O ano era 1972. De repente as ruas do Rio ficaram com muros
e postes cheios de cartazes com a manchete que escrevi acima convidando o povo
a fazer uma homenagem a Garrincha, com a renda integralmente revertida para
ele, que já se encontrava em situação de penúria. Física, psicológica e
financeira.
O povo correspondeu e encheu o Maracanã. Eu estava lá. Mal
consegui ver os lances de tanta gente a minha frente nas arquibancadas do
Maracanã. Pouco tempo depois Garrincha começou a declinar cada dia com mais
rapidez devido a suas enfermidades clínicas. Uma internação após a outra e o
esperado aconteceu. Garrincha veio a falecer aos 49 anos, em 1983.
E está morrendo até hoje, em 2017. Embora para mim, que
creio em Deus, mas não tenho religião, um túmulo não tenha valor algum, a
lembrança que está nele deve ser respeitada e notícias atuais dão conta de que
seus restos mortais sumiram de sua sepultura, em estado deplorável de
conservação. Mas, pedir respeito ao Brasil hoje? À maioria do povo brasileiro?
É inútil. Quem viu e quem não viu não está nem aí para a lembrança de Mané
Garrincha. Seu clube, Botafogo, e a instituição CBF, na ocasião CBD, muito
menos.
Que diferença faz se Mané Garrincha deu, junto a seus
companheiros, principalmente em 1962, um bicampeonato ao futebol brasileiro,
sendo um dos maiores responsáveis pelas duas estrelas das cinco que a camisa
traz no peito? Que importância tem Mané Garrincha hoje? Que importância tem a
memória do homem que levou ao delírio e alegrou milhões de brasileiros, além de
inspirar outros tantos seguidores dentro das quatro linhas? Qual a importância?
Hoje, segundo muitos, seria facilmente marcado e anulado
pelos “extraordinários” zagueiros modernos e seus esquemas “geniais”. Eu vou
mais além. Sequer selecionado em algum clube seria devido a anatomia de suas
pernas e seu corpo. Portanto, o demônio das pernas tortas para muitos é apenas
uma lenda. E seus restos mortais devem ter parado na boca de algum vira lata na
região onde viveu.
Felizmente, onde Mané estiver, ele não está nem aí para
isso. Deve sim é estar dando graças a Deus de existir longe de sociedade tão
hipócrita, nojenta e egoísta. Deve estar sim aliviado de não ter tido o azar de
jogar contra ou a favor desta geração de “craques monumentais” do futebol
brasileiro.
Perdão, Mané! Eles não sabem quem você foi. E sequer sabem
o que fazem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário