domingo, 26 de maio de 2019

ATÉ ONDE VAI O FUTEBOL DE NEGÓCIOS

Imagem: Thiago Ribeiro / Agif

Inicialmente, abro espaço para um breve comentário do jogo que acabei de assistir, Flamengo 3 X 2 Athletico Paranaense, no Maracanã. Fico extremamente feliz quando vejo rastros de futebol em campo como vi nos momentos finais deste jogo. A crítica esportiva “especializada”, por razões estranhas, vem através da mídia cavando a demissão do treinador do Flamengo, Abel.

Hoje parecia o dia “D” para isso acontecer. O Flamengo saiu na frente, permitiu uma virada do Athletico, e quando o cenário e o semblante do treinador rubro-negro já pensavam em quem seria seu substituto, Éverton Ribeiro, o maior jogador do Brasil no momento (não para Tite, o que não é de estranhar), acha um cruzamento rasante que vira mais um passe para o empate do Fla. E à moda e tradição do clube da Gávea, aos 51 minutos, em jogada de pura raça, uma cabeçada firme, certeira e mortal de Rodrigo Caio muda o final do filme que se desenhava.

Jogadores abraçados a Abel ao fim do jogo e o treinador emocionado, mostrando que o grupo está de bem com ele. Fez-se justiça. Abel nunca foi meu treinador predileto. Mas é experiente e não dirige o melhor time do mundo. Os números dele em quase 6 meses são positivos. Portanto, os abutres terão de esperar outra ocasião para se servir do clube da Gávea.

Do futebol ao anti-futebol, que denomino futebol de negócios, o personagem é João Pedro, do Fluminense, atacante revelado pelo clube tricolor e guardado a sete chaves até há poucos dias. Foi apresentado à torcida, atuando no time profissional, já negociado, com 17 anos. Na quinta-feira passada teve atuação de destaque, confirmando às expectativas do grande jogador que esperam dele.

Este não é o primeiro caso no futebol brasileiro, sul-americano e africano. Muito menos envolvendo o Fluminense. Vários já saíram, vendidos como promessas, em particular para times da Inglaterra, sendo que a maioria até não decolou tanto. O clube não colheu benefícios e muito menos a torcida viu algum tipo de retorno em matéria de renovação dos valores e aproveitamento pelo clube do outro lado, o financeiro. Os cartolas, empresários e dirigentes, fora outros tipos de assistentes, sim. Estes não perderam nunca. O futebol é que continuará perdendo, abrindo espaço a esse tipo de “colaborador”.

No caso do Fluminense e de alguns times do Brasil, não excluo os da América do Sul, isso acontece, na maioria das vezes, por necessidade financeira ou desonestidade. No caso da África, que você pode perceber através da decadência do futebol da região, quando no início dos anos 80 ele iniciava uma ascensão muito promissora, pode haver desonestidade também, é evidente. Mas é muito mais por necessidade financeira. Com isso o futebol africano vem perdendo força, renovação e identidade, o que é muito ruim para o mundo.

Não vou entrar nos detalhes dos valores que envolveram a negociação de João Pedro, como de hábito muito abaixo da média de clubes que sabem ao menos negociar suas promessas. Sei que isso não retornará em forma de nenhum benefício técnico, estrutural e também financeiro para o clube. Do contrário, hoje era para o Fluminense ter em seu histórico vários títulos nos últimos anos e no mínimo 11 jogadores de alto nível em campo. E a realidade tem mostrado o contrário. Os títulos brasileiro e o vice-campeonato da Libertadores foram em outra administração, em outro projeto e reunindo jogadores, de alto nível, contratados por essa administração.

O Brasil vai ter de decidir o modelo de seus clubes imediatamente. Porque a ideia de que a fonte não seca e a árvore sempre dará frutos, como pensam sobre o futebol brasileiro, não encontra mais nenhum tipo de argumento.

Por fim, acho que a CBF também tem responsabilidade e uma grande culpa, pois ela se beneficia disso. Mas o futebol do país sofre e vai perdendo o brilho à medida que os craques, os verdadeiros artistas do futebol, vão desaparecendo e escasseando devido a esse futebol de negócios, esse futebol predatório.

Boa semana! 

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