Essa semana, tentando achar novidades em termos de
futebol, me deparei com uma reportagem sobre as categorias de base do
Palmeiras. Como tinha o vídeo, aproveitei e o assisti também. Tratava-se de uma
cartilha para as divisões de base. A reportagem anunciava a contratação para a
coordenação da base do Palmeiras, de João Paulo Sampaio, engenheiro de
profissão, radicado ao Vitória da Bahia e criador da tal cartilha.
Paguei caro pela minha curiosidade. A matéria promovia o
tal manual, com o entusiasmo jornalístico necessário, como uma grande inovação.
Uma bola dentro no mundo do futebol. Em seu conteúdo, logo de cara, goleiros
como Julio Cesar, Casillas e Taffarel não teriam vez. Pois goleiro só a partir
de 1,86m de altura. Mais adiante, consta na cartilha, entre os mandamentos, a
ideia da participação de um lateral, por exemplo, ou um zagueiro, em outras
funções que não as de origem.
A matéria diz também que ele, João Paulo Sampaio, foi o
responsável pelo lançamento de David Luiz e Hulk. Dados como casos perdidos,
David Luiz, muito magrinho, jogando de volante no Vitória, foi deslocado por
ele para a zaga. E Hulk, então um lateral esquerdo, ele o ressuscitou o
trazendo para o meio e depois para o ataque. A reportagem cita ainda o atual
treinador do sub-15 do Palmeiras, um rapaz de não mais que 25 anos de idade,
dando seu testemunho favorável ao manual e seu emprego imediato.
Minha torcida é para que o Palmeiras descubra o quanto
antes que entrou num papo furado. Embora eu saiba que não somente ele, mas
outros clubes brasileiros também sigam esses princípios. Tudo que o futebol
brasileiro precisa se livrar o quanto antes é disso. São de teóricos “construtores
de jogador”, que insistem em ensinar futebol através de livros.
Explicando mais profundamente: não será nunca através de
livros, salas de aulas ou tablets que recuperaremos nosso verdadeiro futebol.
Precisamos de prática, experiência, respeito à história do futebol, à suas
raízes e uma adaptação da nova dinâmica de jogo a elas. Só. Deixar o jogador
jogar. Deixar o menino se desenvolver. Jogador atuando fora de sua posição não
é novidade nenhuma há muito tempo. Goleiro à metro é fechar os olhos pra
possibilidade de um goleiro como Taffarel, de 1,82m, ou até com menos altura,
surgir com qualidades excepcionais que justifiquem sua escolha e permanência.
As cartilhas só fazem travar o jogador. Travar a
inspiração, a liberdade e o desenvolvimento técnico natural de cada um. O
futebol que um menino apresenta num momento, daqui a um ano, pode ser outro
completamente diferente. De quem você mais espera, pode haver um retrocesso. E
outros que você não apostava tanto te surpreendem. Suas reações modificam muito
rápido. Existem várias condições na adolescência. Vários limites individuais que não podem ser rompidos e violados. E essas cartilhas e padrões engessam o
processo de amadurecimento natural de cada jogador.
Querem soldadinhos de chumbo. Querem aparecer mais que os
jogadores. Os erros têm tempo e seus momentos para serem corrigidos. E o
processo de aperfeiçoamento do jogador caminha junto ao seu amadurecimento como
ser humano. É preciso deixar reações como emoções excessivas ou escassas
fluírem naturalmente. Do contrário, ao suprimi-las, seu jogador vai te
surpreender lá na frente com comportamentos estranhos que você não esperava
dele. Em momentos delicados e decisivos no futebol.
Parabenizo a ele por ter conseguido colocar David Luiz e
Hulk no futebol. Mesmo achando que no caso de David Luiz e Hulk ele errou feio.
David Luiz tem muito mais eficácia como volante, meia defensivo, do que como
zagueiro. E ele fez o oposto. E Hulk, não tinha pensado nisso, quem sabe numa
lateral esquerda não teria sido menos decepcionante do que é? É apenas um
jogador de futebol força. Já David Luiz tem alguns recursos.
Portanto, meu amigo, se o seu time está inserido nas
cartilhas, peça a Deus que interceda e que ele pare de tentar se enganar com
novidades que não acrescentam em nada. Pelo contrário. Tiram a liberdade e
atrapalham a visão para sentir, perceber detalhes, qualidades e defeitos que
normalmente virão à tona no dia a dia da formação dos jogadores das categorias
de base através da observação e do ensino prático do treinador, aperfeiçoando e
corrigindo fundamentos em seus tempos e etapas.
Libertem o futebol brasileiro e verão o futebol
brasileiro.
PARABÉNS PELO ARTIGO.
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