Antes de entrar direto no comentário sobre o jogo em que
a seleção feminina foi derrotada pela França com um gol na prorrogação, destaco
dois aspectos. O primeiro, a lúcida e coerente mensagem, ao final da partida,
da estrela brasileira Marta, considerada nada menos que seis vezes a melhor
jogadora do mundo. Outro destaque vai para o empenho quase heroico das meninas
do Brasil no jogo de hoje.
Apesar de favorita, jogando em casa e com uma seleção
forte e bem treinada, a França, mesmo tendo ficado com a vaga, mostrou não ser
nenhum bicho papão. Mesmo dominando a partida tinha muitos defeitos de origem
técnica e amadorismo. E é bom frisar que por muito pouco na prorrogação o
Brasil não ficou com a vaga no toque sútil da veloz e tinhosa Debinha que o pé da
zagueira francesa conseguiu salvar. Naquele momento, final de primeiro tempo da
prorrogação, seria muito difícil, mesmo com toda a pressão que viria, que a
França conseguisse empatar tamanha a entrega e determinação da equipe
brasileira.
Entretanto, chegamos mais uma vez ao nosso limite. E também
por mais uma vez pagamos o preço pelo limite da ignorância e cultura que reina
no comando do futebol feminino brasileiro. Sem apoio, planejamento e
organização vamos depender de jogadoras como Formiga, 41 anos, Cristiane, 34, e
Marta, 33, praticamente dando adeus a uma seleção em matéria de Copa do Mundo. Será
difícil contar presença de Marta e Cristiane, por exemplo, com 37, 38 anos. E,
se isso acontecer, ainda estaremos no caminho errado.
Na coluna passada toquei nesse assunto amplamente e creio
não ser nenhuma novidade. Se o futebol masculino está em queda livre no Brasil,
principalmente no que tange a renovação de valores, imagine o feminino. O maior
adversário da França hoje, apesar de repetir aqui que tem apenas um time
razoável onde se destaca a goleira Bouhaddi, sua ponta direita Diani e sua
atacante Gauvin, foi o coração das nossas jogadoras. Mas isso não é suficiente.
Apostar a vida inteira em abnegação, voluntariedade e
raça é transferir a responsabilidade e não pensar futebol. Com um pouco de
investimento nós teríamos, provavelmente, goleiras mais ágeis e bem preparadas,
zagueiras mais firmes, enfim, jogadoras, aí sim, para se somarem a Marta e em
uma estrutura de trabalho, onde repetindo a frase dita por ela “... Se chorasse
muito antes para sorrir no final”, ter um elenco competitivo necessário para jogarmos
o nosso futebol de raiz que certamente faria diferença, como fez até pouco
tempo dando um pentacampeonato mundial ao futebol masculino do Brasil.
Torno a repetir que não posso julgar o trabalho do
treinador. Primeiro porque não está sozinho, apesar de trabalhar sem toda a
estrutura necessária, e porque não acompanhei seu percurso e a maioria dos erros que vi são repetitivos.
No futebol masculino não era fã de seu trabalho, mas, no feminino, não pude acompanha-lo
melhor, justo por uns dos problemas que essa categoria enfrenta: divulgação;
calendário; organização e visibilidade.
Parabéns à equipe francesa e meu reconhecimento, louvor e
profundo agradecimento ao esforço e a dedicação do grupo brasileiro que na emoção
e no amor por pouco não supera seus próprios limites.
Vamos em frente!
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