domingo, 12 de junho de 2016

FORÇA X TÉCNICA


















Se você escolheu um dos dois lados, não os agregando, já sai perdendo, meu amigo. Um não sobrevive sem o outro. Mas, o momento é insólito. Os times que jogam o futebol força são a maioria esmagadora, pela falta de opção técnica. E estão vencendo. Na correria, na força bruta, de qualquer jeito.

Somente em raros casos, na hora daquele velho ditado “da onça beber água”, é que o time mais técnico sai vitorioso. Se eu estivesse errado, as duas últimas Copas do Mundo, somando quase 10 anos de futebol seguidos, não teriam sido ganhas por Espanha e Alemanha. Ambas jogando um futebol de toque de bola e a maior técnica possível. Se essas duas escolas tivessem mais técnica em suas raízes, teriam vencido as Copas de 2010 e 2014 com maior facilidade.

O jogo contra o Brasil não serve de parâmetro. A história há de contar ainda o que ocorreu naquele dia e os responsáveis dentro e fora de campo por tudo que aconteceu. Eu tenho certeza disso. Tenho certeza que aquele jogo não foi um puro e simples desastre de uma partida de futebol. De qualquer forma, estão aí as equipes do Barcelona, do Real Madrid, a seleção da Colômbia e da Argentina e, em raros momentos, a própria seleção brasileira, que quando joga um futebol predominantemente técnico, sai vitoriosa.

Isso não justifica ler comentários como os que vi essa semana de torcedores dizendo a mesma cantilena doentia que até nomes expressivos do futebol reproduzem: que o futebol do passado não conseguiria jogar hoje em dia. Só se ele não quisesse, por vergonha do que vê. Jogaria e massacraria os que estão em campo hoje em dia. Ler frases como “o campo hoje se reduziu 1000 metros quadrados”... Deus nos livre!

A própria tecnologia mostra como em 90% de uma partida o campo é mal ocupado. Não há distribuição correta dos jogadores e isso explica porque em alguns jogos parecem ter mais jogadores em campo e em outros menos. Não há como debater com quem pensa que a velocidade e a força física detêm a técnica e a qualidade. Até porque, como disse antes, elas podem e devem se encaixar. Mas dificilmente logram êxito em separado. Ou seja, se você for fazer puro espetáculo e acrobacias etc e tal, corre o risco de ser derrotado, tanto hoje, como há 50 anos. A mesma coisa ocorre quando sai correndo, atropelando os jogadores e tentando decidir tudo de qualquer maneira, na força física e na velocidade.

Cabe o registro dos maiores gênios do futebol mundial que se encontraram essa semana: Pelé e Maradona. Vazou o áudio de uma pergunta de Pelé a Maradona. Pelé perguntou ao argentino, que treinou e conviveu com Messi: - Como é Messi? O que há com Messi? Sem titubear, o craque argentino disse de imediato: - Falta personalidade a ele. Essa visão de Maradona e a pergunta de Pelé são atuais hoje e daqui a 100 anos. Pois Messi parece mostrar justamente algum problema do tipo. E não adianta dizer que ele é lento. Longe de ser lento. Ele combina as duas valências que citei acima. Mas carrega, sim, aparentemente, o problema citado por Maradona. Vide seus jogos pelo Barcelona e pela seleção.

O futebol força, que teve seu ápice nos anos 60, já deixou de ser modelo há muito tempo. Tem predominado novamente nos times, pelo que disse acima, pela falta de opções. E mais uma vez, jamais vou me cansar disso, acuso os superpoderes dos empresários do mundo da bola. Eles não estragaram o futebol só dentro de campo ao forçarem a entrada de jogadores sem a menor qualificação técnica. Eles intercederam tragicamente nos clubes também, em suas gestões e escolhas de profissionais ao influírem no comando. Os descobridores de talento no futebol brasileiro e mundial raramente entendem de futebol, logo, não têm condições de escolher e separar os melhores e os futuros craques e aspirantes a craques.

Sempre penso na quantidade de jogadores que são dispensados nos clubes por esses oportunistas talhados para profissões totalmente distintas do futebol. Aí eu incluo também os treinadores. Quando não são escolhidos pelos próprios dirigentes, desqualificados para isso, o são pelos empresários. Aquele “show” que você vê na área técnica e a hipervalorização de alguns técnicos no mundo são fantasiosos. Já disse que poucos ouvem dentro do gramado os estardalhaços do treinador. E mesmo que ouvissem, pouco ou nenhum resultado trariam para suas equipes. O objetivo deles, treinadores, na maioria das vezes, são as câmeras, o foco, as luzes. Normalmente quem menos aparece, mais trabalha. Até porque, sabe que dado o pontapé inicial, ele está praticamente por conta dos 11 que escalou.

Então não percam tempo com discussões improdutivas sobre de que forma você deve jogar. Em cada arrancada de Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo, há força, potência, resistência, mas, principalmente, técnica, muita técnica. Já, em cada arrancada de Hulk, Benzema e até um David Luiz vindo de trás, você tem todos os ingredientes da força, mas a maioria das vezes não obtém sucesso no final da jogada justo porque lhes falta algo mais. E o algo mais se chama técnica.

Messi ainda é o maior jogador do mundo na atualidade. Seguido por Di Maria, Cristiano Ronaldo, Iniesta e o próprio Neymar. Salvo Cristiano Ronaldo, todos com menos de 1,80m e sem músculos avantajados. E são nestes onde os grandes clubes investem milhões e ainda conseguem montar times de grande qualidade técnica, coletivamente falando.

Os empresários que atuam no Brasil são tão fracos e incapacitados, que a prova disso é que até os agentes de outros países não procuram no Brasil super-heróis do estilo Hulk e seus similares, como normalmente o fazem aqui.

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