mundo. Era vaidade e estranheza pra todo lado. Tudo devido à ascensão social. Não se tinha nada, da noite pro dia se tem tudo. É natural a transformação social e do perfil desses jogadores. Vi nessa última Copa o técnico Aliou Cissé extrair de sua equipe, o Senegal, o máximo que pôde. E ele tinha vantagem, por ser da terra e conhecer melhor que os habituais estrangeiros escolhidos para dirigir as seleções africanas.

Desvio a rota para a América do Sul, onde Messi, Neymar, Agüero, Dí Maria, Suárez, Phillipe Coutinho, Alexis Sánchez, William e mais dúzias e dúzias, fazem de times como Real Madrid, Barcelona, PSG, Manchester City entre outros, verdadeiros esquadrões. Não devido a jogadores oriundos de sua pátria. Não devido ao futebol espanhol, inglês ou francês. Mas aos craques importados. Não fica muito diferente a reação na América do Sul, como citei na África. Alguns quando retornaram, tiveram problemas técnicos, disciplinares, de adaptação, enfim, não se firmaram. Por isso, ao voltar aos países de origem, raros voltam a brilhar. Isso já acontecia após a Seleção Brasileira de 1982 que tinha Falcão jogando na Roma, mas que não perdera sua identidade e sua alegria de jogar no futebol brasileiro.

Isso ficou demonstrado naquela Copa. Mas, já em 1990, atingíamos o topo do estrelismo ligado à exportação e à riqueza. Eram celulares, logomarcas sendo escondidas em fotos oficiais (como na Seleção brasileira de 90) e a grande maioria jogava fora do Brasil. Na realidade, tivemos até sorte. Era muito difícil conquistarmos a Copa de 1994 e a de 2002 sem resolvermos de alguma forma esse problema. Em 94, Romário, que adorava jogar pela Seleção, quase sozinho classificou o Brasil e praticamente o levou ao título, com a companhia eficiente de Taffarel e mais 2 ou 3 valores. 

Em 2002, não foi diferente. Nas eliminatórias, sofríamos com a cisma de Felipão ao erguer a bandeira gaúcha como característica única e principal do futebol brasileiro. Seu regionalismo e provincianismo insistiam em Tinga e Eduardo Costa, lembram disso? Isso chegou a nos custar uma derrota para a poderosa Seleção de El Salvador e por um fio nos classificamos. Graças aos deuses do futebol, surgiram nada mais, nada menos, que Edilson, Ricardinho, Luisão, Denílson (estes na reserva). Ronaldo Nazário em sua melhor forma, Rivaldo no apogeu, Ronaldinho Gaúcho, Kleberson, Marcos e Lucio, acertando, por fim, assim como Roberto Carlos e Cafu. E mesmo assim tivemos um caminho fácil, de China, Turquia e Costa Rica. Mas vencemos. Era uma Seleção de puro bom futebol. Voltamos em 2002 a ter vários jogadores que desequilibravam, provando à Inglaterra, por exemplo, que não há modernidade que detenha a clarividência de um Ronaldinho Gaúcho de encobrir seu goleiro, fingindo que ia jogar na área.

Bom, isso vem acontecendo nos clubes do Brasil e do mundo inteiro, a todo momento. É um entra e sai constante. À medida que empobrecem o berçário das estrelas, “sequestrando-as para dançar para os reis”, as seleções tradicionalmente fantásticas vão secando. E o pior disso tudo, meus amigos, no caso, por exemplo da Seleção Brasileira, sua convocação é feita sempre a partir de jogadores que jogam fora do Brasil. E isso não pode ser carta marcada. É difícil contê-los aqui? Quase impossível. É a força da grana. É a realidade. Mas que ao menos saiam preparados ou quase prontos. E isso nunca acontece. Muitos chegam lá e voltam. Vários deles já provaram que não rendem e que não vão render. Mas, cadê visão para perceber isso e entremeá-los com os poucos que estão aqui, mas podem brilhar? Os compromissos de Tite, seus interesses e teimosias, o deixarão perceber isso?

Boa semana a todos!

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