Eu garanto que pouca coisa ou nada. Conheço há muitos
anos esta história do treinador ir a
determinado jogo de campeonato para observar esse ou aquele jogador. Ou mandar
um de seus agentes fazê-lo. O que será que ele vai ver que não tem visto pela
TV, ao vivo? Vai mirar no alvo e acertar em outros ou vai observá-lo
fisicamente mais de perto? Ou tem o dom de ver o que ninguém conseguiu perceber
ainda? Uma coisa eu tenho certeza, é uma procura vaga. Dentro das pranchetas do
treinador é a procura da opção que irá se encaixar ao seu esquema ou sistema
num teste para ficar em definitivo, dependendo de sua adaptação, ou ser
descartado.
Aí já começa o primeiro erro, alimentado pela crônica e
opinião pública que usam aquele velho refrão sem lógica: “Jogador tal já merece
uma chance na seleção, não é?”. Isto é absurdo. Seleção não é chance ou prêmio
por bom futebol. É a convocação dos melhores, onde naturalmente o jogador
sentirá, creio eu, muita alegria, e com razão, pela sua valorização
profissional, progresso vestir a camisa da seleção de seu país. Estes três
valores antigamente eram mais comuns.
De todo modo, segue a infeliz ideia, um erro capital, e
mentalidade dos treinadores que ainda escolhem jogadores para o seu esquema e não
um esquema para os seus jogadores. Nem a derrota da última Copa, onde alertei
aqui que Tite não tinha um plano B, que era justamente um esquema onde outros
nomes se adaptassem, foi suficiente. Tite seguirá do mesmo modo. No mesmo
caminho que julga certo e que a maioria também acha, dizendo que ele já deixou
um caminho pavimentado. Que caminho é esse? Como e com quem?
Ainda há um outro obstáculo complicadíssimo para este
tipo de observação. Um clube joga no domingo, no Brasil, pelo Brasileiro,
depois na quarta, pela Libertadores, às vezes fora do país, volta a jogar no
domingo, pelo Brasileiro, depois na quarta, pela Copa do Brasil, num país
gigantesco... Impossível manter a mesma performance. Nem o povo consegue acompanhar
seu time direito. Uma desorganização que visa o lucro de forma desastrada e
inconsequente. Os clubes jogam com os reservas, as lesões são frequentes, o gás
dos jogadores naturalmente sempre acaba mais cedo, além da motivação, muito
difícil de ser mantida.
Se hoje Tite foi ao Morumbi, ou algum espião seu,
assistir a São Paulo e Vasco, o que ele teria visto num jogo de péssimo nível
técnico? Nos jogos do Santos ele vai encontrar um Rodrygo como uma grande promessa,
infernizando os adversários. Nos do Flamengo, um Lincoln e um Lucas Paquetá,
este que já se destacava antes da Copa e, mais cedo ou mais tarde, deve vestir
a camisa amarela. Nos do Fluminense, o centroavante Pedro, que talvez seja mais
certa sua convocação se for negociado para algum clube do exterior. Aliás,
sobre Pedro, cabe uma observação mais ampla. O centroavante tricolor, de 21
anos, vem mostrando um maior desembaraço, muita tranquilidade dentro da área,
precisão e categoria nos arremates, além de ser um dos poucos na posição, como
Ricardo Oliveira, já em fim de carreira, que enfrenta, também, as péssimas
zagas dos times do nosso país. Talvez uma das maiores dificuldades de Tite seja
justo as zagas no futuro.
Em todo caso, apesar de ainda receber críticas de alguns
leitores em relação a Pedro, como de um torcedor amigo do Fluminense, por ter
dito que ele ainda não tinha futebol que chamasse atenção há uns 8 meses, eu
reconheço que, de fato, ele não só melhorou bastante, como evoluiu. Além de
estar sendo nitidamente bem preparado. Salvo em não terem observado ainda que
em várias vezes ele ainda cabeceia de olhos fechados. É preciso corrigir isso. Ainda
tenho um pé atrás em relação a muito “oba-oba” precipitado. E uma das razões é
a idade do jogador e a continuidade de seu avanço diante de adversários mais
fortes.
A dificuldade será, no momento, dar progressão a Pedro.
Arranque e velocidade. Porque é um jogador que, apesar de lutador e que se
movimenta muito, não tem arranque. Mas isto pode ser compensado com a
assessoria dos que jogam ao seu lado e com seu estilo físico e presença de
área. Enfim, tem de se dar tempo ao tempo. Prefiro aguardar mais um pouco para
me certificar de que seu futebol irá longe, assim como Lincoln, do Flamengo. O
que já não é o caso de Lucas Paquetá e de Vinicius Jr. Talvez até de Rodrygo e do
próprio Rodriguinho, do Corinthians, que já foi negociado para o exterior.
Enquanto isso, seguimos assistindo a um campeonato no
domingo, outro na quarta, em breve virá um amistoso da seleção, o primeiro após
a Copa, que eu acredito que trará mais melancolia do que sucesso e progresso
nas observações de Tite. Respeito o treinador Tite, seu pensamento de jogo, seu
trabalho, mas não concordo com sua visão de equipe e com sua visão do que é
melhor para o futebol brasileiro e para a seleção que dirige.
Abraços!
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