domingo, 18 de março de 2018

POR QUE ESTÃO SUMINDO OS CRAQUES DO ESPORTE?




O leitor deve ter estranhado uma foto de basquete junto a do futebol. É que apesar da coluna tratar de futebol, achei interessante fazer um paralelo com outro esporte também famoso no mundo inteiro. Falo sobre a escassez, que não é apenas nacional, mas mundial, de novos talentos e estrelas, principalmente nos esportes coletivos. Pensamento reinante das crônicas, resenhas e outros meios de comunicação acusam questões táticas, como o avanço da marcação através da força. Primordialmente abordam que a arte está sendo desbancada e destronada pelo poder de força, tática e estratégia coletiva de impedir que ela apareça. Existe, sim, um componente de maior rigor de marcação e força. Mas aí fica a pergunta: a força avança e a arte estaciona? Cansei, ao longo dos anos, de ouvir: “não há mais espaço para o talento e para a arte em campo”. Sempre discordei e sigo discordando. A arte não precisa de espaço. Quem necessita dele é o menos dotado dela, que faz uso da força para abrir caminho. Portanto, a diminuição de espaço no esporte prejudica quem tem menos talento e não mais.

Porém, um dos dados mais importantes é o aspecto cultural e educativo. As duas fotos acima demonstram um pouco o que quero dizer, o paralelo que quero traçar. Ele passa pela mudança do perfil do atleta e do aspirante a atleta. Sua formação, instrução, os ensinamentos que aprende e a globalização que o cerca. Ou seja, independente de técnica e força, o jogador já não é mais o mesmo. Seu perfil não é mais tão profissional como alardeiam. E o curioso é que o que dita as competições hoje em dia é exatamente a moeda. Reparem a interação, até uma certa ousadia e um certo deboche desses jogadores do São Paulo em relação à torcida. Em comemoração a um gol ou não, isso não existia há décadas atrás. A atitude deles abre espaço para uma intimidade que não havia, na qual o torcedor do próprio time se sente no direito de cobrá-lo e o adversário de odiá-lo mais ainda. Não convence a ideia de que a torcida já sabe participar e está acostumada a isso. Nem todo público lida com essas brincadeiras da mesma forma. E, naturalmente, esse comportamento veio de uma exploração da mídia e do marketing no esporte.

Esta interação, por exemplo, atinge até o famoso “basketball” americano que também se vê em apuros, contando nos dedos as revelações que surgem. Padecendo também deste “mal social”, digamos assim. E olhem que nos EUA o basquete é muito mais organizado e planejado que o futebol no Brasil. Mas as quadras a céu aberto, os espaços vazios do Harlen, a miséria no mundo, a necessidade de subsistir e se colocar, tira o tempo do molequinho que faz suas artimanhas e molecagens girando no ar, arremessando de costas, como se brincasse de jogar basquete. E é daí que surgem os craques que vão se aprimorando através de repetições, conselhos, e mais repetições e aprimoramentos.

O mesmo não acontece mais aqui, a tecnologia dos celulares, headphones, da linguagem escrita e até por mímica vai substituindo a comunicação necessária ao ensinamento de base. Ninguém aprende coisa nenhuma num joguinho de celular ou de videogame. Além de ficar muito tempo preso a ele e pouco tempo agarrado a uma quadra de basquete desgastada ou um campinho careca de várzea. As peladas estão ganhando piso de grama artificial. É quase um outro jogo. A diferença é muito acentuada para quem conhece e já jogou. Finda um treino coletivo, a maioria vai para casa.
Para seus compromissos midiáticos, sociais e, em alguns casos, por questões de segurança mesmo. Não podem fazer como um Michael Jordan e o Oscar, repetindo centenas de arremessos até chegarem perto da perfeição. Não podem repetir Pelé, executando os fundamentos de seus dotes, Rivelino e Zico aparfeiçoando dezenas de vezes passes e cobranças de falta, além de repetições dos gestos específicos de um jogo de futebol ou mesmo de basquete.

Por isso, você vê com raridade um Vinicíus Jr. entrar num jogo, como contra o Emelec pela Libertadores e decidi-lo individualmente. É um dos poucos que surgiram com a raíz do nosso futebol nas veias e ainda se mantém intacto. O drible, a finta, a ginga, o passe inesperado, a malandragem, a precisão, enfim... qualidades que você não vê com tanta frequência nem no basquete e muito menos no futebol. Hoje você já começa a se acostumar com erros seguidos por falta de técnica no basquete e em outros jogos, e chutes na arquibancada, erros infantis de passes e finalizações a gol que, como dizem, folcloricamente, “este até a minha mãe fazia”. Falta arte, falta profissionalismo, falta diversão. E uma hora, por causa disso, vai acabar faltando dinheiro.

Boa semana!



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