Se você escolheu um dos dois lados, não os agregando, já
sai perdendo, meu amigo. Um não sobrevive sem o outro. Mas, o momento é
insólito. Os times que jogam o futebol força são a maioria esmagadora, pela
falta de opção técnica. E estão vencendo. Na correria, na força bruta, de
qualquer jeito.
Somente em raros casos, na hora daquele velho ditado “da
onça beber água”, é que o time mais técnico sai vitorioso. Se eu estivesse
errado, as duas últimas Copas do Mundo, somando quase 10 anos de futebol
seguidos, não teriam sido ganhas por Espanha e Alemanha. Ambas jogando um
futebol de toque de bola e a maior técnica possível. Se essas duas escolas
tivessem mais técnica em suas raízes, teriam vencido as Copas de 2010 e 2014
com maior facilidade.
O jogo contra o Brasil não serve de parâmetro. A história
há de contar ainda o que ocorreu naquele dia e os responsáveis dentro e fora de
campo por tudo que aconteceu. Eu tenho certeza disso. Tenho certeza que aquele
jogo não foi um puro e simples desastre de uma partida de futebol. De qualquer
forma, estão aí as equipes do Barcelona, do Real Madrid, a seleção da Colômbia
e da Argentina e, em raros momentos, a própria seleção brasileira, que quando
joga um futebol predominantemente técnico, sai vitoriosa.
Isso não justifica ler comentários como os que vi essa
semana de torcedores dizendo a mesma cantilena doentia que até nomes
expressivos do futebol reproduzem: que o futebol do passado não conseguiria
jogar hoje em dia. Só se ele não quisesse, por vergonha do que vê. Jogaria e massacraria
os que estão em campo hoje em dia. Ler frases como “o campo hoje se reduziu
1000 metros quadrados”... Deus nos livre!
A própria tecnologia mostra como em 90% de uma partida o
campo é mal ocupado. Não há distribuição correta dos jogadores e isso explica
porque em alguns jogos parecem ter mais jogadores em campo e em outros menos.
Não há como debater com quem pensa que a velocidade e a força física detêm a
técnica e a qualidade. Até porque, como disse antes, elas podem e devem se
encaixar. Mas dificilmente logram êxito em separado. Ou seja, se você for fazer
puro espetáculo e acrobacias etc e tal, corre o risco de ser derrotado, tanto
hoje, como há 50 anos. A mesma coisa ocorre quando sai correndo, atropelando os
jogadores e tentando decidir tudo de qualquer maneira, na força física e na
velocidade.
Cabe o registro dos maiores gênios do futebol mundial que
se encontraram essa semana: Pelé e Maradona. Vazou o áudio de uma pergunta de
Pelé a Maradona. Pelé perguntou ao argentino, que treinou e conviveu com Messi:
- Como é Messi? O que há com Messi? Sem titubear, o craque argentino disse de
imediato: - Falta personalidade a ele. Essa visão de Maradona e a pergunta de
Pelé são atuais hoje e daqui a 100 anos. Pois Messi parece mostrar justamente
algum problema do tipo. E não adianta dizer que ele é lento. Longe de ser
lento. Ele combina as duas valências que citei acima. Mas carrega, sim,
aparentemente, o problema citado por Maradona. Vide seus jogos pelo Barcelona e
pela seleção.
O futebol força, que teve seu ápice nos anos 60, já
deixou de ser modelo há muito tempo. Tem predominado novamente nos times, pelo
que disse acima, pela falta de opções. E mais uma vez, jamais vou me cansar
disso, acuso os superpoderes dos empresários do mundo da bola. Eles não
estragaram o futebol só dentro de campo ao forçarem a entrada de jogadores sem
a menor qualificação técnica. Eles intercederam tragicamente nos clubes também,
em suas gestões e escolhas de profissionais ao influírem no comando. Os
descobridores de talento no futebol brasileiro e mundial raramente entendem de
futebol, logo, não têm condições de escolher e separar os melhores e os futuros
craques e aspirantes a craques.
Sempre penso na quantidade de jogadores que são
dispensados nos clubes por esses oportunistas talhados para profissões
totalmente distintas do futebol. Aí eu incluo também os treinadores. Quando não
são escolhidos pelos próprios dirigentes, desqualificados para isso, o são
pelos empresários. Aquele “show” que você vê na área técnica e a hipervalorização
de alguns técnicos no mundo são fantasiosos. Já disse que poucos ouvem dentro
do gramado os estardalhaços do treinador. E mesmo que ouvissem, pouco ou nenhum
resultado trariam para suas equipes. O objetivo deles, treinadores, na maioria
das vezes, são as câmeras, o foco, as luzes. Normalmente quem menos aparece,
mais trabalha. Até porque, sabe que dado o pontapé inicial, ele está
praticamente por conta dos 11 que escalou.
Então não percam tempo com discussões improdutivas sobre
de que forma você deve jogar. Em cada arrancada de Neymar, Messi e Cristiano
Ronaldo, há força, potência, resistência, mas, principalmente, técnica, muita
técnica. Já, em cada arrancada de Hulk, Benzema e até um David Luiz vindo de
trás, você tem todos os ingredientes da força, mas a maioria das vezes não
obtém sucesso no final da jogada justo porque lhes falta algo mais. E o algo
mais se chama técnica.
Messi ainda é o maior jogador do mundo na atualidade.
Seguido por Di Maria, Cristiano Ronaldo, Iniesta e o próprio Neymar. Salvo
Cristiano Ronaldo, todos com menos de 1,80m e sem músculos avantajados. E são
nestes onde os grandes clubes investem milhões e ainda conseguem montar times
de grande qualidade técnica, coletivamente falando.
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