quarta-feira, 7 de março de 2018

FUTEBOL DE FATO ESPECIAL: A ANÁLISE PERFEITA DE DUAS FERAS DO FUTEBOL



Prezados,

Tive o prazer imenso de ler estas duas crônicas do técnico Vanderlei Luxemburgo e do craque Paulo Cezar Caju. São tão lúcidas, visionárias e realistas, além de irem ao encontro 100% com o meu pensamento no futebol atual que não há como não homenageá-los republicando, neste meu espaço, pensamentos tão de acordo com o verdadeiro momento do futebol brasileiro.

Então, a vida segue no futebol…
Luxemburgo: O experiente não está acabado. Experiência é sabedoria. Os jovens têm que conquistar espaço. A minha briga era com Telê Santana, com Zagallo, Parreira, Rubens Minelli, Ênio Andrade, e eu ocupei o meu espaço. Esses que estão aí não podem ocupar espaço porque a mídia falou depois da Copa que tinha de fazer renovação. O 7 x 1 foi um caso à parte. A renovação ocorre por competência, não por imposição. Quero voltar e mostrar que o resultado não pode radicalizar nada. O moderno não está no novo.

Você está atualizado?
Luxemburgo: Eu trouxe benefícios para o futebol. Se você pegar a Globo hoje… Estamos em 2018. Ela coloca o Caio e o Júnior lá naquele campo de futebol. Em 1993 ou 1994, eu criei um programa de futebol. A ideia era tirar o time de botão da mesa e colocar no computador. Foi evoluindo até ficar animado. Existe até hoje. Monto a tática como se fosse um jogo de futebol. Eles passam isso, hoje, como se fosse uma novidade. Como eu posso ser um cara ultrapassado se, nos anos 1990, eu criei isso? Analista de desempenho eu já usava. Eu peguei um cara da Folha de S. Paulo, que trabalhava com scout. Contratei pra trabalhar comigo. Tinha equipe de filmagem, ponto eletrônico. Eu mostrava tudo o que estava acontecendo em campo para o meu jogador no intervalo, no telão, dentro do vestiário. A minha cabeça é de buscar novidades. As pessoas me chamarem de ultrapassado é muito pesado e covarde.

Está mais difícil montar um timaço?
Luxemburgo: Tirando o Neymar, que é diferenciado, qual jogador brasileiro, hoje, dribla? Quem limpa a frente, faz alguma jogada de efeito e mete na cara do gol? O Vinicius Júnior, você não vê porque está no banco, não joga. As pessoas batem muito em sistema tático, mas falta jogador.

Não há inovação tática, então…
Luxemburgo: Falam muito em 4-2-3-1, em 4-1-4-1, isso não é moderno… Em 1970, o Brasil ganhou a Copa no 4-2-3-1. O que o Messi fazia como falso 9 no Barcelona, o Tostão fez em 1970. Terceiro zagueiro? O Zagallo usou o Everaldo como espécie de terceiro zagueiro para liberar o Carlos Alberto (Torres). Ele jogava com dois volantes no 4-2-3-1: Clodoaldo e Gerson. Na linha de três, Jairzinho, Pelé e Rivellino. Só mudaram a nomenclatura. Isso é moderno?

Mas não seria bom um intercâmbio?
Luxemburgo: Por que eu tenho que fazer curso na Europa? Por que a Europa não vem aprender aqui? Não temos que imitar o futebol europeu. O que nós temos de diferente, eles não têm, que é o drible, a mudança de direção. Jogador brasileiro precisa, sim, de responsabilidade tática, mas sem prostituir as nossas características. Não podemos virar times de robôs.

Gestão de vestiário é um problema?
Luxemburgo: Vamos lá… O jogador é evangélico. Mas tenho evangélico, católico, macumbeiro… O evangélico não gosta de palavrão. Aí, eu vou ter que dizer pra um: “c…, você tem que marcar aqui”. E para o outro, “por favor, você tem que fazer isso aqui”. Isso não é futebol. Ali não tem gestão de vestiário para pessoas, grupos diferentes, é para o futebol. Ali é: “C…, vai tomar no…” Começaram a falar em gestão de vestiário porque tem grupos com interesses.

É impossível cobrar sem xingar?
Luxemburgo: Não é que eu seja mal-educado ou não respeite ninguém, mas o linguajar do futebol é com palavrão. Eu não vou mudar a minha essência.

A seca de títulos brasileiros o incomoda?
Luxemburgo: Querem que eu ganhe título de manhã, de tarde e de noite. Um bom trabalho, hoje, é levar um time para a Libertadores, mas eu não posso só levar um time para a Libertadores. Tenho de ganhar títulos. Sou cobrado como incompetente, mas não é isso. O Telê Santana foi campeão brasileiro em 1971. Voltou a ganhar em 1991, no São Paulo.  Amargou resultados ruins, tomou porrada, fizeram Telê com orelha de burro. Sacanearam com ele. Eu e o Felipão, que trabalhamos no exterior (Real Madrid e Chelsea), somos execrados no futebol mundial.

Você erra? Qual foi o último erro?
Luxemburgo: Talvez, o meu erro foi ter ido para um lugar onde iriam me cobrar o que eu não poderia entregar. O Sport tinha estrutura para eu desenvolver a proposta? Eu queria deixar o Sport entre os 10 melhores do país. Mas é preciso investimento. As escolhas são os meus maiores erros.

Tite vai ganhar a Copa?
Luxemburgo: Hoje, se eu fosse a CBF, renovaria o contrato com o Tite até 2022. Independentemente do que vai acontecer (na Rússia). Ele é muito bom. O Brasil vai ser campeão nesta Copa ou na próxima.

Ele foi o seu maior rival?
Luxemburgo: Não, foi o Felipão. Porrada o tempo todinho eu e ele. Em 1995, aquele v… (risos) me deu um chute no traseiro na semifinal da Copa do Brasil entre Flamengo e Grêmio. Ele é meu amigo, mas é louco. Fez estágio comigo lá no Vasco. Ele é intempestivo. Fui falar uma coisa com ele e deu naquilo.

As críticas ao Neymar são justas?
Luxemburgo: O Pelé foi chamado de míope, não poderia jogar uma Copa. Aqui no Brasil é assim. O Neymar, ou ganha esta Copa para o Brasil ou a próxima. Anota e cobra. Essas porradas que ele está tomando vão fazê-lo repensar um montão de coisa. É um excelente menino, um baita profissional. Não é bandido. É um menino ganhando muito dinheiro e que quer viver a vida. Treina pra caramba.


Zapeando,
por Paulo Cezar Caju.
O controle remoto tem sido um grande parceiro nos últimos tempos, porque tem me livrado de algumas roubadas. Racing x Cruzeiro foi uma dessas. Assistir ao azulão levando de quatro não foi bom. O camisa 10 dos argentinos fez três e comemorou com a garra típica dos hermanos. Eles jogam com alma, não há dúvida.
Dei uma zapeada e fiquei impressionado com a quantidade de programas de culinária. Tinha um que chamava-se “Pesadelo na cozinha”. Mas pesadelo viveu o Flamengo, que empatou com o River em casa. Parei um pouco no canal quando o goleiro do Flamengo se explicava. Como os goleiros do Flamengo se explicam! Os comentaristas falavam mal de Carpegiani, que mexe mal, essas coisas. Ué, mas ele não era a salvação?
Alguém disse que o Éverton Ribeiro é a contratação mais cara da história do Flamengo, isso é sério? Quanto custou um Sócrates, um Pet? Lembro que um grupo de investidores se uniu para me contratar, tinham dois bancos envolvidos e o Carlinhos Niemeyer, do “Canal 100”, e o Walter Clark, da Globo, se mobilizaram. Deve ter dado algo em torno de US$ 1 milhão. Os tempos mudaram e os valores, em todos os sentidos, são outros.
O Grêmio empatou com um time fraquinho. Zapeei. “Hotéis incríveis” me prendeu um pouco, afinal sempre gostei de viajar... “Mude o seu look” me segurou mais tempo ainda, porque sempre me vesti com extravagância. É sério que o Gum ainda é titular da zaga do Flu?
O Santos, de Jair Ventura, empatou com o Corinthians, e na coletiva ele disse que armou um esquema para vencer em jogadas de bola parada. Acho ruim ouvi isso. A Globonews fala sobre intervenção. Meu Deus, o que fizeram com a minha cidade? Intervenção deveria haver no futebol, que põe Phil Collins no Maraca e Fla x Flu na Arena Pantanal.
Fluminense e Volta Redonda arrastaram 600 e poucos torcedores para um jogo tenebroso. Novela, eu passo direto. O Vasco virou em cima do Boavista. Sete gols e um jogo-granja, cheio de frangos. Zapeio.
No Sportv, começa Junior Barranquilla x Palmeiras, e no canal Viva passa “Os Trapalhões”. Dada a truculência de Felipe Melo, escolho a poesia de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Largo o controle no chão e não saio mais dali.

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