Shaun Boterill (Getty Images) |
Queridos leitores, antes de tudo é um prazer escrever
após uma final de Copa do Mundo. Embora, naturalmente, meu texto não agrade os derrotados
de hoje, falo do encerramento de uma competição que é a maior desse esporte no
planeta. Meu título abrange toda a travessia da França nos gramados passando
por Just Fontaine, Platini, Zidane, até chegar ao incrível Griezman, que ao
contrário do prêmio da FIFA à Modric, o coloco, juntamente com Hazard, da Bélgica,
como os dois melhores dessa Copa. Aí, sim, seguidos por Modric e Mbappé.
Difícil escolher um goleiro. Até a falha de hoje, Lloris,
da França, fazia uma Copa impecável, junto com Courtouis, da Bélgica e
Pickford, da Inglaterra. Mesmo assim, ainda há uma fila atrás deles, seguindo
de perto, formada por grandes goleiros. Foi uma grande Copa onde houve falhas
sim, como a de hoje, mas o mundo viu goleiros muito bem treinados. Alguns de
muita estatura, sem dever nada em matéria de agilidade e flexibilidade, como
foi o caso do goleiro belga, fosse em bolas pelo alto ou no chão.
Quanto à decisão de hoje, de volta ao que falei sobre a
história, ao longo das Copas, em várias ocasiões, a França esteve bem perto do
título mundial, não o conquistando por detalhes. Na própria Copa da França, o
caminho até a final contra o Brasil foi bem mais difícil do que o da Rússia, em
2018. Evidente que não posso esquecer a campanha da Croácia, de coragem,
ofensividade, união, conjunto, garra e muito bem dirigida. A Croácia sempre foi
uma equipe sorrateira, traiçoeira.
Só deixou de levar perigo e competir em igualdade de
condições hoje quando a tecnologia, através do VAR, no segundo gol francês, deu
um pênalti num momento chave da partida que certamente o juiz não daria “a olho
nu”. Foi pênalti, não há o que discutir. O segundo gol, naquele momento, não
estava nos planos de uma Croácia que começou o jogo partindo para cima da França
e, por um bom tempo, deixando a zaga francesa confusa e às vezes parecendo
perdida, como foi o caso da própria atuação do incansável e ótimo volante
Kanté, que foi bem substituído no segundo tempo. Juntamente com Giroud foram as
figuras mais apagadas da França hoje.
A zaga francesa não conseguia parar as triangulações,
pelo lado direito de sua defesa, que às vezes envolviam até mais jogadores
croatas, em tabelas curtas, de passes medidos e precisos, que, com extrema inteligência,
chegavam à linha de fundo criando um inferno para a defesa francesa. Por boa
parte do primeiro tempo e até mesmo no segundo esse quadro aconteceu. Com raras
variações da Croácia atacando pelo lado direito.
A Croácia parecia mais perto do primeiro gol quando
Griezman, em um cruzamento venenoso, jogou no bolo e o artilheiro croata,
Mandzukic, foi infeliz no lance, marcando contra. Não demorou e a valente
Croácia, que não desistia nunca, chegou ao empate em um rebote da zaga, em um
belo chute de Perisic. Foi quando entrou o imponderável, o próprio autor do gol
croata, num instinto defensivo, cometeu o pênalti que voltou a dar a vantagem à
França. Por sorte da França o placar se manteve até o intervalo.
Veio o segundo tempo e novamente a Croácia seguiu
apertando, sem que Deschamps tivesse conseguido corrigir a marcação francesa.
Mas, Mbappé, com seu talento, juventude e categoria, aproveitou um passe do outro mundo de
Pogba em que o próprio Pogba concluiu, na jogada de Mbappé, em uma segunda
tentativa, colocando fora do alcance do goleiro Subasic. Pela primeira vez na
Copa, vi a Croácia sentir que não tinha meios e pernas para mudar o jogo. Foi
aí que Mbappé desferiu um chute colocado e praticamente sacramentou o
bicampeonato francês.
Talvez por excesso de autoconfiança e relaxamento o
goleiro francês deu um gás extra ao time croata que poderia tê-lo colocado
novamente no jogo. Mas a montanha que Croácia teria que escalar para chegar a
mais uma vitória heroica era imensa. E bastaram cinco ou dez minutos para que
ela percebesse isso, se dispersasse em campo e a França ficasse mais perto de
um placar que não ocorria em finais de Copa do Mundo (5 a 2) desde Brasil e
Suécia, em 1958. No entanto, o jogo ficou mesmo nos 4 a 2.
Parabéns à França, bicampeã do mundo, com um futebol
dinâmico, arrojado, extremamente técnico, organizado, bem estruturado e com uma
mistura de jogadores que deu a receita ideal para o excelente treinador e
campeão do mundo, em 98, como jogador, Didier Deschamps.
Sobre a Croácia, o que já havia dito antes, bravura,
muito conjunto, muito treino, ótima técnica de alguns jogadores, incluindo
Modric, e uma colocação histórica para
seu futebol e seu país em Copas do Mundo. A Croácia é vice-campeã mundial e
está de parabéns.
Sigo com uma nota sobre a partida de ontem entre Bélgica
e Inglaterra que deu a Bélgica, de excelentes jogadores, um grande goleiro e de
um dos nomes principais dessa Copa, de um futebol extremamente técnico e
habilidoso, Hazard, também a conquista de um inédito terceiro lugar em Copas do
Mundo. Seleção forte, bem treinada e não seria injustiça alguma se estivesse na
final hoje.
Já a Inglaterra parece ter perdido a receita de Wembley,
em 66. Nas últimas Copas andou até revelando alguns bons jogadores como Lineker,
Owen, Beckham, Lampard e Gerard. Foi o que a Inglaterra conseguiu apresentar de
melhor. Mas seu jogo não apareceu e não dá o ar de sua graça desde a Copa de
1970.
Vou ficando por aqui, parabenizando mais uma vez a França
e a Croácia, e prometendo, para esses dias, falar um pouco da Copa da Rússia
2018, de modo geral, em seus avanços e retrocessos.
Abraços!
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