quinta-feira, 6 de julho de 2017

BRASIL DE 1982: A CRÍTICA DE ZICO 35 ANOS DEPOIS


Li hoje na manchete de um jornal carioca:


Fiquei surpreso pelo tempo que Zico demorou a chegar a esta conclusão. Mas, discordo do “Galo” e de quem pensa assim. Até bem pouco tempo diziam que a seleção de 82 teria sido até superior as de 70 e 58, o que retrata um profundo desconhecimento de futebol. Zico talvez queira dizer que Paulo Isidoro deixaria a seleção mais defensiva, ajudando no meio campo. E em determinado momento cita até a exclusão de Falcão para que o time ficasse mais forte. O que houve com o “Galo”? Tirar Falcão daquele meio seria igualar aquele time aos demais concorrentes.

Eu expus em uma crônica há algum tempo que, de fato, aquela seleção não tinha equilíbrio ideal. Não importa o 4-3-3 ou o 4-2-4. Importante é você atacar e defender com igual eficiência. E aquele time era escalado de uma forma que não permitia isso. É preciso puxar pela memória ou rever tapes dessa Copa para iluminar certas conclusões. Já na estreia, contra a então União Soviética, passamos sufoco. Os russos saíram na frente, tiveram um gol mal anulado, saímos jogando com Dirceu, um canhoto nato, na ponta direita, e se não fossem duas obras de arte, foguetes de ouro de Sócrates e Éder, contra o então inexpugnável Dasayev, não passaríamos pela União Soviética, não.

Depois pegamos Escócia e Nova Zelândia. Obrigação nossa golear, não? Mas persistiam erros de escalação. Waldir Peres não estava à altura daquele time. Luizinho, do Atlético Mineiro, era excelente tecnicamente. Mas pouco competitivo e cerimonioso demais. Faltava-lhe o rigor de um zagueiro. O rigor de um Oscar, que jogava ao seu lado. Menos técnico, mas com maior virilidade. Junior, excepcional. Mas, embora ainda novo, não mais como lateral. E de fato ter apenas Cerezo, um volante que flutuava pelo campo na proteção a essa zaga, mais Leandro na lateral direita, era ter um time desequilibrado em relação ao meio para frente, onde você via Falcão, Sócrates, Zico, Serginho e Éder. Como reposição ele usava Paulo Isidoro, Dirceu e Batista.

Outro erro grande de escalação estava no poderoso ataque. Serginho não estava e nunca esteve à altura daquele time também. Telê era um técnico muito inteligente e de muita visão. Mas, cometia muitos erros por conservadorismo, provincianismo e teimosia também. Com a contusão de Careca na convocação não havia nome melhor do que Roberto Dinamite. Muito superior a Serginho, que por vezes atrapalhava ao invés de ajudar. Se você quisesse dar equilíbrio a esse time, meu querido “Galo”, seria melhor ter tirado o Serginho e usado Batista com Cerezo. Ou melhor, utilizado Rodrigues Neto na lateral, trazendo Junior para o meio e aí sim sacando Serginho. Era a única forma de tornar aquele time mais equilibrado. A própria escalação de Roberto, da qual dificilmente abriria mão, implicaria na saída de Zico, Sócrates, Falcão ou até mesmo Éder. Este último, talvez me passasse até pela cabeça tirá-lo, por questões táticas, para reforçar o poder de marcação e competitividade do meio.

Se tirasse Falcão, Zico, você e Sócrates ficariam isolados lá na frente, além de Serginho, naturalmente. Vocês enfrentaram uma Itália extremamente competitiva e mordida por problemas extracampo com a imprensa. E para piorar, o Brasil tinha feito ótima partida na sexta-feira contra a Argentina, do estreante Maradona, que fora expulso, e já na segunda enfrentava esta Itália. Por mais cautela que houvesse no grupo, uma certa euforia tomou conta, como de costume, após aquela chinelada na Argentina. Era “Voa Canarinho” pra todo lado. Tenho certeza que aquilo tirou um pouco os jogadores do foco. Até porque a Itália vinha aos trancos e barrancos. Mas tinha um grande time. Era e ainda é uma das maiores escolas de marcação do mundo. E havia apenas um espaço de 48 horas entre esses dois gigantes.

Portanto, Zico, o time não era torto. O time era desequilibrado em termos defensivos. A seleção deslizava do meio pra frente. Mas não criava obstáculos fortes do meio pra trás. E diante de toda aquela euforia que tomou conta do Brasil inteiro e da própria Espanha, ninguém percebeu isso. Nem Telê, nem vocês que estavam em campo voando com nosso canarinho.

Segue para vocês o link da reportagem e dos comentários de Zico e Falcão que geraram esta crônica especial: http://odia.ig.com.br/esporte/2017-07-06/zico-diz-que-selecao-ficou-torta-apos-mudanca-feita-por-tele-na-copa-de-1982.html


Nenhum comentário:

Postar um comentário