quinta-feira, 2 de novembro de 2017

FUTEBOL DE FATO ESPECIAL: A MÍSTICA DO FLA X FLU



Como diria o “imortal” escritor, dramaturgo e tricolor nato e hereditário, Nelson Rodrigues, o Fla x Flu de ontem, 01/11/2017, estava escrito há milhares de anos. Se vivo fosse, enfrentando um Maracanã acanhado, modernizado, porém desfigurado, certamente Nelson estaria lá, torcendo para o seu tricolor. Tricolor que é meu time também, afinal, não sou filho de chocadeira. Nunca neguei meu time de coração, onde, inclusive, tive a honra de, levado pelo grande mestre, o falecido Zezé Moreira,  para treinar nas categorias de base, onde comecei uma curta carreira de jogador, interrompida com o precoce falecimento de meu pai. Naquele tempo, um amador oficialmente não tinha a grana de hoje. Muito menos chegava em carro de luxo pra treinar. Morador de Copacabana, usava o ônibus 416, normalmente escondido dos demais jogadores, para fugir de um rótulo negativo no futebol e ocultar o bairro de classe média alta em que residia. No entanto, essa breve história não impede que enxergue a realidade do futebol nua e crua como ela é.

Ontem, tive intuição que o Fluminense venceria, devido às circunstâncias do momento atual dos dois times. Percepções extracampo e da história que esse clássico traz. E no começo minha impressão foi se confirmando. Aproveitando uma sobra, Marcos Jr. tocou rápido para Lucas, que livre de marcação, bateu forte, abrindo o placar para o Flu. Ironia do destino, minutos depois, o próprio Lucas, desnecessariamente, atropela Diego no ponto x, onde o meia-armador gosta de cobrar. Bola bem colocada, jogo empatado. Segue o Fluminense um pouco diferente dos outros jogos. Com seu miolo de área jogando bem postado e com razoável segurança. Abel escolheu Douglas e Richard para a proteção da zaga, que com auxílio constante de Scarpa, detinham avanços do Flamengo. A bola alta era a jogada, que o Fluminense desde a era Abel, usa com frequência até exagerada. Valeu a insistência e num escanteio cobrado por Sornoza, Renato Chaves aproveitou a indecisão da zaga do Fla e pôs o Flu na frente novamente. Fim de primeiro tempo, com alguns momentos de arranca-rabo entre as equipes, típico de um jogo decisivo. O Flu parecia mais determinado e com mais espírito de decisão.

O início do segundo tempo seguiu o estilo do primeiro. Mais uma vez, pelo alto, numa bola parada e lenta, Renato Chaves aproveita o sono de Juan, a indecisão Rhodolfo e crava no ponto fraco do Flamengo. Flu 3 x 1 Fla. Aí, a pequena torcida tricolor, numa soma estimada por mim de no máximo 10 mil torcedores, lamentavelmente, multiplicou-se por mais 10 mil e passou a acreditar na vitória. Olhando para o jogo, o desenho dava razão a ela. O Flamengo jogava do mesmo modo e esbarrava na mesma barreira tricolor. Eis que Marcos Jr., um jogador irregular, mas numa noite de boa presença, contrapondo-se a do apagado Henrique Dourado, sente o músculo da coxa e deixa o campo. Abel opta por Romarinho. Deve ter feito a escolha devido ao estado físico limitado de Wellington Silva. Mas o Flu perde com isso. E ao mesmo tempo, Rueda toma uma decisão que já devia ter tomado. Faz entrar a jovem promessa, Vinicius Jr. Do lado do Flu, Abel erra feio, tira Sornoza, que fazia uma de suas melhores partidas e faz entrar Wendell, desmanchando a boa distribuição que encontrara até então, responsável inclusive por um Flu mais presente ofensivamente que de hábito.

A “coisa” começou a mudar, a promessa Vinicius Jr. me fez lembrar o grande Silva, ponta-de-lança Rubro-negro e da Seleção Brasileira dos anos 60, que começara a bagunçar com a arrumação da defesa tricolor. Logo cobra falta de trivela, com a ousadia e esperteza dos craques, para Everton, que num toque de calcanhar genial deixa Vizeu na cara do gol, que diminui, numa linda jogada. Já ensaiando um dia de finados, dia seguinte ao jogo, a torcida do Flamengo ressurge das cinzas, abafa a do Fluminense e em maior número, agita o Maracanã. Os minutos finais eram pura emoção. O Fluminense já tentava com menos força ofensiva, e a categoria, movimentação e o DRIBLE, arma fatal e mágica, que nasceu com o jogador brasileiro, pelos pés de Vinicius Jr., reacende a movimentação de todo o Flamengo. O Flu começa a pará-lo com faltas. Até que numa destas, nos minutos finais, Willian Arão acerta uma cabeçada talvez inédita para ele. 3 x 3. O Fla x Flu é assim. O vento hora sopra para um lado e sem razão alguma, sem o menor sinal, muda de direção. A história tem provado essa magia ao longo dos anos. Talvez tenha havido de tudo neste clássico. O Flamengo ainda teve chance de virar em mais uma jogada do “diabólico”, ensaboado e esperto Vinicius Jr., mais um craque que já é vendido pelo Flamengo. Mas Diego conclui mal e Cavalieri evita uma derrota que talvez os deuses do futebol não tivessem chegado a um consenso de que seria justa. Para eles, a simples classificação rubro-negra já era o ápice da noite.

Ao Flamengo, um ensinamento que se recusa a aprender de que o craque que eles tanto alardeiam que se faz em casa, não se vende assim tão fácil, tão simples. Ao Flu, a lição que o clube se recusa a aprender há muitos anos, de que a base de um time é a estrutura do amanhã. Mas das quatro linhas, com a camisa do clube, e não em outros países, por míseros milhões. Que o Flu também aprenda que craque também se faz em casa, mas tem de ser craque, não um projeto, não um fake. E se não o encontrar, que saiba procurá-lo e ache jogadores que fazem a diferença e não apenas somem num elenco.


Aquele abraço!

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