domingo, 23 de julho de 2017

OS 115 ANOS DO MODERNO FLUMINENSE


Um dos clubes mais tradicionais do Brasil chega aos 115 anos. Talvez tenha estranhado a expressão “moderno” para tantos anos de existência. Eu me refiro ao Fluminense moderno de hoje, como chamam seus associados mais influentes e seus diretores e comandantes de futebol.

Tenho que me deter ao futebol, mas é óbvio que o Fluminense não é somente este esporte. Como diz seu hino, teve e tem glórias mil. Alcançou sucesso nacional e internacional em várias modalidades esportivas. Mas o clube se chama Fluminense Futebol Clube. Não me interesso pela derivação em inglês das palavras futebol e clube. O Fluminense nasceu aqui, portanto é um clube brasileiro. Não tem nenhuma obrigação de ser poliglota, a não ser em algum cargo que desconheço.

Para falar do presente e explicar a modernidade é necessário lembrar costumes e estilos do passado. O clube das Laranjeiras sempre foi, no âmbito do futebol, a que vou me ater, um clube conservador, pautado pela disciplina, que, como diz o hino, sempre o fascina. Uma organização fantástica que lhe rendeu a Taça Olímpica de 1949. O clube não formava apenas times medíocres no passado. Mas era sua marca times mais modestos que alcançavam glórias devido ao trabalho sério, organizado e de sua própria estrela. Passaram jogadores como Escurinho, Didi, Telê, Waldo, Jair Marinho, Castilho. E, em um passado distante, Batatais, Preguinho, Orlando Pingo de Ouro, entre outros. Perdoe se falta um nome aqui e ali, tão expressivo, mas é normal ao falar em 115 anos.

Tive o prazer de ser levado para o clube pelas mãos de Zezé Moreira, em 1974, para as categorias amadoras do infanto-juvenil e do juvenil, onde atuei como goleiro, mas tive de encerrar minha carreira precocemente, ainda no início, devido a problemas familiares. Deixei alguns amigos lá como Robertinho, Flávio Renato, os saudosos Pinheiro, Flavio, Dr. Haddad, José Farias, até o boníssimo João de Deus, o folclórico Biscoito, os dedicados e guerreiros Roberto Alvarenga e João “Boca de Ovo”, entre outros.

Continuei acompanhando e torcendo. Foi na minha ocasião que vi entrar as primeiras contratações, pelas mãos de Horta, que quebravam a regra de chamar o Fluminense de timinho, de ser campeão apenas com times modestamente formados. Vi entrarem Mario Sergio, Zé Mário, Rivelino, Paulo Cezar e mais tarde outros fazendo a famosa máquina tricolor. Criando depois uma seleção, do goleiro ao ponta esquerda, como se dizia, sem maiores detalhes. Era tão anormal aquela postura de Horta que me lembro bem dos rumores e críticas dos mais velhos a ela.

Bem, depois disso, ou melhor, anos mais tarde, o Fluminense caiu no inferno da 2ª e 3ª divisões. Sobre isso já falei em uma postagem anterior. Em alguns casos o clube e seu jurídico não agiram de forma correta. E o Fluminense errou brutalmente por não ter caído à 2ª divisão, em minha opinião, em 2 vezes. Como também é verdade que foi usado como bode expiatório, e ainda é, para todo tipo de imoralidade ou benefício que acontece no tapetão ou fora dele.

O clube teve momentos épicos, como o gol de barriga de Renato, no centenário do seu rival, o Flamengo, que aliás, junto a ele, cabe o registro de ter protagonizado o maior público da história de jogos interclubes do mundo, com mais de 177 mil pagantes e cerca de 194 mil presentes, no Maracanã, em 1963. Continuando, a última etapa de glórias, na era do presidente Roberto Horcades, que com ajuda do patrocinador ou não, montou um time que devolveu ao Fluminense títulos brasileiros que perdera, o recolocando no cenário internacional novamente, chegando a final da Libertadores, que por obra do destino e detalhes do futebol, ficaram em mãos equatorianas. Mesmo assim ainda seguiu alguns anos como um dos melhores, senão o melhor clube do Brasil, em termos de futebol.

Até que, explicando finalmente a expressão “moderno”, gerações de jovens em geral, oriundas do próprio clube, aliadas a torcedores, criaram movimentos e grupos que alçavam a bandeira da moralidade, da modernidade, como se os títulos de 2012 e 2010, recentes ainda, tivessem sido ganhos amadoristicamente ou ilegalmente. Enfim, querendo implantar uma nova filosofia de trabalho, tal qual uma raça ariana, uma raça pura de tricolores, onde só se podia aplaudir nas arquibancadas, do contrário você era um mau tricolor, ou nem o era. Que por fim, chegando ao poder, encaminharam o clube para toda essa modernidade, que na verdade nunca passou de uma camuflagem para esconder equívocos, malfeitos, inexperiência e absoluta falta de identidade com o mundo do futebol. Redundando o que vocês têm visto nos últimos 5 anos. Um time forçando uma projeção internacional que já não tinha mais, comandado por teóricos que vendiam e vendem inovações que não são novidade há muitos anos para os demais clubes do futebol brasileiro e mundial. Querendo fazer crer a sua torcida que o caminho é Xerém, berço atual de suas divisões de base.

Sim, eu concordo até certo ponto. Mas é evidente que é impossível trabalhar da forma como estão trabalhando. Mesmo num futebol jogado de baixíssimo nível em todo o país, o Fluminense não é vitrine de mercadorias. A solução não é produzir, “embelezar” e vender. Quando se monta uma equipe, se não houver a mescla necessária de experiência, inteligência e independência na realização de diversas contratações necessárias, não serão apenas o seu goleiro, já na reserva, e seu quarto zagueiro, que lhe darão esse tônus. Creio que o atual treinador Abel sabe perfeitamente disso. Mas aceitou esse desafio. Monta um time baseado na juventude, nos contra-ataques e no erro do adversário. Procurando exercer ao máximo a ordem vigente de alta intensidade. Que traz consequências, para quem não sabe. O departamento médico do clube que o diga.

De qualquer forma, sem Abel seria muito pior. Mesmo acumulando resultados negativos. Não, esse não é o caminho para o Fluminense e é uma covardia e uma inconsequência jogar essa responsabilidade em cima de jogadores que antes de se tornarem realidade necessitam de avaliação, critérios ao serem lançados, e, principalmente, acompanhamento de boleiros, profissionais envolvidos e com prática específica no mundo da bola.
Parabéns, Fluminense! E que melhores dias estejam batendo à porta do ainda clube das Laranjeiras.

Boa semana!

P.S. Não posso fechar a coluna sem um pesar pelo falecimento de Waldir Peres, um goleiro que se destacou mais em clubes que jogou, como o São Paulo, mas que defendeu a seleção brasileira em várias oportunidades. E que ainda tive a honra de herdar seu nome como apelido, quando me formei em técnico de futebol. Apelido dado carinhosamente pela turma e pelos professores da ESEFEX. 

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