segunda-feira, 30 de junho de 2014

A SELEÇÃO BRASILEIRA NO DIVÃ



















Hoje quem acompanhou o noticiário deve ter lido muito esse “papo cabeça”. Palavras como choro, emocional, fragilidade etc foram dissecadas. Tive dúvidas ao escolher o título acima. Apesar de achá-lo propício, vejo por trás dele outras palavras, a meu ver, mais esclarecedoras. O título seria: Estamos pagando o preço da falta de liberdade? O porquê deste questionamento eu esclareço a seguir.

Desde que Felipão assumiu várias perguntas me rondavam a cabeça: qual seria o comportamento dos novos escolhidos, tanto da comissão técnica, quanto do elenco; quais as diferenças entre o estilo Mano e Felipão; e a principal delas, se haveria tempo de montar uma estrutura capaz de nos levar ao título mundial. Não tenho dúvida que na era Mano jogamos tempo fora. E o comando, os cabeças da CBF, sabia disso, mas como estavam envolvidos em outras “paradas”, parece que não sobrou sequer tempo para analisar o trabalho anterior.

Vieram os dois notáveis se juntando. Dois campeões mundiais: Felipão e Parreira. Percebi quase unanimidade no país. O importante era mudar. Mas e o tempo? Como escrevia e escrevo: tempo, tempo, tempo... O futebol precisa muito de tempo. Testes, diversidade de situações, reação a determinados momentos, novidades, surpresas e por aí vai.

Passaram por cima de tudo isso, inclusive do que eu sempre dizia: esta Copa do Mundo de 2014 é um segundo capítulo de 1950. Mesmo 64 anos depois, estamos ligados ao passado. Mesmo quem não era nascido, como eu, sentiu na carne, fez e faz ideia do que aconteceu. De lá pra cá, meus comentários sempre alertavam sobre essa ligação histórica, que em algum momento isto haveria de pesar, principalmente jogando contra equipes sul americanas, pois parece que elas nos conhecem mais do que nós a elas.

A Copa começou e o que mais se tem visto são os jogadores com o comportamento politicamente correto, tranquilo e amável na Granja Comary. E outro, quando descem para jogar representando o país do futebol, com uma ansiedade e uma expectativa, além de um medo de errar, que parecem ultrapassar a tela das TV’s. Algumas lágrimas dão impressão que precedem um entupimento, que irão desaguar em um choro convulsivo, mesmo a caminho do campo, antes de hino, gol de presente, gol perdido, falha etc. Onde estaria essa falta de liberdade afinal? Ou o erro em chorar?

Bem, por mais novos que sejam os jogadores, a maioria já disputou aí competições internacionais e decisões de alto nível. Lembro que Pelé, com 17 anos, e Gylmar, choraram em 58. Em 62, não me lembro. Em 70, só me recordo após a conquista em campo. A cobrança é imensa. Pesa toneladas. Mas será que os jogadores não sabiam disso? Não foram alertados? Preparados? Não houve tempo? Nem um tempinho pra isso? Não faltam profissionais como psicólogos dando esse suporte a Felipão, tampouco experiência.

Mas, nem tudo na vida acontece como se planeja ou se imagina. Uma série de fatores, até os tais problemas durante a apresentação envolvendo manifestações, protesto etc, criaram um clima diferente. Então, é com vocês. Thiago Silva na TV depois do jogo contra o México parecia dizer para ele mesmo: “quem não souber conviver com pressão que escolha outra profissão”. Pois é, Thiago Silva, mas vocês escolheram esta. E tem de ter consciência de que estão defendendo a camisa do Brasil e não do PSG ou Real Madrid. A coisa é bem diferente.

Quem não conseguir controlar os nervos diante da segunda Copa do Mundo no Brasil não tem condições de entrar em campo. A ansiedade tira teu gás. Seca tua boca. Bloqueia teus pensamentos e tua criatividade. O nervosismo é uma merda. Principalmente quando se cria uma família Scolari para que dentro de um grupo nada saia dali e nada entre. Mas é aí, Felipão! Aí tu tiras a liberdade do elenco, tchê!

É impensável em 4 partidas dezenas de erros e falhas, tuas e dos teus comandados, uma seleção que um seja tão afável com o erro do companheiro. Ninguém dá esporro em ninguém, ninguém orienta ninguém, alerta ninguém, gesticula e chama aos brios ninguém. Que mais controle você quer? Cadê a liberdade do cara para manifestar sua alegria ou seu descontentamento? Cadê o direito do jogador de soltar um palavrão? De reclamar com o colega ou com você da função que você escolheu? Cadê a independência pra fingir que ouviram o que você disse e fazerem o que têm confiança dentro de campo?

Os caras estão amarrados e amordaçados, gente! Bons garotos. Garotos quase angelicais de tão inocentes. E seleção brasileira não é lugar disso. Não é mosteiro, nem convento. E comportamento não é padrão. Estabelece-se de acordo com as pessoas e as situações. O futebol brasileiro sem liberdade, dentro ou fora de campo, ou chora, companheiro, convulsivamente, como um passarinho preso na gaiola, ou dá de ombros escondendo o logotipo da patrocinadora e pensando mais adiante em que cidade da Europa irá morar.

Fechando esse imenso texto, não teve jeito, a coisa é complexa, a esta altura só vejo uma saída. Na verdade gostaria que o treinador da Argentina ou da Colômbia dissesse que vai enfrentar a seleção dos “maricas” do Brasil. Talvez isso resolvesse. Talvez algo assim ou coisa parecida possa transformar essa ansiedade desmedida em garra e firmeza, dando lugar à confiança e a independência de poder jogar o verdadeiro futebol brasileiro. O futebol do esporro de Didi em Garrincha, da bronca de Gerson em Pelé, da vitória de Dunga como capitão e campeão, do troféu erguido pelas mãos do simples Cafu e por aí a fora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário