Imagem: Thiago Ribeiro / Agif |
Inicialmente, abro espaço para um breve comentário do
jogo que acabei de assistir, Flamengo 3 X 2 Athletico Paranaense, no Maracanã.
Fico extremamente feliz quando vejo rastros de futebol em campo como vi nos
momentos finais deste jogo. A crítica esportiva “especializada”, por razões
estranhas, vem através da mídia cavando a demissão do treinador do Flamengo,
Abel.
Hoje parecia o dia “D” para isso acontecer. O Flamengo
saiu na frente, permitiu uma virada do Athletico, e quando o cenário e o
semblante do treinador rubro-negro já pensavam em quem seria seu substituto, Éverton
Ribeiro, o maior jogador do Brasil no momento (não para Tite, o que não é de
estranhar), acha um cruzamento rasante que vira mais um passe para o empate do
Fla. E à moda e tradição do clube da Gávea, aos 51 minutos, em jogada de pura
raça, uma cabeçada firme, certeira e mortal de Rodrigo Caio muda o final do
filme que se desenhava.
Jogadores abraçados a Abel ao fim do jogo e o treinador
emocionado, mostrando que o grupo está de bem com ele. Fez-se justiça. Abel
nunca foi meu treinador predileto. Mas é experiente e não dirige o melhor time
do mundo. Os números dele em quase 6 meses são positivos. Portanto, os abutres
terão de esperar outra ocasião para se servir do clube da Gávea.
Do futebol ao anti-futebol, que denomino futebol de
negócios, o personagem é João Pedro, do Fluminense, atacante revelado pelo
clube tricolor e guardado a sete chaves até há poucos dias. Foi apresentado à
torcida, atuando no time profissional, já negociado, com 17 anos. Na
quinta-feira passada teve atuação de destaque, confirmando às expectativas do
grande jogador que esperam dele.
Este não é o primeiro caso no futebol brasileiro,
sul-americano e africano. Muito menos envolvendo o Fluminense. Vários já saíram,
vendidos como promessas, em particular para times da Inglaterra, sendo que a
maioria até não decolou tanto. O clube não colheu benefícios e muito menos a
torcida viu algum tipo de retorno em matéria de renovação dos valores e aproveitamento
pelo clube do outro lado, o financeiro. Os cartolas, empresários e dirigentes,
fora outros tipos de assistentes, sim. Estes não perderam nunca. O futebol é
que continuará perdendo, abrindo espaço a esse tipo de “colaborador”.
No caso do Fluminense e de alguns times do Brasil, não
excluo os da América do Sul, isso acontece, na maioria das vezes, por necessidade
financeira ou desonestidade. No caso da África, que você pode perceber através
da decadência do futebol da região, quando no início dos anos 80 ele iniciava
uma ascensão muito promissora, pode haver desonestidade também, é evidente. Mas
é muito mais por necessidade financeira. Com isso o futebol africano vem
perdendo força, renovação e identidade, o que é muito ruim para o mundo.
Não vou entrar nos detalhes dos valores que envolveram a
negociação de João Pedro, como de hábito muito abaixo da média de clubes que
sabem ao menos negociar suas promessas. Sei que isso não retornará em forma de
nenhum benefício técnico, estrutural e também financeiro para o clube. Do
contrário, hoje era para o Fluminense ter em seu histórico vários títulos nos
últimos anos e no mínimo 11 jogadores de alto nível em campo. E a realidade tem
mostrado o contrário. Os títulos brasileiro e o vice-campeonato da Libertadores
foram em outra administração, em outro projeto e reunindo jogadores, de alto
nível, contratados por essa administração.
O Brasil vai ter de decidir o modelo de seus clubes
imediatamente. Porque a ideia de que a fonte não seca e a árvore sempre dará
frutos, como pensam sobre o futebol brasileiro, não encontra mais nenhum tipo
de argumento.
Por fim, acho que a CBF também tem responsabilidade e uma
grande culpa, pois ela se beneficia disso. Mas o futebol do país sofre e vai
perdendo o brilho à medida que os craques, os verdadeiros artistas do futebol,
vão desaparecendo e escasseando devido a esse futebol de negócios, esse futebol
predatório.
Boa semana!