domingo, 10 de julho de 2016

PORTUGAL: O BRILHO DE UMA EQUIPE


Você está surpreso? Eu não. Se o leitor ler o último parágrafo da minha última crônica, irá entender. Fiz o alerta sobre a possibilidade real de vitória da seleção portuguesa, mesmo frisando, desde o início, que a minha favorita ao título era a França. Não só por jogar em casa, mas por ter uma equipe de qualidade e muitos recursos.

Não compartilho dos que veem o sucesso português apenas como um ato de heroísmo ou uma zebra. Engana-se quem pensa assim. Conforme disse no título, Portugal tem sim uma equipe brilhante. O fato de lhe faltarem a tradição que suas concorrentes tem e em alguns setores, como meio e ataque o time ser muito dependente da eficiência de Cristiano Ronaldo, a equipe tem sim bons valores. E como disse anteriormente, muito bem treinada, com um esquema tático impecável e como destaque principal uma forte marcação, aliada a um invejável condicionamento físico de seus jogadores. E isso ficou claro hoje. Se a França é mais time, Portugal foi mais equipe.

Cabe ressaltar que há também uma mentalidade que se combina. Jogadores que não deixam a vaidade superar sua vontade de vencer. Jogadores que se ajudam dentro de campo e conseguem se manter frios, mas absolutamente focados e determinados em cada partida. E hoje, não foi diferente. Portugal iniciou o jogo com espírito de decisão. A França levava mais perigo e atacava mais? Sim. Mas não havia um domínio absoluto e o sistema defensivo português conseguia neutralizar a velocidade impressionante de um Sissoko, a habilidade e esperteza de Griezman e Payet, que esbarravam na marcação portuguesa ou nas mãos do excelente goleiro Rui Patricio, que fez uma partida impecável do primeiro ao último minuto.

Ninguém pode afirmar que a lesão inesperada de Cristiano Ronaldo, sofrida em uma entrada desnecessariamente forte de Payet, tenha determinado, ali, o começo da conquista portuguesa. Afinal, Portugal perdia seu grande astro. Na maioria das vezes em que se perde a estrela maior, você é sim prejudicado. Ocorre que Portugal, como disse, trabalhava como equipe e não demonstrou sentir a perda. Pois até os 20 minutos do 1º tempo, quando Cristiano Ronaldo deixava o campo, Portugal já mostrava uma postura correta, dentro de seu estilo de jogo: competitivo, experiente, coordenado, mesmo muito dependente ofensivamente de Cristiano Ronaldo. Quaresma o substituiu bem. Não fez nada de extraordinário, mas trabalhou muito e teve bom acerto de passes. O 1º tempo se encerrou com a impressão de que o gol francês era questão de tempo. Mesmo, eu creio os franceses sentindo que, caso ocorresse, a França venceria com dificuldades. Mesmo sem Cristiano Ronaldo do outro lado.

Decisão é sempre um jogo diferente de todos os outros. Você não pode abrir mão da técnica. Mas tem de estar determinado e imbuído do espírito de vitória. Tem de se superar. Portugal não era só Cristiano Ronaldo. Portugal era uma equipe consciente, jogando de forma inteligente e com alguns jogadores de boa qualidade, sim. Uma prova disso foi o primeiro lance de perigo no jogo, onde Nani, um dos gigantes de Portugal hoje, num lançamento magnífico de Cedric, por pouco não surpreende a França nos primeiros minutos. O próprio Raphael Guerreiro, que parecia ser o jogador mais vulnerável, junto com Fontes, entrava no ritmo dos demais e rendia acima de suas possibilidades técnicas.

Pela França, o técnico Deschamps percebia que Payet, apesar de muito habilidoso, era anulado e acertadamente fazia entrar Coman em seu lugar. A França ganhou mais força pelos lados de campo, gerando uma dor de cabeça a mais para Portugal. As jogadas de velocidade e triangulação no lado esquerdo do ataque francês atormentavam a zaga portuguesa e davam a impressão de que o gol francês não tardaria. Ali foram criadas as melhores chances da França.

Entretanto, o técnico português Fernando Santos também acertava nas substituições, reforçando o meio campo e, mais tarde, promovendo a entrada de Éder, que não é um jogador qualificado, de boa técnica, mas que sabe jogar e se posicionou no espaço que Portugal não ocupava, dando o mínimo de retenção de bola e criação ofensiva que a equipe portuguesa necessitava, travando a bola, cavando faltas, virando uma referência que Portugal não tinha no campo ofensivo. Talvez ele tenha sido o responsável pelo o que mais faltava a Portugal aquela altura.

O time que não ameaçava o goleiro Lloris, quase abre o marcador, já no tempo extra, em uma cobrança de falta de Raphael Guerreiro, que caprichosamente bateu no travessão francês. A França parecia sentir alguma preocupação com a melhora do desempenho ofensivo português e passou a diminuir a sua intensidade ofensiva também. Até que em uma dessas tentativas a luz brilhou sobre Éder, acertando um belo chute de fora da área, decretando um título inédito para a equipe portuguesa.
O restante da prorrogação foi a prova do que tenho dito aqui: uma equipe com um sistema de marcação muito bem feito e rigoroso trocando alguns passes e se superando fisicamente, mostrando que seu trabalho no âmbito geral, desde seu planejamento, seus preparadores físicos, seu treinador, que promoveu um sistema de jogo e um esquema tático adequados as características dos jogadores que possuía, foi excepcional.

Fim de jogo e Portugal entra para a galeria dos grandes vencedores da Eurocopa, com todo mérito e merecimento. Sem ter sido zebra nenhuma, como muitos, com certeza, estão achando. Parabéns ao belo trabalho e a sensacional conquista portuguesa.

Encerro com uma observação sobre esta Eurocopa. Acho que ficou mais do que definitiva a sensação de que, ao menos para a Europa, a FIFA faleceu e a UEFA, a cada dia se torna mais realidade de comando do futebol mundial para o torcedor europeu.

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