|
A. B. EFE |
Não posso deixar de iniciar a crônica destacando o duelo
de duas das mais tradicionais escolas do futebol mundial. Cada uma jogando
dentro de sua característica própria. Poucos erros, a Alemanha mais fria, com
maior entrosamento e variações de jogadas e uma Itália mais sensível ao jogo e
mais aguerrida. Mesmo cometendo mais erros técnicos no âmbito geral.
O 1º tempo me passou uma Itália mais perigosa e
insinuante e uma Alemanha mais displicente. Mas, com o passar do tempo, a
Alemanha foi equilibrando, já fechando os últimos minutos do 1º tempo com as
equipes rigorosamente iguais.
Pelo lado da Itália, individualmente, Florenzi fazia uma
partida muito ruim, errando passes que propiciavam trocas de bolas em tabelas
curtas (hoje uma especialidade alemã), que complicavam bastante a cobertura da
zaga italiana. Naquele momento era difícil avaliar se a saída de Khedira, ainda
no 1º tempo, com a entrada do experiente Schweinsteiger, teria sido desastrosa
ou até positiva.
De qualquer forma, a Alemanha ia de pouco a pouco
ganhando terreno e empurrando a Itália para trás com essa inversão de jogo e
tabelas curtas e precisas pelo chão. Numa dessas tabelas, onde já havia algum
excesso de liberdade para Ozil, jogador que exige marcação acirrada, veio o 1º
gol alemão, apesar da força do sistema defensivo italiano, sempre uma marca registrada
em suas seleções, seguido da sensação de que um empate italiano seria muito
difícil de ser alcançado.
Já a Alemanha permitia, a meu ver num erro de Joachim
Low, ao optar por uma escolha de posicionamento equivocada em sua zaga, que a
Itália pudesse lentamente começar a chegar nas proximidades do gol alemão. A
falha consistia em deixar o pesado e fraco tecnicamente, apesar de forte
fisicamente, Boateng, jogar na sobra e comandar o sistema defensivo, dando uma
distância muito grande para o excelente Hummels, este sim que deveria fazer essa
função, e não Boateng. Hummels tem mais noção de posicionamento, cobertura e
técnica, sem perder a força de marcação. Não havia necessidade de exigir sua
participação no início das jogadas alemãs pelo lado esquerdo.
Apesar de Antonio Conte, muito agitado, demorar a
substituir e dar maior força ofensiva à Itália, Boateng resolveu colaborar infantilmente,
numa jogada típica de bloqueio de voleyball, cometeu pênalti, recolocando a
Itália no jogo e reacendendo o velho espírito romano. Daí em diante, a marcação
italiana se acertou mais ainda e o time chegou até a achar mais espaços para
tentativas ofensivas, enquanto a Alemanha mantinha seu toque preciso e frio,
triangulando a espera de um espaço para matar o jogo.
Apesar do juiz se equivocar em alguns momentos, colaborando,
sem necessidade, com o rigoroso regulamento de suspensão automática no jogo seguinte
pelo fato de dois cartões amarelos recebidos na mesma fase, que na verdade pune
a todo mundo, equipe, torcedores e futebol, não houve maiores surpresas.
Equilíbrio absoluto e penalidades máximas. A exceção até aí foi a jogada
magnífica do ataque alemão, com a conclusão de Mario Gomez e a excelente
percepção e reflexo de Buffon, salvando a Itália no tempo normal.
Nas penalidades máximas, surpresa total. Talvez nem
Itália, nem Alemanha, tenham perdido tantos pênaltis em uma disputa desse porte
na história. Começo, novamente, pegando no pé do técnico da Itália, Antonio
Conte. Apesar de claramente ter colocado Zaza, especialista em cobranças de
pênaltis, com esta finalidade no último minuto da prorrogação, que pouco comentei
sobre por ter sido monótona e protocolar, o atacante italiano acabou isolando a
bola, confirmando um erro sobre o qual me refiro há muitos anos: a insistência
em colocar para cobranças um jogador que, apesar de especialista no fundamento,
está frio.
Não há coisa pior do que ir para uma cobrança de pênaltis
frio. O jogador ainda está se adaptando, sentindo o peso da bola, a melhor
maneira de tocá-la etc. Dou sempre preferência a quem já está no calor do jogo,
mesmo cansado. Entretanto, em que pese a frieza alemã, os erros começaram.
Alguns por cansaço, outros pelo simples fato de os cobradores, alguns exímios
como Ozil, saberem que nas metas havia dois goleiros extraordinários: Neuer e
Buffon.
O equilíbrio era grande e qualquer um poderia ter fechado
com a vitória após 18 cobranças, mas um pouco mais de velocidade de Neuer
deteve a má cobrança mais vagarosa de Darmian. E a experiência de Buffon não
foi suficiente para ter a velocidade necessária na ação e deter o pênalti vitorioso
cobrado por Jonas Hector, embora também não tenha sido bem cobrado.
Passou a Alemanha para a semifinal, como poderia ter sido
a Itália, por ter demonstrado até mais vontade de seguir na competição. Aguardemos
agora a surpresa Islândia contra a França, que reputo como favorita ao título, após
a zebra ter derrubado os inventores do futebol, que nunca mais se encontraram
como tais. E Portugal e País de Gales, que surpreendem pela presença pelo fato
de Portugal ter virtudes, mas avançar meio aos trancos e barrancos, encontrando
caminhos mais fáceis e lutando muito, e por um País de Gales já confirmado como
nova força no futebol mundial e de um excelente jogador chamado Gareth Bale.
Vamos acompanhar e torcer.