Um dos clubes mais tradicionais do Brasil chega aos 115
anos. Talvez tenha estranhado a expressão “moderno” para tantos anos de
existência. Eu me refiro ao Fluminense moderno de hoje, como chamam seus associados
mais influentes e seus diretores e comandantes de futebol.
Tenho que me deter ao futebol, mas é óbvio que o
Fluminense não é somente este esporte. Como diz seu hino, teve e tem glórias
mil. Alcançou sucesso nacional e internacional em várias modalidades esportivas.
Mas o clube se chama Fluminense Futebol Clube. Não me interesso pela derivação
em inglês das palavras futebol e clube. O Fluminense nasceu aqui, portanto é um
clube brasileiro. Não tem nenhuma obrigação de ser poliglota, a não ser em algum
cargo que desconheço.
Para falar do presente e explicar a modernidade é
necessário lembrar costumes e estilos do passado. O clube das Laranjeiras
sempre foi, no âmbito do futebol, a que vou me ater, um clube conservador,
pautado pela disciplina, que, como diz o hino, sempre o fascina. Uma
organização fantástica que lhe rendeu a Taça Olímpica de 1949. O clube não
formava apenas times medíocres no passado. Mas era sua marca times mais
modestos que alcançavam glórias devido ao trabalho sério, organizado e de sua
própria estrela. Passaram jogadores como Escurinho, Didi, Telê, Waldo, Jair
Marinho, Castilho. E, em um passado distante, Batatais, Preguinho, Orlando
Pingo de Ouro, entre outros. Perdoe se falta um nome aqui e ali, tão
expressivo, mas é normal ao falar em 115 anos.
Tive o prazer de ser levado para o clube pelas mãos de
Zezé Moreira, em 1974, para as categorias amadoras do infanto-juvenil e do
juvenil, onde atuei como goleiro, mas tive de encerrar minha carreira
precocemente, ainda no início, devido a problemas familiares. Deixei alguns
amigos lá como Robertinho, Flávio Renato, os saudosos Pinheiro, Flavio, Dr.
Haddad, José Farias, até o boníssimo João de Deus, o folclórico Biscoito, os
dedicados e guerreiros Roberto Alvarenga e João “Boca de Ovo”, entre outros.
Continuei acompanhando e torcendo. Foi na minha ocasião
que vi entrar as primeiras contratações, pelas mãos de Horta, que quebravam a
regra de chamar o Fluminense de timinho, de ser campeão apenas com times
modestamente formados. Vi entrarem Mario Sergio, Zé Mário, Rivelino, Paulo
Cezar e mais tarde outros fazendo a famosa máquina tricolor. Criando depois uma
seleção, do goleiro ao ponta esquerda, como se dizia, sem maiores detalhes. Era
tão anormal aquela postura de Horta que me lembro bem dos rumores e críticas
dos mais velhos a ela.
Bem, depois disso, ou melhor, anos mais tarde, o
Fluminense caiu no inferno da 2ª e 3ª divisões. Sobre isso já falei em uma
postagem anterior. Em alguns casos o clube e seu jurídico não agiram de forma
correta. E o Fluminense errou brutalmente por não ter caído à 2ª divisão, em
minha opinião, em 2 vezes. Como também é verdade que foi usado como bode
expiatório, e ainda é, para todo tipo de imoralidade ou benefício que acontece
no tapetão ou fora dele.
O clube teve momentos épicos, como o gol de barriga de
Renato, no centenário do seu rival, o Flamengo, que aliás, junto a ele, cabe o
registro de ter protagonizado o maior público da história de jogos interclubes
do mundo, com mais de 177 mil pagantes e cerca de 194 mil presentes, no
Maracanã, em 1963. Continuando, a última etapa de glórias, na era do presidente
Roberto Horcades, que com ajuda do patrocinador ou não, montou um time que
devolveu ao Fluminense títulos brasileiros que perdera, o recolocando no cenário
internacional novamente, chegando a final da Libertadores, que por obra do
destino e detalhes do futebol, ficaram em mãos equatorianas. Mesmo assim ainda
seguiu alguns anos como um dos melhores, senão o melhor clube do Brasil, em
termos de futebol.
Até que, explicando finalmente a expressão “moderno”,
gerações de jovens em geral, oriundas do próprio clube, aliadas a torcedores,
criaram movimentos e grupos que alçavam a bandeira da moralidade, da
modernidade, como se os títulos de 2012 e 2010, recentes ainda, tivessem sido
ganhos amadoristicamente ou ilegalmente. Enfim, querendo implantar uma nova
filosofia de trabalho, tal qual uma raça ariana, uma raça pura de tricolores, onde
só se podia aplaudir nas arquibancadas, do contrário você era um mau tricolor,
ou nem o era. Que por fim, chegando ao poder, encaminharam o clube para toda
essa modernidade, que na verdade nunca passou de uma camuflagem para esconder
equívocos, malfeitos, inexperiência e absoluta falta de identidade com o mundo
do futebol. Redundando o que vocês têm visto nos últimos 5 anos. Um time
forçando uma projeção internacional que já não tinha mais, comandado por
teóricos que vendiam e vendem inovações que não são novidade há muitos anos
para os demais clubes do futebol brasileiro e mundial. Querendo fazer crer a
sua torcida que o caminho é Xerém, berço atual de suas divisões de base.
Sim, eu concordo até certo ponto. Mas é evidente que é
impossível trabalhar da forma como estão trabalhando. Mesmo num futebol jogado
de baixíssimo nível em todo o país, o Fluminense não é vitrine de mercadorias.
A solução não é produzir, “embelezar” e vender. Quando se monta uma equipe, se
não houver a mescla necessária de experiência, inteligência e independência na
realização de diversas contratações necessárias, não serão apenas o seu
goleiro, já na reserva, e seu quarto zagueiro, que lhe darão esse tônus. Creio
que o atual treinador Abel sabe perfeitamente disso. Mas aceitou esse desafio.
Monta um time baseado na juventude, nos contra-ataques e no erro do adversário.
Procurando exercer ao máximo a ordem vigente de alta intensidade. Que traz
consequências, para quem não sabe. O departamento médico do clube que o diga.
De qualquer forma, sem Abel seria muito pior. Mesmo
acumulando resultados negativos. Não, esse não é o caminho para o Fluminense e
é uma covardia e uma inconsequência jogar essa responsabilidade em cima de
jogadores que antes de se tornarem realidade necessitam de avaliação, critérios
ao serem lançados, e, principalmente, acompanhamento de boleiros, profissionais
envolvidos e com prática específica no mundo da bola.
Parabéns, Fluminense! E que melhores dias estejam batendo
à porta do ainda clube das Laranjeiras.
Boa semana!
P.S. Não posso fechar a coluna sem um pesar pelo
falecimento de Waldir Peres, um goleiro que se destacou mais em clubes que jogou,
como o São Paulo, mas que defendeu a seleção brasileira em várias
oportunidades. E que ainda tive a honra de herdar seu nome como apelido, quando
me formei em técnico de futebol. Apelido dado carinhosamente pela turma e pelos
professores da ESEFEX.
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