domingo, 22 de julho de 2018

AS LIÇÕES DA COPA 2018


Conforme prometido, falarei sobre as impressões que tive dessa Copa. Erros, acertos, novidades, enfim, um raio-x resumido. Começo atendendo o pedido de alguns leitores, escalando a minha seleção da Copa. Vamos lá:

Goleiro: Pickford (Inglaterra)
Lateral direito: Pavard (França)
Zagueiros: Kompany (Bélgica); Godin (Uruguai)
Lateral esquerdo: Laxalt (Uruguai)
Meias: Kanté (França); Modric (Croácia); Felipe Coutinho (Brasil); Griezman (França)
Atacantes: Mbappé (França); Hazard (Bélgica)

Deixo na reserva e em condições de ocupar qualquer lugar dos que escolhi acima o goleiro Courtouis, da Bélgica, o zagueiro Vida, da Croácia, o lateral esquerdo francês Hernadéz, os meias Matuidi e Pogba, da França, Cavani, do Uruguai e Perisic, da Croácia. Ok?

Sobre a Copa, uma primeira curiosidade. Em 1930, há 88 anos, na Copa vencida pelo Uruguai, três das quatro seleções semi-finalistas estavam entre as cinco que vieram a Montevidéu em uma longa viagem de navio. França, Bélgica e a Iugoslávia, que é a Croácia hoje (e mais alguns outros países).

Essa Copa veio quebrar alguns conceitos como os que o futebol brasileiro ainda usa sistematicamente em seu país. A tarefa hedionda de encarregar a um lateral ou ala, como queiram, direito ou esquerdo, de fazer uma função do antigo ponta, transitando em alta velocidade, num espaço de 50, 60 metros para servir, em bolas aéreas vagas, sem lucidez, a qualquer um que apareça e aproveite. Não vi as melhores seleções usarem deste expediente.

Uma bola aérea que se manteve na moda, com um pouco mais de discrição, foi aquela alçada em faltas diagonais de média para longa distância. Assim como a importância vital dos escanteios e o maldito agarra, agarra, empurra, empurra que é responsável pela alta quantidade de gols contra e penalidades. Este tipo de jogada virou uma espécie de garrafão do basquete. Quase sempre é faltosa, quase sempre acontece alguma irregularidade.

Como a dificuldade de chegar trabalhando a bola e criando espaços é grande para muitas equipes, seguem com esse expediente horroroso, que acaba precipitando os zagueiros e tornando os goleiros meros expectadores de um perigo que nasce da confusão generalizada nessa jogada.

Vimos a dona da casa, a Rússia, perder aquela identidade do passado onde a experiência, a marcação e o jogo duro eram a tônica. Bem que tentavam às vezes. Mas, hoje, a anfitriã tem um jogo mais amador, mais light.

Tivemos a inovação do VAR apontando irregularidades não vistas e às vezes decidindo jogos com sua interferência tecnológica. Não sou contra. Mas é preciso lembrar que para seguir com rigidez e ao pé da letra tudo que acontece em campo você paralisa um jogo por muito tempo e, ao contrário do basquetebol e do voleibol, que são jogados em espaços restritos, o futebol não permite este tipo de sequências de intervalos. Por outro lado, fica difícil aceitar ser prejudicado por erros grosseiros.

Domingo, por exemplo, a Croácia saiu da Copa reclamando da decisão do árbitro no pênalti do segundo gol francês. Esqueceu que a arbitragem seria favorável a eles nesse lance em que o juiz não viu, em campo, qualquer infração na jogada. O VAR interferiu decisivamente no resultado de ontem até certo ponto.

A organização da Copa foi positiva. As invasões são corriqueiras. Quase impossível impedi-las.

Por fim a constatação sobre Messi e Neymar, ditos dois dos maiores jogadores do mundo. Em alguns momentos é injusta a cobrança sobre Messi. Isso ficou claro. A Argentina não vai resolver seu problema de novas revelações, estrutura e comando jogando tudo em cima do astro argentino, que, por sua vez, tem dificuldades, sim, ao jogar uma Copa do Mundo. Talvez tenha sido sua despedida em Copas.

Neymar, alertei aqui em várias crônicas anteriores, principalmente quando a comissão técnica e o técnico Tite disseram que ele estaria 100% na Copa. Tite esqueceu que em futebol não há bola de cristal. Não é ciência. E que partindo da última Copa, no Brasil, a seleção brasileira necessitava, antes de mais nada, de uma boa terapia. Neymar, principalmente, devido a seus caprichos que o ridicularizaram mundo afora.

Tite montou uma equipe pragmática, baseada no sucesso do formato das eliminatórias. Mas esqueceu que iria enfrentar equipes diferentes, escolas diferentes e, mais uma vez, assim como Parreira fez em 94 com Romário, pendurava, sim, em Neymar a responsabilidade pelo desequilíbrio do jogo a favor do Brasil.

Tanto Tite, quanto Parreira, dizem que só o talento não ganha uma Copa. Por que a necessidade de frisar isso? Sem talento você não faz nada. Contundido, mal orientado e mal preparado fisicamente, também não. O futebol é um conjunto de fatores. Mas é uma grande mentira continuarem insistindo em enganar o mundo, seus países e seus torcedores dizendo que o futebol pode, sim, chegar ao título sem o talento individual.

Principalmente no caso do Brasil, onde suas raízes foram dilaceradas e menosprezadas por uma mentalidade que se intitula “moderna”, passando a ser muito bem aproveitada por outras escolas, como vocês viram nessa Copa. Viram em várias jogadas de Mbappé, Griezman, Cavani, Hazard, no lançamento magistral de Pogba, de voleio, para Mbappé, que resultou no terceiro gol francês na final. Viram domínio de bola e habilidade, e até ginga e drible, que eram marcas registradas nossas. Mas que abriram mão e a enterraram em favor do futebol força, que entre os três últimos campeões do mundo já sucumbiu faz tempo.

Vamos ao Catar, daqui a 4 anos e meio, conferir nossos progressos e defeitos, assim como os dos outros países. Vamos ver como se comportam as seleções em cidades e em um país não tradicionais no futebol mundial.

Aquele abraço!

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