domingo, 23 de junho de 2019

COPA DO MUNDO DE FUTEBOL FEMININO - BRASIL: ENTRE A ESPERANÇA E A REALIDADE


Antes de entrar direto no comentário sobre o jogo em que a seleção feminina foi derrotada pela França com um gol na prorrogação, destaco dois aspectos. O primeiro, a lúcida e coerente mensagem, ao final da partida, da estrela brasileira Marta, considerada nada menos que seis vezes a melhor jogadora do mundo. Outro destaque vai para o empenho quase heroico das meninas do Brasil no jogo de hoje.

Apesar de favorita, jogando em casa e com uma seleção forte e bem treinada, a França, mesmo tendo ficado com a vaga, mostrou não ser nenhum bicho papão. Mesmo dominando a partida tinha muitos defeitos de origem técnica e amadorismo. E é bom frisar que por muito pouco na prorrogação o Brasil não ficou com a vaga no toque sútil da veloz e tinhosa Debinha que o pé da zagueira francesa conseguiu salvar. Naquele momento, final de primeiro tempo da prorrogação, seria muito difícil, mesmo com toda a pressão que viria, que a França conseguisse empatar tamanha a entrega e determinação da equipe brasileira.

Entretanto, chegamos mais uma vez ao nosso limite. E também por mais uma vez pagamos o preço pelo limite da ignorância e cultura que reina no comando do futebol feminino brasileiro. Sem apoio, planejamento e organização vamos depender de jogadoras como Formiga, 41 anos, Cristiane, 34, e Marta, 33, praticamente dando adeus a uma seleção em matéria de Copa do Mundo. Será difícil contar presença de Marta e Cristiane, por exemplo, com 37, 38 anos. E, se isso acontecer, ainda estaremos no caminho errado.

Na coluna passada toquei nesse assunto amplamente e creio não ser nenhuma novidade. Se o futebol masculino está em queda livre no Brasil, principalmente no que tange a renovação de valores, imagine o feminino. O maior adversário da França hoje, apesar de repetir aqui que tem apenas um time razoável onde se destaca a goleira Bouhaddi, sua ponta direita Diani e sua atacante Gauvin, foi o coração das nossas jogadoras. Mas isso não é suficiente.

Apostar a vida inteira em abnegação, voluntariedade e raça é transferir a responsabilidade e não pensar futebol. Com um pouco de investimento nós teríamos, provavelmente, goleiras mais ágeis e bem preparadas, zagueiras mais firmes, enfim, jogadoras, aí sim, para se somarem a Marta e em uma estrutura de trabalho, onde repetindo a frase dita por ela “... Se chorasse muito antes para sorrir no final”, ter um elenco competitivo necessário para jogarmos o nosso futebol de raiz que certamente faria diferença, como fez até pouco tempo dando um pentacampeonato mundial ao futebol masculino do Brasil.

Torno a repetir que não posso julgar o trabalho do treinador. Primeiro porque não está sozinho, apesar de trabalhar sem toda a estrutura necessária, e porque não acompanhei seu percurso e  a maioria dos erros que vi são repetitivos. No futebol masculino não era fã de seu trabalho, mas, no feminino, não pude acompanha-lo melhor, justo por uns dos problemas que essa categoria enfrenta: divulgação; calendário; organização e visibilidade.

Parabéns à equipe francesa e meu reconhecimento, louvor e profundo agradecimento ao esforço e a dedicação do grupo brasileiro que na emoção e no amor por pouco não supera seus próprios limites.

Vamos em frente!

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