É muito difícil escrever nesse momento. É muito triste... O
Capitão do Tri, Carlos Alberto Torres, assim como outros gênios e mitos do
futebol, parecem que não morrem. Ou que nunca irão morrer.
Penso no último Domingo, no primeiro comentário no programa
“Troca de Passes”, após a rodada do Brasileirão. O apresentador quase não abriu
a resenha, repassando imediatamente a Carlos Alberto, que já começou sorrindo,
um pouco diferente das expressões dos programas anteriores, que me chamavam
atenção pela seriedade e aparente tristeza. Como conheci um pouco dele de perto
e da arquibancada, talvez fosse por aborrecimento com mais uma rodada medíocre
e a contragosto comentar o óbvio, como ele sempre dizia. O fato me levou a dizer aos meus filhos
naquele momento: “Está feliz hoje, Capitão? Que que houve?”, num tom meu de
surpresa e brincadeira. Foi taxativo, preciso e não fugiu da bola dividida
quando comentou sobre a pancadaria absurda de Flamengo x Corinthians, reclamou
do pouco número de policiais, quando seu companheiro cronista interviu dizendo
uma tolice: “Mas aí ficará mais caro, são mais gastos”. “Tira da renda, ué.
Tira da renda do jogo. Vai deixar acontecer porque não sabem de onde vão tirar
o dinheiro? Tirem da renda.”, disse o Capitão.
Carlos Alberto não era muito tolerante com tudo que fugisse
ao bom futebol. Como ele dizia em off: “Não tenho saco”. E já dizia isso
habitualmente, quando o destino me colocou algumas vezes, quando juvenil,
treinando entre os goleiros do Fluminense, de todas as categorias, com os
profissionais, como acontecia uma vez ou outra, em finalizações corriqueiras de
final de treino, para ter contato com os jogadores principais. Nessa ocasião,
já como zagueiro e não lateral do Fluminense, time de seu coração, o Capitão
não participava muito das finalizações a gol porque já fazia dupla de zaga com
Miguel e o lateral improvisado Rubens Galaxe. O treino coletivo acabava e ele normalmente
ia embora. Consagrado, já era um professor e trocava correr atrás de pontas
ariscos por uma zaga central, destilando jogadas e aulas primorosas de futebol,
que depois repetiu no Flamengo antes de ir para os Estados Unidos e depois
virar treinador. Para o capitão tudo tinha que ser simples no futebol. Ele era
pura “anti-teoria”. Eu o vi dar o bicampeonato carioca desse modo, em 1984, ao
Fluminense, já como treinador, diante do Flamengo de Zagallo.
O grande Capitão do Tri, que fez um dos gols mais
antológicos da história, fechando a Copa de 70, começou a carreira no próprio
Fluminense, indo depois atuar no Santos de Pelé, de onde seguiu para o
Botafogo, retornou ao Santos, para, ao final de 75, voltar ao clube que o revelou. Assim
como Nilton Santos, foi outra enciclopédia do Futebol Brasileiro. Há muito,
mais muito o quê falar de Carlos Alberto e o que fez no futebol e fora dele. Acho
que como comentarista, um dos seus últimos momentos de alegria foi na Copa de
2014, mas uma alegria por apresentar ao lado de Lothar Matthaüs, Passarella e
Cannavaro, o especial da Copa do Mundo no Brasil. Alegria como esportista por
estar ao lado de outras feras da bola, de outros países. Mas por dentro, com
certeza, ele estava destroçado. Não parecia por causa de seu jeito “Xerifão”, porém Carlos Alberto se continha muito. Mas, tá uma barra. Tá difícil. Eu não
estou conseguindo mais...
Vai, Capitão...Vai lá! Obrigado por alguns dos dias mais
felizes da minha vida, como o 21 de Junho de 1970.
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