Prezados,
Tive o prazer imenso de ler estas duas crônicas do
técnico Vanderlei Luxemburgo e do craque Paulo Cezar Caju. São tão lúcidas,
visionárias e realistas, além de irem ao encontro 100% com o meu pensamento no
futebol atual que não há como não homenageá-los republicando, neste meu espaço,
pensamentos tão de acordo com o verdadeiro momento do futebol brasileiro.
Então, a vida segue no futebol…
Luxemburgo: O
experiente não está acabado. Experiência é sabedoria. Os jovens têm que
conquistar espaço. A minha briga era com Telê Santana, com Zagallo, Parreira,
Rubens Minelli, Ênio Andrade, e eu ocupei o meu espaço. Esses que estão aí não
podem ocupar espaço porque a mídia falou depois da Copa que tinha de fazer
renovação. O 7 x 1 foi um caso à parte. A renovação ocorre por competência, não
por imposição. Quero voltar e mostrar que o resultado não pode radicalizar
nada. O moderno não está no novo.
Você está atualizado?
Luxemburgo: Eu
trouxe benefícios para o futebol. Se você pegar a Globo hoje… Estamos em 2018.
Ela coloca o Caio e o Júnior lá naquele campo de futebol. Em 1993 ou 1994, eu
criei um programa de futebol. A ideia era tirar o time de botão da mesa e
colocar no computador. Foi evoluindo até ficar animado. Existe até hoje. Monto
a tática como se fosse um jogo de futebol. Eles passam isso, hoje, como se
fosse uma novidade. Como eu posso ser um cara ultrapassado se, nos anos 1990,
eu criei isso? Analista de desempenho eu já usava. Eu peguei um cara da Folha
de S. Paulo, que trabalhava com scout. Contratei pra trabalhar comigo. Tinha
equipe de filmagem, ponto eletrônico. Eu mostrava tudo o que estava acontecendo
em campo para o meu jogador no intervalo, no telão, dentro do vestiário. A
minha cabeça é de buscar novidades. As pessoas me chamarem de ultrapassado é
muito pesado e covarde.
Está mais difícil montar um
timaço?
Luxemburgo: Tirando
o Neymar, que é diferenciado, qual jogador brasileiro, hoje, dribla? Quem limpa
a frente, faz alguma jogada de efeito e mete na cara do gol? O Vinicius Júnior,
você não vê porque está no banco, não joga. As pessoas batem muito em sistema
tático, mas falta jogador.
Não há inovação tática, então…
Luxemburgo: Falam
muito em 4-2-3-1, em 4-1-4-1, isso não é moderno… Em 1970, o Brasil ganhou a
Copa no 4-2-3-1. O que o Messi fazia como falso 9 no Barcelona, o Tostão fez em
1970. Terceiro zagueiro? O Zagallo usou o Everaldo como espécie de terceiro
zagueiro para liberar o Carlos Alberto (Torres). Ele jogava com dois volantes
no 4-2-3-1: Clodoaldo e Gerson. Na linha de três, Jairzinho, Pelé e Rivellino.
Só mudaram a nomenclatura. Isso é moderno?
Mas não seria bom um
intercâmbio?
Luxemburgo: Por
que eu tenho que fazer curso na Europa? Por que a Europa não vem aprender aqui?
Não temos que imitar o futebol europeu. O que nós temos de diferente, eles não
têm, que é o drible, a mudança de direção. Jogador brasileiro precisa, sim, de
responsabilidade tática, mas sem prostituir as nossas características. Não
podemos virar times de robôs.
Gestão de vestiário é um problema?
Luxemburgo: Vamos
lá… O jogador é evangélico. Mas tenho evangélico, católico, macumbeiro… O
evangélico não gosta de palavrão. Aí, eu vou ter que dizer pra um: “c…, você
tem que marcar aqui”. E para o outro, “por favor, você tem que fazer isso
aqui”. Isso não é futebol. Ali não tem gestão de vestiário para pessoas, grupos
diferentes, é para o futebol. Ali é: “C…, vai tomar no…” Começaram a falar em
gestão de vestiário porque tem grupos com interesses.
É impossível cobrar sem xingar?
Luxemburgo: Não é
que eu seja mal-educado ou não respeite ninguém, mas o linguajar do futebol é
com palavrão. Eu não vou mudar a minha essência.
A seca de títulos brasileiros o
incomoda?
Luxemburgo: Querem
que eu ganhe título de manhã, de tarde e de noite. Um bom trabalho, hoje, é
levar um time para a Libertadores, mas eu não posso só levar um time para a
Libertadores. Tenho de ganhar títulos. Sou cobrado como incompetente, mas não é
isso. O Telê Santana foi campeão brasileiro em 1971. Voltou a ganhar em 1991,
no São Paulo. Amargou resultados ruins, tomou porrada, fizeram Telê com
orelha de burro. Sacanearam com ele. Eu e o Felipão, que trabalhamos no
exterior (Real Madrid e Chelsea), somos execrados no futebol mundial.
Você erra? Qual foi o último
erro?
Luxemburgo: Talvez,
o meu erro foi ter ido para um lugar onde iriam me cobrar o que eu não poderia
entregar. O Sport tinha estrutura para eu desenvolver a proposta? Eu queria
deixar o Sport entre os 10 melhores do país. Mas é preciso investimento. As
escolhas são os meus maiores erros.
Tite vai ganhar a Copa?
Luxemburgo: Hoje,
se eu fosse a CBF, renovaria o contrato com o Tite até 2022. Independentemente
do que vai acontecer (na Rússia). Ele é muito bom. O Brasil vai ser campeão
nesta Copa ou na próxima.
Ele foi o seu maior rival?
Luxemburgo: Não,
foi o Felipão. Porrada o tempo todinho eu e ele. Em 1995, aquele v… (risos) me
deu um chute no traseiro na semifinal da Copa do Brasil entre Flamengo e
Grêmio. Ele é meu amigo, mas é louco. Fez estágio comigo lá no Vasco. Ele é
intempestivo. Fui falar uma coisa com ele e deu naquilo.
As críticas ao Neymar são
justas?
Luxemburgo: O Pelé
foi chamado de míope, não poderia jogar uma Copa. Aqui no Brasil é assim. O
Neymar, ou ganha esta Copa para o Brasil ou a próxima. Anota e cobra. Essas
porradas que ele está tomando vão fazê-lo repensar um montão de coisa. É um
excelente menino, um baita profissional. Não é bandido. É um menino ganhando
muito dinheiro e que quer viver a vida. Treina pra caramba.
Zapeando,
por Paulo Cezar Caju.
por Paulo Cezar Caju.
O
controle remoto tem sido um grande parceiro nos últimos tempos, porque tem me
livrado de algumas roubadas. Racing x Cruzeiro foi uma dessas. Assistir ao
azulão levando de quatro não foi bom. O camisa 10 dos argentinos fez três e
comemorou com a garra típica dos hermanos. Eles jogam com alma, não há dúvida.
Dei uma zapeada e fiquei impressionado com a quantidade de
programas de culinária. Tinha um que chamava-se “Pesadelo na cozinha”. Mas
pesadelo viveu o Flamengo, que empatou com o River em casa. Parei um pouco no
canal quando o goleiro do Flamengo se explicava. Como os goleiros do Flamengo
se explicam! Os comentaristas falavam mal de Carpegiani, que mexe mal, essas
coisas. Ué, mas ele não era a salvação?
Alguém disse que o Éverton Ribeiro é a contratação mais cara da
história do Flamengo, isso é sério? Quanto custou um Sócrates, um Pet? Lembro
que um grupo de investidores se uniu para me contratar, tinham dois bancos
envolvidos e o Carlinhos Niemeyer, do “Canal 100”, e o Walter Clark, da Globo,
se mobilizaram. Deve ter dado algo em torno de US$ 1 milhão. Os tempos mudaram
e os valores, em todos os sentidos, são outros.
O Grêmio empatou com um time fraquinho. Zapeei. “Hotéis
incríveis” me prendeu um pouco, afinal sempre gostei de viajar... “Mude o seu
look” me segurou mais tempo ainda, porque sempre me vesti com extravagância. É
sério que o Gum ainda é titular da zaga do Flu?
O Santos, de Jair Ventura, empatou com o Corinthians, e na
coletiva ele disse que armou um esquema para vencer em jogadas de bola parada.
Acho ruim ouvi isso. A Globonews fala sobre intervenção. Meu Deus, o que
fizeram com a minha cidade? Intervenção deveria haver no futebol, que põe Phil
Collins no Maraca e Fla x Flu na Arena Pantanal.
Fluminense e Volta Redonda arrastaram 600 e poucos torcedores
para um jogo tenebroso. Novela, eu passo direto. O Vasco virou em cima do
Boavista. Sete gols e um jogo-granja, cheio de frangos. Zapeio.
No Sportv, começa Junior Barranquilla x Palmeiras, e no canal
Viva passa “Os Trapalhões”. Dada a truculência de Felipe Melo, escolho a poesia
de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Largo o controle no chão e não saio mais
dali.
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