sábado, 2 de julho de 2016

ALEMANHA X ITÁLIA: UM DUELO DE TRADIÇÃO

 EFE

Não posso deixar de iniciar a crônica destacando o duelo de duas das mais tradicionais escolas do futebol mundial. Cada uma jogando dentro de sua característica própria. Poucos erros, a Alemanha mais fria, com maior entrosamento e variações de jogadas e uma Itália mais sensível ao jogo e mais aguerrida. Mesmo cometendo mais erros técnicos no âmbito geral.

O 1º tempo me passou uma Itália mais perigosa e insinuante e uma Alemanha mais displicente. Mas, com o passar do tempo, a Alemanha foi equilibrando, já fechando os últimos minutos do 1º tempo com as equipes rigorosamente iguais.

Pelo lado da Itália, individualmente, Florenzi fazia uma partida muito ruim, errando passes que propiciavam trocas de bolas em tabelas curtas (hoje uma especialidade alemã), que complicavam bastante a cobertura da zaga italiana. Naquele momento era difícil avaliar se a saída de Khedira, ainda no 1º tempo, com a entrada do experiente Schweinsteiger, teria sido desastrosa ou até positiva.

De qualquer forma, a Alemanha ia de pouco a pouco ganhando terreno e empurrando a Itália para trás com essa inversão de jogo e tabelas curtas e precisas pelo chão. Numa dessas tabelas, onde já havia algum excesso de liberdade para Ozil, jogador que exige marcação acirrada, veio o 1º gol alemão, apesar da força do sistema defensivo italiano, sempre uma marca registrada em suas seleções, seguido da sensação de que um empate italiano seria muito difícil de ser alcançado.

Já a Alemanha permitia, a meu ver num erro de Joachim Low, ao optar por uma escolha de posicionamento equivocada em sua zaga, que a Itália pudesse lentamente começar a chegar nas proximidades do gol alemão. A falha consistia em deixar o pesado e fraco tecnicamente, apesar de forte fisicamente, Boateng, jogar na sobra e comandar o sistema defensivo, dando uma distância muito grande para o excelente Hummels, este sim que deveria fazer essa função, e não Boateng. Hummels tem mais noção de posicionamento, cobertura e técnica, sem perder a força de marcação. Não havia necessidade de exigir sua participação no início das jogadas alemãs pelo lado esquerdo.

Apesar de Antonio Conte, muito agitado, demorar a substituir e dar maior força ofensiva à Itália, Boateng resolveu colaborar infantilmente, numa jogada típica de bloqueio de voleyball, cometeu pênalti, recolocando a Itália no jogo e reacendendo o velho espírito romano. Daí em diante, a marcação italiana se acertou mais ainda e o time chegou até a achar mais espaços para tentativas ofensivas, enquanto a Alemanha mantinha seu toque preciso e frio, triangulando a espera de um espaço para matar o jogo.

Apesar do juiz se equivocar em alguns momentos, colaborando, sem necessidade, com o rigoroso regulamento de suspensão automática no jogo seguinte pelo fato de dois cartões amarelos recebidos na mesma fase, que na verdade pune a todo mundo, equipe, torcedores e futebol, não houve maiores surpresas. Equilíbrio absoluto e penalidades máximas. A exceção até aí foi a jogada magnífica do ataque alemão, com a conclusão de Mario Gomez e a excelente percepção e reflexo de Buffon, salvando a Itália no tempo normal.

Nas penalidades máximas, surpresa total. Talvez nem Itália, nem Alemanha, tenham perdido tantos pênaltis em uma disputa desse porte na história. Começo, novamente, pegando no pé do técnico da Itália, Antonio Conte. Apesar de claramente ter colocado Zaza, especialista em cobranças de pênaltis, com esta finalidade no último minuto da prorrogação, que pouco comentei sobre por ter sido monótona e protocolar, o atacante italiano acabou isolando a bola, confirmando um erro sobre o qual me refiro há muitos anos: a insistência em colocar para cobranças um jogador que, apesar de especialista no fundamento, está frio.

Não há coisa pior do que ir para uma cobrança de pênaltis frio. O jogador ainda está se adaptando, sentindo o peso da bola, a melhor maneira de tocá-la etc. Dou sempre preferência a quem já está no calor do jogo, mesmo cansado. Entretanto, em que pese a frieza alemã, os erros começaram. Alguns por cansaço, outros pelo simples fato de os cobradores, alguns exímios como Ozil, saberem que nas metas havia dois goleiros extraordinários: Neuer e Buffon.

O equilíbrio era grande e qualquer um poderia ter fechado com a vitória após 18 cobranças, mas um pouco mais de velocidade de Neuer deteve a má cobrança mais vagarosa de Darmian. E a experiência de Buffon não foi suficiente para ter a velocidade necessária na ação e deter o pênalti vitorioso cobrado por Jonas Hector, embora também não tenha sido bem cobrado.

Passou a Alemanha para a semifinal, como poderia ter sido a Itália, por ter demonstrado até mais vontade de seguir na competição. Aguardemos agora a surpresa Islândia contra a França, que reputo como favorita ao título, após a zebra ter derrubado os inventores do futebol, que nunca mais se encontraram como tais. E Portugal e País de Gales, que surpreendem pela presença pelo fato de Portugal ter virtudes, mas avançar meio aos trancos e barrancos, encontrando caminhos mais fáceis e lutando muito, e por um País de Gales já confirmado como nova força no futebol mundial e de um excelente jogador chamado Gareth Bale.

Vamos acompanhar e torcer.

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