Hoje quem acompanhou o
noticiário deve ter lido muito esse “papo cabeça”. Palavras como choro,
emocional, fragilidade etc foram dissecadas. Tive dúvidas ao escolher o título
acima. Apesar de achá-lo propício, vejo por trás dele outras palavras, a meu
ver, mais esclarecedoras. O título seria: Estamos pagando o preço da falta de
liberdade? O porquê deste questionamento eu esclareço a seguir.
Desde que Felipão assumiu
várias perguntas me rondavam a cabeça: qual seria o comportamento dos novos
escolhidos, tanto da comissão técnica, quanto do elenco; quais as diferenças
entre o estilo Mano e Felipão; e a principal delas, se haveria tempo de montar
uma estrutura capaz de nos levar ao título mundial. Não tenho dúvida que na era
Mano jogamos tempo fora. E o comando, os cabeças da CBF, sabia disso, mas como
estavam envolvidos em outras “paradas”, parece que não sobrou sequer tempo para
analisar o trabalho anterior.
Vieram os dois notáveis se
juntando. Dois campeões mundiais: Felipão e Parreira. Percebi quase unanimidade
no país. O importante era mudar. Mas e o tempo? Como escrevia e escrevo: tempo,
tempo, tempo... O futebol precisa muito de tempo. Testes, diversidade de
situações, reação a determinados momentos, novidades, surpresas e por aí vai.
Passaram por cima de tudo isso, inclusive do que eu sempre dizia: esta Copa do Mundo de 2014 é um segundo capítulo de 1950. Mesmo 64 anos depois, estamos ligados ao passado. Mesmo quem não era nascido, como eu, sentiu na carne, fez e faz ideia do que aconteceu. De lá pra cá, meus comentários sempre alertavam sobre essa ligação histórica, que em algum momento isto haveria de pesar, principalmente jogando contra equipes sul americanas, pois parece que elas nos conhecem mais do que nós a elas.
Passaram por cima de tudo isso, inclusive do que eu sempre dizia: esta Copa do Mundo de 2014 é um segundo capítulo de 1950. Mesmo 64 anos depois, estamos ligados ao passado. Mesmo quem não era nascido, como eu, sentiu na carne, fez e faz ideia do que aconteceu. De lá pra cá, meus comentários sempre alertavam sobre essa ligação histórica, que em algum momento isto haveria de pesar, principalmente jogando contra equipes sul americanas, pois parece que elas nos conhecem mais do que nós a elas.
A Copa começou e o que mais
se tem visto são os jogadores com o comportamento politicamente correto, tranquilo
e amável na Granja Comary. E outro, quando descem para jogar representando o
país do futebol, com uma ansiedade e uma expectativa, além de um medo de errar,
que parecem ultrapassar a tela das TV’s. Algumas lágrimas dão impressão que
precedem um entupimento, que irão desaguar em um choro convulsivo, mesmo a
caminho do campo, antes de hino, gol de presente, gol perdido, falha etc. Onde
estaria essa falta de liberdade afinal? Ou o erro em chorar?
Bem, por mais novos que sejam
os jogadores, a maioria já disputou aí competições internacionais e decisões de
alto nível. Lembro que Pelé, com 17 anos, e Gylmar, choraram em 58. Em 62, não
me lembro. Em 70, só me recordo após a conquista em campo. A cobrança é imensa.
Pesa toneladas. Mas será que os jogadores não sabiam disso? Não foram
alertados? Preparados? Não houve tempo? Nem um tempinho pra isso? Não faltam
profissionais como psicólogos dando esse suporte a Felipão, tampouco
experiência.
Mas, nem tudo na vida
acontece como se planeja ou se imagina. Uma série de fatores, até os tais
problemas durante a apresentação envolvendo manifestações, protesto etc,
criaram um clima diferente. Então, é com vocês. Thiago Silva na TV depois do
jogo contra o México parecia dizer para ele mesmo: “quem não souber conviver
com pressão que escolha outra profissão”. Pois é, Thiago Silva, mas vocês
escolheram esta. E tem de ter consciência de que estão defendendo a camisa do
Brasil e não do PSG ou Real Madrid. A coisa é bem diferente.
Quem não conseguir controlar
os nervos diante da segunda Copa do Mundo no Brasil não tem condições de entrar
em campo. A ansiedade tira teu gás. Seca tua boca. Bloqueia teus pensamentos e
tua criatividade. O nervosismo é uma merda. Principalmente quando se cria uma
família Scolari para que dentro de um grupo nada saia dali e nada entre. Mas é
aí, Felipão! Aí tu tiras a liberdade do elenco, tchê!
É impensável em 4 partidas
dezenas de erros e falhas, tuas e dos teus comandados, uma seleção que um seja
tão afável com o erro do companheiro. Ninguém dá esporro em ninguém, ninguém
orienta ninguém, alerta ninguém, gesticula e chama aos brios ninguém. Que mais
controle você quer? Cadê a liberdade do cara para manifestar sua alegria ou seu
descontentamento? Cadê o direito do jogador de soltar um palavrão? De reclamar
com o colega ou com você da função que você escolheu? Cadê a independência pra
fingir que ouviram o que você disse e fazerem o que têm confiança dentro de
campo?
Os caras estão amarrados e
amordaçados, gente! Bons garotos. Garotos quase angelicais de tão inocentes. E
seleção brasileira não é lugar disso. Não é mosteiro, nem convento. E
comportamento não é padrão. Estabelece-se de acordo com as pessoas e as
situações. O futebol brasileiro sem liberdade, dentro ou fora de campo, ou
chora, companheiro, convulsivamente, como um passarinho preso na gaiola, ou dá
de ombros escondendo o logotipo da patrocinadora e pensando mais adiante em que
cidade da Europa irá morar.