Li hoje na manchete de um jornal carioca:
Fiquei surpreso pelo tempo que Zico demorou a chegar a esta
conclusão. Mas, discordo do “Galo” e de quem pensa assim. Até bem pouco tempo
diziam que a seleção de 82 teria sido até superior as de 70 e 58, o que retrata um profundo desconhecimento de futebol. Zico talvez queira dizer que Paulo
Isidoro deixaria a seleção mais defensiva, ajudando no meio campo. E em
determinado momento cita até a exclusão de Falcão para que o time ficasse mais
forte. O que houve com o “Galo”? Tirar Falcão daquele meio seria igualar aquele
time aos demais concorrentes.
Eu expus em uma crônica há algum tempo que, de fato, aquela
seleção não tinha equilíbrio ideal. Não importa o 4-3-3 ou o 4-2-4. Importante
é você atacar e defender com igual eficiência. E aquele time era escalado de uma
forma que não permitia isso. É preciso puxar pela memória ou rever tapes dessa
Copa para iluminar certas conclusões. Já na estreia, contra a então União
Soviética, passamos sufoco. Os russos saíram na frente, tiveram um gol mal
anulado, saímos jogando com Dirceu, um canhoto nato, na ponta direita, e se não
fossem duas obras de arte, foguetes de ouro de Sócrates e Éder, contra o então inexpugnável
Dasayev, não passaríamos pela União Soviética, não.
Depois pegamos Escócia e Nova Zelândia. Obrigação nossa
golear, não? Mas persistiam erros de escalação. Waldir Peres não estava à
altura daquele time. Luizinho, do Atlético Mineiro, era excelente tecnicamente.
Mas pouco competitivo e cerimonioso demais. Faltava-lhe o rigor de um zagueiro.
O rigor de um Oscar, que jogava ao seu lado. Menos técnico, mas com maior virilidade.
Junior, excepcional. Mas, embora ainda novo, não mais como lateral. E de fato
ter apenas Cerezo, um volante que flutuava pelo campo na proteção a essa zaga,
mais Leandro na lateral direita, era ter um time desequilibrado em relação ao
meio para frente, onde você via Falcão, Sócrates, Zico, Serginho e Éder. Como
reposição ele usava Paulo Isidoro, Dirceu e Batista.
Outro erro grande de escalação estava no poderoso ataque.
Serginho não estava e nunca esteve à altura daquele time também. Telê era um
técnico muito inteligente e de muita visão. Mas, cometia muitos erros por
conservadorismo, provincianismo e teimosia também. Com a contusão de Careca na
convocação não havia nome melhor do que Roberto Dinamite. Muito superior a
Serginho, que por vezes atrapalhava ao invés de ajudar. Se você quisesse dar
equilíbrio a esse time, meu querido “Galo”, seria melhor ter tirado o Serginho
e usado Batista com Cerezo. Ou melhor, utilizado Rodrigues Neto na lateral,
trazendo Junior para o meio e aí sim sacando Serginho. Era a única forma de
tornar aquele time mais equilibrado. A própria escalação de Roberto, da qual
dificilmente abriria mão, implicaria na saída de Zico, Sócrates, Falcão ou até
mesmo Éder. Este último, talvez me passasse até pela cabeça tirá-lo, por
questões táticas, para reforçar o poder de marcação e competitividade do meio.
Se tirasse Falcão, Zico, você e Sócrates ficariam isolados
lá na frente, além de Serginho, naturalmente. Vocês enfrentaram uma Itália
extremamente competitiva e mordida por problemas extracampo com a imprensa. E para
piorar, o Brasil tinha feito ótima partida na sexta-feira contra a Argentina,
do estreante Maradona, que fora expulso, e já na segunda enfrentava esta
Itália. Por mais cautela que houvesse no grupo, uma certa euforia tomou conta,
como de costume, após aquela chinelada na Argentina. Era “Voa Canarinho” pra
todo lado. Tenho certeza que aquilo tirou um pouco os jogadores do foco. Até
porque a Itália vinha aos trancos e barrancos. Mas tinha um grande time. Era e
ainda é uma das maiores escolas de marcação do mundo. E havia apenas um espaço
de 48 horas entre esses dois gigantes.
Portanto, Zico, o time não era torto. O time era
desequilibrado em termos defensivos. A seleção deslizava do meio pra frente.
Mas não criava obstáculos fortes do meio pra trás. E diante de toda aquela
euforia que tomou conta do Brasil inteiro e da própria Espanha, ninguém
percebeu isso. Nem Telê, nem vocês que estavam em campo voando com nosso
canarinho.
Segue para vocês o link da reportagem e dos comentários de
Zico e Falcão que geraram esta crônica especial: http://odia.ig.com.br/esporte/2017-07-06/zico-diz-que-selecao-ficou-torta-apos-mudanca-feita-por-tele-na-copa-de-1982.html
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